São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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Esquema de suborno envolve Paulista-98
André Skamourauskas/Gazeta Esportiva
Atletas da Lusa comemoram um dos gols contra a Portuguesa Santista


Lusa investiga sua própria contabilidade para esclarecer operação que teria assegurado um resultado favorável em partida contra a Portuguesa Santista e a classificação do time à segunda fase do último Estadual MARCELO DAMATO
da Reportagem Local

Uma investigação em sua própria contabilidade está levando a Lusa a suspeitar que diretores do clube armaram uma operação de suborno no Campeonato Paulista de 1998, para assegurar a classificação do time à segunda fase.
A falcatrua supostamente incluía o pagamento de uma quantia em dinheiro para o goleiro Nasser, então na Portuguesa Santista, para que facilitasse um resultado favorável à Lusa na partida realizada no dia 1º de março, em Santos.
A Lusa precisava pelo menos de um empate para obter a vaga. A partida acabou em 4 a 4, mas, no primeiro tempo, a Lusa goleava por 4 a 0 -três dos gols saíram após os 42min. Na época, o time justificou a queda de rendimento no final à expulsão de um jogador aos 14min do segundo tempo.
Nas semifinais, a Lusa acabou eliminada pelo Corinthians em uma polêmica partida -o juiz argentino Javier Castrilli marcou dois pênaltis para os corintianos.
Já a Portuguesa Santista teve de disputar o "quadrangular da morte", que definiu os times rebaixados à segunda divisão -e se safou.
A investigação na Lusa sugere o maior escândalo no futebol brasileiro desde a "máfia da loteria", de manipulação de resultados, nos anos 70, e o "caso Ivens Mendes", de interferência nas arbitragens do Campeonato Brasileiro de 1997.
O suposto suborno entrou em papéis oficiais da Lusa em dezembro, quando foi aprovado um relatório que revelou o desvio de R$ 130 mil do caixa do clube e indicou dois supostos culpados. As suspeitas sobre o sumiço do dinheiro existiam desde maio, mas só foram investigadas no segundo semestre.
Neste ano, o assunto voltou a ser discutido no final da primeira reunião do Conselho Deliberativo do clube, na última segunda. No total, 215 pessoas participaram da reunião, mas apenas cerca de 60 estavam presentes naquele momento.
As suspeitas incluem um suposto contrato com Nasser, que nem sequer voltou a treinar no estádio do Canindé -em 1992, foi reserva no time. Nasser disse que houve um acordo, negado pelo vice-presidente de futebol da Lusa, Ilídio Lico. O goleiro vive em Goiás -defendeu o Anapolina na Série C do Brasileiro-98 e está no Itumbiara.
Os dois supostos envolvidos no desvio de dinheiro, segundo apurações da Lusa, são Camões Salazar, um dos diretores do departamento de futebol, e o empresário Toninho Silva, ex-lateral-direito que atuou no Santos nos anos 80.
Eles foram citados no relatório do Conselho de Orientação e Fiscalização, um órgão consultivo que fiscaliza todas as atividades da Lusa. O documento diz que Salazar e Silva teriam ficado com parte dos R$ 130 mil destinados ao suborno.
Depois de aprovado, o relatório foi enviado para a Comissão de Ética da Lusa, que ainda não entrou no caso. Só deve fazer isso em abril, porque ainda investiga outro escândalo no clube -a venda dos passes dos jogadores Rodrigo e Zé Roberto para o Real Madrid, que envolve o ex-presidente Manoel Pacheco e cujos contratos foram revelados pela Folha em 1997.
Com Rodrigo, a negociação desrespeitou o estatuto. Já a venda de Zé Roberto envolveu triangulação no Uruguai na qual desapareceram US$ 5,38 milhões.
O presidente da Lusa, Amílcar Casado, diz que só comentará o suposto suborno ao final das investigações. Salazar e Silva negam as acusações, e Nasser lamenta sua situação: "Fui o único prejudicado".
² LEIA MAIS sobre o caso à pág. 4-3



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