São Paulo, terça, 21 de abril de 1998

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Os sete anões gigantes

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas


Dizem que tamanho não é documento, coisa que, do alto dos meus 1,70m, realmente espero que seja verdade.
O futebol parece confirmar esse ditado, pois não são poucos os "deficientes verticais" que se dão bem no esporte bretão. E assim como na história da Branca de Neve, no futebol também temos sete baixinhos que conseguiram grandes vitórias, tratando uma outra branca, não a de neve, mas a da grama, com muito carinho. São eles:
1) Tostão, o Mestre.
Dribles curtos, chutes bem colocados, grande visão de jogo. Quem teve a oportunidade de ver Tostão desfilar sua inteligência pelos gramados sempre vai lembrar do centroavante da seleção de 1970. Hoje, com menos cabelo, mais barriga e óculos, é quase um sósia do mais sábio dos anões.
2) Rivellino, o Zangado.
Outro grande craque da seleção tricampeã. Seus dribles curtos -os "elásticos"- e a violência e precisão de seus chutes tornaram-se lendários, assim como sua irritação quando levava botinadas.
3) Bebeto, o Dengoso.
A técnica e o oportunismo do centroavante baiano já resultaram em centenas de gols. Talvez os beques tenham pena de seu ar frágil, quase choroso, e entrem mais devagar. Ficou marcado pela comemoração do gol que marcou contra a Holanda na Copa de 94, quando homenageou o nascimento do filho, que, aliás, já deve estar maior que ele.
4) Maradona, o Atchim.
Um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Teve uma brilhante e conturbada biografia futebolística. Infelizmente, uma carreira atrapalhou a outra.
Assim como o símile da história da Branca de Neve, tem problemas com o nariz, mas com os pés era inigualável.
5) Romário, o Soneca.
Não são poucas as partidas em que Romário parece estar dormindo em campo, como se tivesse comido a maçã envenenada da Bruxa. Porém, acorda de uma hora para outra, como se tivesse levado um beijo do Príncipe Encantado, e dispara contra o gol inimigo, derrubando zagueiros gigantes e goleiros-dragões.
6) Dunga, o Dunga.
O mais alto e forte desses sete anões é o que apresenta maiores problemas de relacionamento com a "branquinha", mas compensa a falta de habilidade com sua valentia. Assim como o Dunga original, não é muito articulado, e tem que recorrer a gestos para se fazer entender. No caso, pontapés.
7) Roberto Carlos, o Feliz
É o mais novo dos pequenos notáveis. Mesmo jogando na lateral esquerda conseguiu a façanha de ser eleito o segundo melhor jogador do mundo no ano passado. Vive um bom momento e é uma das maiores esperanças da torcida brasileira para a Copa da França. Talvez, por isso, aparente estar sempre alegre e sorridente, como Branca de Neve depois de casar com o Príncipe.
Quis o destino que os sete pequeninos nunca atuassem juntos numa mesma equipe. Caso isso tivesse ocorrido, a torcida deste time seria uma das mais felizes do mundo. E cantaria, sempre que se encaminhasse para o estádio: "Eu vou, eu vou, pro campo, agora eu vou. Lálálálálá, lálálálálá. Gritar é gol!"


José Roberto Torero escreve às terças e quintas



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