São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 2002

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Seleção veste a camisa
(mas antes resolveu passar a tesoura no forro)

Jogadores queixam-se de calor e retalham uniforme desenvolvido durante dois anos especialmente para ser usado no verão asiático

FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KUALA LUMPUR

A Nike, patrocinadora da seleção, fez pesquisas durante dois anos no projeto de uma nova camisa para as seleções que veste disputarem a Copa do Mundo. Só que, pelo menos no time brasileiro, tanto trabalho está sendo literalmente retalhado.
A Folha apurou que, incomodados com o calor causado pelo novo modelo, jogadores da seleção estão cortando o forro, justamente uma das inovações da tecnologia batizada de Cool Motion.
Desde que chegaram a Barcelona, primeira etapa de preparação para o Mundial, alguns atletas demonstraram desconforto -o forro consta dos modelos para treino e para jogos. Ficavam se coçando ou levantando a primeira camada de tecido para se refrescarem.
O problema só tende a crescer na Malásia, última escala da equipe de Luiz Felipe Scolari antes da Copa, país com temperatura e umidade relativa do ar elevadas.
Ontem, em Kuala Lumpur, onde o Brasil está e enfrentará os malaios no próximo sábado, a temperatura durante o dia esteve em torno de 35 graus centígrados. A umidade do ar na cidade varia entre 70% e 80%. São condições climáticas equatoriais, como em Manaus ou Belém.
O leve treino físico à tarde num campo do complexo de Bukit Jalil, próximo ao local onde será o amistoso, foi atrapalhado pela chuva, que, por outro lado, amenizou o problema com a camisa.
"Tem que se adaptar ao novo esquema. A Nike fez um estudo de não sei quanto tempo para fazer essa camisa aí, diz que absorve melhor o suor. Mas, se for treinar em Fortaleza, no Maranhão, onde a gente treinou [para dois jogos recentes da seleção], é impossível. Muito calor, muito quente. Você tem que cortar o forro por baixo, senão não consegue treinar", afirmou o zagueiro Edmílson.
"A camisa é bonita, mas, com o calor, atrapalha, e a gente arranja um jeito de se refrescar", completou o atacante Edílson.
"O modelo dá calor. Quem quiser cortar, corta, acho que pode", disse o lateral-esquerdo Júnior, que declarou, porém, ainda não ter recorrido à tesoura.
Outro jogador contou que alguns dos 23 convocados para o Mundial já o fizeram.
A própria assessoria da Nike informou estar ciente de que há atletas cortando o forro. Segundo Ingo Ostrovsky, porta-voz da empresa que acompanha a seleção na Malásia, trata-se de uma questão de costume, até psicológica.
Ele comparou a nova camisa à uma chuteira, que causa sensações diferentes em cada jogador. Só que, no caso do uniforme da seleção, não serão feitas camisas sob medida para os convocados. "Cada um vai usar do jeito que achar melhor", disse Ostrovsky, admitindo o corte do forro.
Mas declarou que a empresa norte-americana irá esperar o desenrolar dos treinos durante essa semana em Kuala Lumpur para avaliar com maior precisão a opinião dos jogadores e só então decidir o que vai fazer.
O curioso é que, de acordo com a Nike, a tecnologia Cool Motion foi desenvolvida especificamente para as condições climáticas que os atletas da seleção encontrarão no verão coreano e japonês à época da Copa, que têm semelhanças com as da Malásia.
Ou seja, resta saber se o novo modelo causará a mesma reação nas outra sete seleções que a companhia vestirá na Copa -a Nike só perde para a Adidas, que fornecerá uniforme para nove times.
Apesar de ter duas camadas de tecido, a nova camisa, estreada no amistoso com os sauditas em fevereiro, é, segundo a empresa, 20% mais leve que a anterior.
O principal objetivo da tecnologia Cool Motion é diminuir os efeitos negativos da transpiração excessiva durante um jogo.
Nos primeiros jogos de 2002, nenhum jogador havia ainda se queixado da camisa.
No Brasil, o torcedor que quiser comprar a que a seleção usará na Copa (com forro) desembolsará R$ 198. Sem forro, custa R$ 119.
Esta é a segunda polêmica em torno da camiseta. A primeira aconteceu em seu lançamento, quando muitos criticaram seu desenho, com detalhes em verde espalhados pela frente do uniforme.


Colaborou Juca Varella, enviado especial a Kuala Lumpur



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