São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


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Mais exposto, futebol de SP ganha influência e expande suas rivalidades pelo Brasil
São Paulo ultrapassa o Rio em número de clones pelo país

A nova árvore genealógica do futebol brasileiro

Antônio Gaudério - 30.set.99/Folha Imagem
Jogadores do Vasco do Acre se preparam para treino da equipe


PAULO COBOS
da Reportagem Local

Se no campo a disputa entre Rio de Janeiro e São Paulo no futebol continua equilibrada, no índice de popularidade nos rincões do país a disputa está pendendo para o lado dos paulistas.
Nunca, como agora, os times de São Paulo tiveram tantos clones espalhados pelo Brasil. Já as equipes cariocas, que deram origem a dezenas de clubes até a década de 70, impulsionadas, principalmente, pela maior exposição na televisão, já não seduzem tanto na hora de dar um nome a um novo clube.
Nos Estaduais de primeira divisão que estão sendo ou serão disputados em 2000, oito clubes adotam o mesmo nome que um dos quatro "grandes" de São Paulo.
Já os quatro maiores times do Rio emprestam nome a quatro equipes pelo país.
O perfil entre clones de times paulistas e cariocas também é muito diferente.
Enquanto os times que adotaram nomes de clubes do Rio de Janeiro estão concentrados em capitais de Estado e foram fundados, na maioria dos casos, na primeira metade do século (veja quadro ao lado), os que homenagearam clubes paulistas têm origens bem diferentes.
Dois bons exemplos estão na região Centro-Oeste, em que Palmeiras e Corinthians, dois dos clubes mais milionários do país, têm clones modestos.
Em Bataguassu, no interior do Mato Grosso do Sul e perto da divisa com São Paulo, o Corinthians local disputa em 2000 o seu segundo campeonato estadual.
Com uniforme idêntico a seu homônimo paulistano, e sediado em uma cidade com cerca de 15 mil habitantes, o time faz boa campanha no Estadual do Mato Grosso do Sul -lidera um dos grupos da competição.
Fundado por um grupo de torcedores do Corinthians de São Paulo, o time de Bataguassu, que faz viagens de até 900 quilômetros de ônibus para realizar seus jogos, já sonha com o título do Campeonato Estadual e uma vaga na próxima Copa do Brasil.
Um confronto com o famoso xará também já esta nos planos da diretoria do time, formada por torcedores de outros "grandes" paulistas, como Santos, Palmeiras e São Paulo.
"Seria um sonho jogar contra o Corinthians, que é o time que eu torço", afirma José Luiz de Araújo, presidente do clube e conhecido na cidade como Mazaropi.
A migração de paulistas para o Centro-Oeste também fez com que o Palmeiras tivesse um clone na região.
Em Barra do Bugres, no Mato Grosso, o Palmeirinha, um clube amador da cidade fundado por migrantes paulistas, deu origem em 1998 à Sociedade Esportiva Palmeiras, que disputa as primeiras posições do atual Estadual do Mato Grosso.
Mesmo com o bom momento do time, a diretoria já pensa em mudar o nome do clube, que tem um uniforme idêntico ao seu homônimo paulistano.
"Na cidade existem muitos corintianos e são-paulinos. Eles não prestigiam o time por causa do nome, o que acaba atrapalhando nas arrecadações", afirma José Luís Gonçalves, vice-presidente do Palmeiras de Barra dos Bugres.
Mas não é só no Centro-Oeste, com seus migrantes paulistas, que acontece a proliferação de clones de clubes paulistas.
Até no Norte e Nordeste, regiões em que os clubes cariocas ainda despertam mais paixão, a adoção de nomes de times paulistas virou comum, permitindo até a realização de "clássicos".
No Rio Grande do Norte, por exemplo, o Campeonato Estadual-2000 pode ter, dependendo do desenrolar da competição, uma partida entre Corinthians e São Paulo, o que ainda não aconteceu no Paulista-2000.
O Corinthians potiguar, um dos times que disputam a liderança do Estadual, fica no município de Caicó, na região do Seridó, uma das mais pobres do Rio Grande do Norte.
Já o São Paulo, um dos lanternas do Estadual, tem sua sede, sem telefone, em Parnamirim, cidade da região metropolitana de Natal.
Como na história do xará paulistano, que sofreu muito para construir o estádio do Morumbi, o São Paulo potiguar, que recebeu esse nome em uma mesa de bar, sofre para erguer seu patrimônio.
Depois de receber um terreno doado pela Prefeitura de Parnamirim, a diretoria do clube conseguiu arrecadar R$ 6 mil para comprar tijolos para a construção da sede do clube.
Para desespero dos dirigentes, porém, a alegria durou pouco. Poucos dias depois de descarregados no terreno, todos os tijolos foram roubados por ladrões.
Outro "clássico paulista" na temporada 2000 dos Campeonatos Estaduais pode acontecer em um dos Estados com futebol mais incipiente no Brasil.
No Amapá, que tem hoje o presidente da sua federação, acusado de envolvimento com o narcotráfico, foragido, São Paulo e Santos começam a criar uma rivalidade como a de seus homônimos famosos paulistas.
O Santos, um dos times mais tradicionais do Estado, usa até o mesmo mascote de seu xará famoso -o peixe.


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