São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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Maradona, de novo, ataca Pelé

Ao promover filme em Cannes, argentino diz que só droga o impediu de ser melhor do que brasileiro

Em documentário, ex-atleta acusa Brasil de ser igual a mafioso nas Copas, mas não cita acusações sobre título argentino em casa, em 78

Guillaume Horcajuelo/Efe
Diego Armando Maradona, maior ícone do futebol argentino e campeão mundial na Copa de 1986, controla bola ontem em Cannes (França), onde esteve para promoção de filme sobre sua vida

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Antes de disparar ontem no Festival de Cannes um ataque contra Pelé, o craque argentino Diego Maradona anunciou sua rendição: "Prometi às minhas filhas que nunca mais falaria sobre Pelé. Não consigo. É mais forte do que eu", desabafou.
Foi sua resposta à provocação de um italiano, que afirmara que Pelé dissera "coisas estúpidas" sobre ele. "Pelé fala negociando. Mas o carinho das pessoas não se negocia. Ele deveria ficar do lado dos jogadores, porque foi a bola que lhe deu o que tem. E ele que preste atenção na vida familiar fodida que tem e não venha me foder."
O diálogo ocorreu na concorrida entrevista sobre o filme "Maradona by Kusturica" (Maradona por Kusturica), que o ex-atleta promove em Cannes.
A resposta se refere ao fato de Pelé ter reconhecido, tardiamente, uma filha cuja paternidade negou por anos. Já Maradona teve um filho fora do casamento, que pouco foi ver.
Além de Pelé, o argentino atacou a seleção brasileira: "O Brasil ficou 20 anos sem ganhar uma Copa porque Deus é justo. Agora imagina um político mafioso 20 anos sem ganhar uma Copa", afirmou ele.
A seleção ficou sem título Mundial de 1970 a 1994. Já a Argentina só ganhou duas Copas, uma delas no próprio país, quando a ditadura local foi acusada de manipular o torneio.
O uso de cocaína é um dos temas que Maradona aborda no filme. Disse se arrepender de ter se drogado nas festas de aniversário de suas duas filhas. E afirmou que, se não fosse o consumo da droga, teria ido muito mais longe em sua carreira e superado o brasileiro.
"Pelé não ficaria nem em segundo lugar. Não haveria segundo lugar", disse, caso ele não se drogasse. "Digo isso sem soberba. Ele [Pelé] ia dormir às dez da noite. Eu ficava a noite toda acordado", analisou.
Há relato da comissão técnica do Brasil de que Pelé se atrasou na volta à concentração na Copa de 1958. O brasileiro marcou 1.281 gols; Maradona, 345.
Sentado ao lado de Maradona, Kusturica afirmou que em seu documentário quis evitar comparações. "Mas eu não faria um filme sobre Pelé. Esse homem que aqui está entrega a vocês toda a humanidade dele."
Se atacou Pelé, Maradona defendeu Ronaldinho. "Ronaldinho é bom jogador demais para ser criticado. Peço aos barcelonistas de verdade que o segurem lá. Se ele for para o Milan, quando jogar contra o Barcelona, vai meter três gols. Não façam com ele o mesmo que fizeram com papá", disse, apontando para si mesmo.
O ex-atleta ainda fez galanteio com a atriz Julia Roberts. "Eu daria essa mão, do gol contra a Inglaterra, para que a Julia Roberts estivesse aqui andando por Cannes, e eu atrás dela", disse, em referência a seu gol ilegal na Copa de 1986.
"Maradona by Kusturica" foi filmado entre 2005 e 2007. Tem depoimentos de Maradona em Buenos Aires e registros de viagens, como a ida a Mar del Plata na Cúpula das Américas para apoiar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e protestar contra os EUA.
O filme exibe imagens de arquivo de gols, de suas internações hospitalares e escândalos públicos, contrapostas a vídeos do atleta em momentos familiares. "O filme do Emir [Kusturica] tem todos os ingredientes para saber quem é o Maradona: o pai, o jogador, o que se droga, o que deixou as drogas. Eu me identifico perfeitamente com ele", disse Maradona.


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