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Seleção veste a camisa
(mas antes resolveu passar a tesoura no forro)
Jogadores queixam-se de calor e retalham uniforme desenvolvido durante dois anos especialmente para ser usado no verão asiático
FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KUALA LUMPUR
A Nike, patrocinadora da seleção, fez pesquisas durante dois
anos no projeto de uma nova camisa para as seleções que veste
disputarem a Copa do Mundo. Só
que, pelo menos no time brasileiro, tanto trabalho está sendo literalmente retalhado.
A Folha apurou que, incomodados com o calor causado pelo
novo modelo, jogadores da seleção estão cortando o forro, justamente uma das inovações da tecnologia batizada de Cool Motion.
Desde que chegaram a Barcelona, primeira etapa de preparação
para o Mundial, alguns atletas demonstraram desconforto -o forro consta dos modelos para treino
e para jogos. Ficavam se coçando
ou levantando a primeira camada
de tecido para se refrescarem.
O problema só tende a crescer
na Malásia, última escala da equipe de Luiz Felipe Scolari antes da
Copa, país com temperatura e
umidade relativa do ar elevadas.
Ontem, em Kuala Lumpur, onde o Brasil está e enfrentará os
malaios no próximo sábado, a
temperatura durante o dia esteve
em torno de 35 graus centígrados.
A umidade do ar na cidade varia
entre 70% e 80%. São condições
climáticas equatoriais, como em
Manaus ou Belém.
O leve treino físico à tarde num
campo do complexo de Bukit Jalil, próximo ao local onde será o
amistoso, foi atrapalhado pela
chuva, que, por outro lado, amenizou o problema com a camisa.
"Tem que se adaptar ao novo
esquema. A Nike fez um estudo
de não sei quanto tempo para fazer essa camisa aí, diz que absorve
melhor o suor. Mas, se for treinar
em Fortaleza, no Maranhão, onde
a gente treinou [para dois jogos
recentes da seleção], é impossível.
Muito calor, muito quente. Você
tem que cortar o forro por baixo,
senão não consegue treinar", afirmou o zagueiro Edmílson.
"A camisa é bonita, mas, com o
calor, atrapalha, e a gente arranja
um jeito de se refrescar", completou o atacante Edílson.
"O modelo dá calor. Quem quiser cortar, corta, acho que pode",
disse o lateral-esquerdo Júnior,
que declarou, porém, ainda não
ter recorrido à tesoura.
Outro jogador contou que alguns dos 23 convocados para o
Mundial já o fizeram.
A própria assessoria da Nike informou estar ciente de que há
atletas cortando o forro. Segundo
Ingo Ostrovsky, porta-voz da empresa que acompanha a seleção
na Malásia, trata-se de uma questão de costume, até psicológica.
Ele comparou a nova camisa à
uma chuteira, que causa sensações diferentes em cada jogador.
Só que, no caso do uniforme da
seleção, não serão feitas camisas
sob medida para os convocados.
"Cada um vai usar do jeito que
achar melhor", disse Ostrovsky,
admitindo o corte do forro.
Mas declarou que a empresa
norte-americana irá esperar o desenrolar dos treinos durante essa
semana em Kuala Lumpur para
avaliar com maior precisão a opinião dos jogadores e só então decidir o que vai fazer.
O curioso é que, de acordo com
a Nike, a tecnologia Cool Motion
foi desenvolvida especificamente
para as condições climáticas que
os atletas da seleção encontrarão
no verão coreano e japonês à época da Copa, que têm semelhanças
com as da Malásia.
Ou seja, resta saber se o novo
modelo causará a mesma reação
nas outra sete seleções que a companhia vestirá na Copa -a Nike
só perde para a Adidas, que fornecerá uniforme para nove times.
Apesar de ter duas camadas de
tecido, a nova camisa, estreada no
amistoso com os sauditas em fevereiro, é, segundo a empresa,
20% mais leve que a anterior.
O principal objetivo da tecnologia Cool Motion é diminuir os
efeitos negativos da transpiração
excessiva durante um jogo.
Nos primeiros jogos de 2002,
nenhum jogador havia ainda se
queixado da camisa.
No Brasil, o torcedor que quiser
comprar a que a seleção usará na
Copa (com forro) desembolsará
R$ 198. Sem forro, custa R$ 119.
Esta é a segunda polêmica em
torno da camiseta. A primeira
aconteceu em seu lançamento,
quando muitos criticaram seu desenho, com detalhes em verde espalhados pela frente do uniforme.
Colaborou Juca Varella, enviado especial a Kuala Lumpur
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