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Goleiro fracassado vira livro no interior
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
das Regionais
A controvertida trajetória do
"anônimo" goleiro uruguaio Antonio Sandro, morto em 89, é a espinha do dorsal de um livro que reconstitui os primórdios da profissionalização do futebol do interior
de São Paulo, do início dos anos 40
até o final dos 50.
Sandro, um romântico do esporte, era, na definição do historiador
Rodolpho Telarolli, autor do livro,
uma espécie de "Heleno de Freitas" do interior.
"Isso significa dizer que Sandro
era um cavalheiro fora de campo e
um capeta dentro dele", diz o historiador, que pesquisa o tema há
cerca de 20 anos.
A obra reconstitui a passagem do
jogador, que saiu do Uruguai em
42 "com 200 réis no bolsos e o sonho de ser o maior goleiro do
mundo", por cidades do interior
paulista como Araraquara, São José do Rio Preto, São José do Rio
Pardo, Mococa, Batatais e São João
da Boa Vista.
Antes de chegar ao interior, Sandro jogou na Argentina, no Grêmio, no Coritiba, no Bonsucesso e
no São Paulo Railways (atual Nacional, de São Paulo).
"A partir dele e dos depoimentos
de outros ex-jogadores da época eu
componho um mosaico de situações do futebol no interior", diz o
historiador da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
A pesquisa resgata, por exemplo,
o mecenato exercido pelas estradas de ferro e o início do acesso dos
clubes do interior à primeira divisão, em 47. "Nos anos 40 e 50 ele
perambulou entre um clube e outro, em um "profissionalismo marrom', no qual o mecenato, o compadrio e os contratos de boca predominavam", afirma.
O historiador acredita que alguns vícios desse período ainda
atravancam a profissionalização
dos clubes. "Havia uma certa promiscuidade na doação de recursos.
Isso acabou deixando as agremiações mal-acostumadas", afirma.
Como exemplo, ele cita a Ferroviária, que recebeu forte ajuda da
Estrada de Ferro Araraquarense.
"Eles davam terreno para os
campos, mão-de-obra, dinheiro e
até torcedores", diz.
A obra mostra também como, no
final dos anos 40, surgiram as diferente divisões do futebol paulista.
Narra ainda a decadência de clubes
que foram grandes no passado e
hoje quase não conseguem sobreviver, como o Batatais.
Telarolli afirma que decidiu escrever o livro por acreditar que o
retrato de um período pode estar
na trajetória dos fracassados.
Apaixonado pela obra de Carlos
Gardel, o maior nome do tango,
Sandro teve uma carreira ponteada por brigas e belas mulheres,
mas morreu solitário e pobre.
"Em um jogo em Mococa ele foi
xingado por um torcedor. No final
da partida, não teve dúvidas, partiu para cima para acertar contas.
Só que o sujeito era o delegado da
cidade", conta Telarolli.
O livro tem 200 páginas e está
sendo negociado com editoras. Para o prefácio, o autor convidou o
jornalista Alberto Helena Júnior.
Sandro morreu em 89, como fotógrafo aposentado, em Araraquara, após encerrar a carreira em um
time que não tinha nem vestiário.
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