São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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FUTEBOL

Três é demais

FÁBIO SEIXAS
EM IMOLA

"Vá a Imola, fale de Senna." Pauta chavão, lugar-comum. Falta de imaginação.
Acredite: 12 anos depois, ninguém mais coloca flores na Tamburello e muita gente passeia pelo parque, do outro lado da curva, sem se dar conta de que ali existe uma triste estátua do tricampeão.
O processo judicial, apesar de insistências oportunistas da promotoria, está engavetado. A pista não é mais a mesma de 1994. As pessoas que poderiam dizer alguma coisa já o fizeram à exaustão.
Em suma, dá na mesma escrever sobre Senna estando em Imola, Istambul, Suzuka ou Interlagos. E jurei resistir nesta semana.
Mas há o acaso, "o maior romancista do mundo". E que, dias antes do GP de San Marino, resolveu se apoderar desta coluna. Com três movimentos seguidos.
O primeiro piscou na caixa de e-mails na Sexta-Feira Santa: um vídeo de 39 segundos de Senna antes de largar naquele 1º de maio. Nos primeiros dez segundos, já amarrado ao cockpit do Williams, ele olha para o nada. Então contrai os lábios, como que discordando de algo, e olha para a esquerda. Volta-se novamente para a direita, ensaia dizer algo a alguém, mas desiste e se cala.
Então pende a cabeça para trás, fecha os olhos e assim permanece até que, no último segundo, os abre. Logo depois, estaria morto.
Talvez não seja novidade, lembro de ter visto algo assim à época nos "JN"s da vida. Mas impressiona. Quer a prova? Busque Senna no www.video.google.com.
A outra obra do acaso veio na segunda-feira, e você já sabe qual é. E, se a primeira impressiona, esta surpreende. Porque, há dois anos, Bruno não era piloto. No GP Brasil de 2004, aliás, tentou dar algumas voltas com a Lotus do tio e não conseguiu. Ficou na Reta Oposta e precisou voltar aos boxes a pé, criando explicações.
De repente, porém, peitou a família, deixou os medos de lado e tentou a sorte atrás de um volante. Em 2005, fez temporada de aprendizado na F-3 ("Sou muito cabaço", disse, há menos de um ano) e agora partiu para o tudo ou nada. E vem dando o tudo.
Em duas provas, duas vitórias e a ponta do campeonato. Foi destaque em todos os jornais, falou a TVs e rádios. Do Brasil e de fora.
Bruno chegará à F-1? É cedo para dizer. A seu favor, uma autoconfiança enorme, o sobrenome, o apoio de Berger e a carreira nas mãos de Jakobi, o empresário do tio. Contra ele, apenas eventuais maus resultados, algo improvável neste ano, com o motorzão Mercedes que empurra um time com dinheiro -Raikkonen é o dono.
Pelos seus planos, 2007 será ano de GP2; 2008, de F-1. Bem no início do novo Pacto da Concórdia, com o anunciado aumento do número de times. Timing perfeito.
O terceiro movimento veio ontem. Aeroporto de Bolonha, balcão da locadora de carros. A atendente, uma senhora italiana, digita meus dados freneticamente até que lê meu sobrenome completo e pára, emocionada. "Silva? De São Paulo? Ai, me fez bater o coração. Ele era seu parente?"
Não, não era, respondi. E rumei para o autódromo, com a coluna pronta na cabeça. E certo de que lendas vencem quaisquer clichês.

Castelo
Mestre do marketing, a Red Bull inaugurou ontem, aqui em Imola, um motorhome ainda maior que aquele do ano passado. Tem o dobro de largura. Ontem, a festa no paddock avançou a noite. Dinheiro e empolgação não faltam. Mas esqueça o papo de Schumacher em 2007. "Mestre do marketing", lembra?

Baixaria
Na Nascar, Kurt Busch bateu em Greg Biffle, acabando com seu dia. Nicole Lunders, morena, namorada da vítima, não teve dúvidas: saiu do pit e foi desferir sopapos na loira Eva Bryan, noiva do outro. Foi contida, e tudo ficou no bate-boca. Mas o melhor foi a entrevista do dono da pista do Texas: "Nos velhos tempos, as mulheres dos pilotos viviam se estapeando. É que hoje tem a TV, e elas se controlam".


E-mail: fseixas@folhasp.com.br

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