São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem charme, Rio Preto pode enfim subir

Vitória hoje coloca o clube do interior, o que mais jogou a segunda divisão na história, na elite paulista pela primeira vez

Acesso tem possibilidade de ocorrer com "mês de 45 dias" no acerto salarial, estádio precário, sede abandonada e no dia do 88º aniversário


Ayrton Vignola/Folha Imagem
Jogador das categorias de base do Rio Preto, que tenta subir à elite, passa diante de alojamento

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

É uma história de persistência comovedora. Mas com um capítulo final, que pode acontecer hoje, sem nenhum glamour.
No dia em que completa 88 anos, o Rio Preto tem a chance de acabar com a mais longa espera para chegar à elite do futebol paulista (e provavelmente do futebol brasileiro).
Desde que a divisão de acesso foi criada no profissionalismo, em 1948, o time da rica São José do Rio Preto disputou a Segundona 47 vezes e a Terceirona outras nove, sem nunca ter sentido o gosto da Primeirona. Em 1974, o clube até recebeu um convite para jogar a elite, mas não passou de um qualificatório com outros pequenos.
O time lidera hoje um dos quadrangulares decisivos da Série A-2. Restam três rodadas, nas quais só precisa de uma vitória, que pode acontecer hoje contra o União São João, em Araras (um empate com a ajuda de outros resultados também pode bastar para o clube).
Não é só pelo estilo "eu não desisto nunca" que o Rio Preto difere de outros promovidos recentes de pouca história, como Barueri e Guaratinguetá.
A glória maior do clube, ao que tudo indica, vai chegar em um ambiente de penúria.
Todo o departamento de futebol, incluindo jogadores, comissão técnica e funcionários, custa R$ 43 mil mensais. Mesmo barato, o clube registrou déficit nos três primeiros meses da temporada 2007.
O cenário no estádio do clube e na sua sede social é desolador. Fios e outros equipamentos foram roubados, e o campo ficou sem iluminação, o que acabou até virando uma arma contra os rivais. "Nosso time é jovem, e o calor forte de Rio Preto às 15h prejudica o rival", diz Luciano Dias, 36, o técnico da equipe, que elogia o esforço do clube de pagar os salários com um atraso normal ("10 ou 15 dias").
Mais de metade das arquibancadas estão interditadas por não atenderem às normas de segurança. Na quinta-feira, quase uma semana depois do último jogo do clube no local, o lixo se acumulava ali.
Metade do elenco profissional, que não ganhou bicho por vitórias até agora, e vários garotos da base moram no estádio em modestas acomodações.
O abandono é ainda maior no clube social. As duas piscinas principais estão cheias de uma água imunda, bem ao lado de uma escola. Sem portaria ou segurança e com os vidros da guarita todos quebrados, o local é alvo fácil para ladrões.
Vergílio Dalla Pria Neto, que comanda o clube desde a década de 80 (só não foi presidente em parte dos anos 90, quando sua mulher ocupou o cargo), dá sua explicação para o abandono. "Na mesma época que inauguramos o clube foi aberto um Sesc na cidade, sem a cobrança de mensalidade", declara o cartola, que contabiliza hoje menos de cem sócios pagantes.
A sede de campo foi penhorada e chegou ir a leilão, mas o clube tenta recuperá-la na Justiça. Dalla Pria, que também atua como médico nos jogos do clube como visitante, diz que as dívidas trabalhistas estão resolvidas, isso depois de ter tido, no início do ano, sua prisão decretada pelo não pagamento de uma pendência do clube -um acordo resolveu o caso.
O dirigente diz que a falta de recursos, que muitos justificam pela credibilidade rara do clube como bom pagador, vai mudar caso o time suba. "O Rio Preto nunca chegou na primeira divisão. Quando isso acontecer, a cidade vai se solidarizar."
O elenco que pode colocar o time alviverde na primeira divisão paulista pela primeira vez é recheado de jovens. O Rio Preto tem uma parceria nas categorias de base há seis meses.


Texto Anterior: José Geraldo Couto: Um golaço é um golaço é um golaço
Próximo Texto: Rivalidade: América cai e ameaça derby
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.