São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Dirigentes minimizam suposto suborno para evitar impactos negativos em uma fase de reafirmação do clube
Lusa tenta confinar escândalo no Canindé

da Reportagem Local

Dirigentes da Lusa estão tentando manter o escândalo do suposto suborno no Paulista-98 dentro dos limites do clube. A atitude é unânime -envolve tanto aqueles que apóiam o presidente, Amílcar Casado, como os da oposição.
A estratégia decorre de uma preocupação com as consequências do episódio para a imagem do clube, que está vivendo um momento de reafirmação.
Nos últimos quatro anos, a Lusa obteve bons resultados nos campeonatos em que participou (foi, por exemplo, vice no Brasileiro-96) e obteve uma melhora em sua situação financeira -decorrente, também, de uma política de marketing que incluiu até o abandono do antigo nome, Portuguesa de Desportos (leia texto abaixo).
O relatório da sindicância realizada pelo Conselho de Orientação e Fiscalização (COF), que apurou o desvio de R$ 130 mil do caixa do clube, foi classificado como secreto, e até mesmo os conselheiros não tiveram acesso ao documento.
O presidente da comissão, Marco Antonio Teixeira Duarte, afirmou apenas que o relatório é conclusivo, que apurou irregularidades e que indicou dois culpados, sem revelar os nomes. A Folha apurou que os citados são Camões Salazar, um dos diretores do departamento de futebol, e o empresário de futebol Toninho Silva, ex-jogador que atuou no Santos nos anos 80.
As suspeitas de suposto suborno no jogo contra a Portuguesa Santista, no empate em 4 a 4 que levou à classificação da Lusa à segunda fase do Paulista-98, envolvem ainda o vice-presidente de futebol, Ilídio Lico (veja quadro ao lado).
Segundo as investigações, Lico e Camões conseguiram a liberação de R$ 130 mil do clube para oferecer a atletas da Santista, que também concorria a uma vaga, mas dependia de uma combinação de resultados (leia texto ao lado). Silva seria o intermediário.
Mas, segundo o relatório do COF, a falcatrua não teria se concretizado -Salazar e Silva teriam se apoderado do dinheiro. O documento, por exemplo, isenta o goleiro Nasser, ex-Portuguesa Santista, de participação no episódio.
A contratação de Nasser, que Lico admite ter tentado efetivar em maio do ano passado, serviria para "comprar o silêncio" do jogador, porque as suspeitas de suborno já se espalhavam pelo Canindé. A revelação dessas suspeitas pelo jornal "A Gazeta Esportiva", ainda em maio, teria impedido a apresentação do goleiro como reforço.
Lico nega que o contrato com Nasser tenha acontecido, mas o goleiro assegura que fez um acordo (leia texto ao lado). E que, mesmo afastado da Lusa, recebeu salários do clube (R$ 12 mil por mês).
Há pontos obscuros na história, envolvendo, por exemplo, a liberação do dinheiro -que, em última instância, dependeria de um aval do presidente Amílcar Casado. Ele, por sua vez, nega até o sumiço dos R$ 130 mil. "Não houve desvio de dinheiro nenhum", afirmou.
O coro dos dirigentes da Lusa, no entanto, concentra-se apenas em minimizar o escândalo. "Isso é bobaginha, é detalhinho", afirmou o presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Alberto de Lima.
A demora nas investigações indica que o desfecho do caso ainda está longe de ser definido, segundo o próprio o presidente da Comissão de Ética, Eduardo Rosmaninho, órgão responsável pelas investigações de agora em diante.
"No mês que vem deveremos entregar o relatório sobre o Manoel Pacheco. O parecer sobre o novo caso só vai ficar pronto, no máximo, para a reunião seguinte, que será em agosto", afirmou.
Os dois escândalos envolvendo o ex-presidente da Lusa podem levá-lo à expulsão do Conselho Deliberativo, em uma decisão que contrariaria o "clima de pizza" que marcou o início da investigação.
Em 1997, quando surgiram as primeiras notícias de atos irregulares de Pacheco nas negociações dos passes de Zé Roberto e Rodrigo, o COF formou uma comissão de sindicância, cujo relatório não apontou culpa do ex-presidente.
Só depois que a Folha revelou os principais documentos das negociações, indicando que a venda de Rodrigo ao Real Madrid contrariou o estatuto, Pacheco teve de se licenciar. (MARCELO DAMATO)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.