|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Três é demais
FÁBIO SEIXAS
EM IMOLA
"Vá a Imola, fale de Senna." Pauta chavão, lugar-comum. Falta de imaginação.
Acredite: 12 anos depois, ninguém mais coloca flores na Tamburello e muita gente passeia pelo
parque, do outro lado da curva,
sem se dar conta de que ali existe
uma triste estátua do tricampeão.
O processo judicial, apesar de
insistências oportunistas da promotoria, está engavetado. A pista
não é mais a mesma de 1994. As
pessoas que poderiam dizer alguma coisa já o fizeram à exaustão.
Em suma, dá na mesma escrever sobre Senna estando em Imola, Istambul, Suzuka ou Interlagos. E jurei resistir nesta semana.
Mas há o acaso, "o maior romancista do mundo". E que, dias
antes do GP de San Marino, resolveu se apoderar desta coluna.
Com três movimentos seguidos.
O primeiro piscou na caixa de e-mails na Sexta-Feira Santa: um
vídeo de 39 segundos de Senna
antes de largar naquele 1º de
maio. Nos primeiros dez segundos, já amarrado ao cockpit do
Williams, ele olha para o nada.
Então contrai os lábios, como que
discordando de algo, e olha para
a esquerda. Volta-se novamente
para a direita, ensaia dizer algo a
alguém, mas desiste e se cala.
Então pende a cabeça para trás,
fecha os olhos e assim permanece
até que, no último segundo, os
abre. Logo depois, estaria morto.
Talvez não seja novidade, lembro de ter visto algo assim à época
nos "JN"s da vida. Mas impressiona. Quer a prova? Busque Senna
no www.video.google.com.
A outra obra do acaso veio na
segunda-feira, e você já sabe qual
é. E, se a primeira impressiona,
esta surpreende. Porque, há dois
anos, Bruno não era piloto. No
GP Brasil de 2004, aliás, tentou
dar algumas voltas com a Lotus
do tio e não conseguiu. Ficou na
Reta Oposta e precisou voltar aos
boxes a pé, criando explicações.
De repente, porém, peitou a família, deixou os medos de lado e
tentou a sorte atrás de um volante. Em 2005, fez temporada de
aprendizado na F-3 ("Sou muito
cabaço", disse, há menos de um
ano) e agora partiu para o tudo
ou nada. E vem dando o tudo.
Em duas provas, duas vitórias e
a ponta do campeonato. Foi destaque em todos os jornais, falou a
TVs e rádios. Do Brasil e de fora.
Bruno chegará à F-1? É cedo para dizer. A seu favor, uma autoconfiança enorme, o sobrenome,
o apoio de Berger e a carreira nas
mãos de Jakobi, o empresário do
tio. Contra ele, apenas eventuais
maus resultados, algo improvável
neste ano, com o motorzão Mercedes que empurra um time com
dinheiro -Raikkonen é o dono.
Pelos seus planos, 2007 será ano
de GP2; 2008, de F-1. Bem no início do novo Pacto da Concórdia,
com o anunciado aumento do
número de times. Timing perfeito.
O terceiro movimento veio ontem. Aeroporto de Bolonha, balcão da locadora de carros. A atendente, uma senhora italiana, digita meus dados freneticamente
até que lê meu sobrenome completo e pára, emocionada. "Silva?
De São Paulo? Ai, me fez bater o
coração. Ele era seu parente?"
Não, não era, respondi. E rumei
para o autódromo, com a coluna
pronta na cabeça. E certo de que
lendas vencem quaisquer clichês.
Castelo
Mestre do marketing, a Red Bull inaugurou ontem, aqui em Imola,
um motorhome ainda maior que aquele do ano passado. Tem o dobro de largura. Ontem, a festa no paddock avançou a noite. Dinheiro
e empolgação não faltam. Mas esqueça o papo de Schumacher em
2007. "Mestre do marketing", lembra?
Baixaria
Na Nascar, Kurt Busch bateu em Greg Biffle, acabando com seu dia.
Nicole Lunders, morena, namorada da vítima, não teve dúvidas: saiu
do pit e foi desferir sopapos na loira Eva Bryan, noiva do outro. Foi
contida, e tudo ficou no bate-boca. Mas o melhor foi a entrevista do
dono da pista do Texas: "Nos velhos tempos, as mulheres dos pilotos
viviam se estapeando. É que hoje tem a TV, e elas se controlam".
E-mail: fseixas@folhasp.com.br
Texto Anterior: "Igual" à elite, Série B emprega menos Próximo Texto: Futebol - Xico Sá: Que bonito é! Índice
|