São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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OLIMPÍADA
Políticos querem esclarecimentos
Senado americano convoca Samaranch

da Reportagem Local

A expulsão de seis membros acusados de corrupção aparenta ter restaurado pouco da imagem do Comitê Olímpico Internacional.
Não satisfeito com a "limpeza" feita na quarta-feira, o Senado dos EUA convidou o presidente do COI, o espanhol Juan Antonio Samaranch, para prestar esclarecimentos sobre o escândalo de compra de votos da vitoriosa candidatura de Salt Lake City à sede dos Jogos de Inverno de 2002.
Liderado pelo republicano John McCain, o comitê de comércio do Senado norte-americano analisa, dia 14 de abril, relatório com as irregularidades no processo de seleção das cidades olímpicas.
Se presente, Samaranch poderá se explicar também sobre as reformas propostas na reunião geral do COI, na última semana.
O espanhol disse apenas que vai "cooperar com McCain", sem confirmar se comparece à audiência.
Seis membros da entidade, quatro africanos e dois sul-americanos, tiveram ratificada sua expulsão, por 90 de seus pares, na reunião executiva, na Suíça.
McCain, senador pelo Arizona, declarou estar preocupado com a forma com a qual Samaranch conduz as reformas no COI, pois, segundo ele, há um "claro conflito de interesses".
"Temo que a liderança do COI esteja menos preocupada com a reforma do que em preservar o poder que ostenta uma elite", afirmou McCain.
Mesmo sem citar nomes, a declaração tem como alvo o próprio Samaranch. Eleito em 1980, o espanhol, segundo relato da auditoria Price Waterhouse Coopers, apesar de não receber salário pelo cargo que ocupa, gastou em 98 US$ 204 mil apenas com moradia num dos mais caros hotéis de Lausanne.
"Nós prometemos limpar a casa. Fizemos isso. Prometemos reformas. Fizemos reformas. Prometemos o comitê unido. Isso está feito", disse Samaranch, ao final da reunião executiva. "O escândalo é passado", completou.
"Nada do que o COI fez até agora mostra um substancial movimento no sentido de reformar sua estrutura", rebateu McCain.
"Isso não é o começo da limpeza da casa. Só limparam um quarto", declarou ao jornal "The Washington Post" Ker Duberstein, um dos membros do comitê olímpico dos Estados Unidos.
A rigor, além de promessas de "transparência" e das expulsões, a única proposta apresentada na reunião foi a de mudança dos sistema de escolha das sedes.
De acordo com Samaranch, em vez dos processos atuais, que demandam meses de campanha, nos quais os membros do COI visitam as cidades candidatas, a escolha seria feita numa rodada única.
Doze pessoas, indicadas pela entidade, analisariam as propostas e, em no máximo dois dias, apontariam a proposta vencedora.
O sistema pode ser inaugurado, de forma experimental, na eleição para os Jogos de Inverno de 2006.
Quando do escândalo de Salt Lake City, que veio à tona em janeiro, houve suspeitas de que a candidatura norte-americana pagou viagens, presentes, hospedagem em hotéis caros e até serviços de prostitutas aos inspetores do COI.
"Esperamos que o senhor McCain e outros críticos vejam o que estamos fazendo. As expulsões e as propostas de reforma foram o começo, não o fim", disse a vice-presidente do COI Anita DeFrantz.
O comitê pode dentro de alguns dias se defrontar com a necessidade de julgar os atos de outro de seus membros.
Um membro australiano, Phil Coates, está sendo investigado por um comissão do próprio COI, suspeito de ter aceito US$ 6.300 em jóias para sua esposa de um representante da candidatura de Atenas. A cidade grega, derrotada na corrida para os Jogos de 96, foi "recompensada" na eleição de 97 e vai abrigar a primeira Olimpíada do próximo milênio, em 2004.
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Com agências internacionais


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