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FUTEBOL
Não é de ninguém
JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Tenha cuidado para dizer
"nunca mais". Desde a Copa
do Mundo de 1986, disputada no
México, perdi o encanto que tinha pelo futebol. Já se foram 16
anos. De seis para cá, analiso
qualquer jogo com a pura isenção
de um turista chegando ao estádio do Maracanã.
Só me emociono com um grande time, com uma bela jogada.
Especialmente vibro quando
vejo um drible de caneta ou um
chapéu bem dado, daqueles que
Reinaldo dava como se estivesse
penteando o cabelo de Abel.
Admirava tanto a habilidade
de Ademir da Guia que bastava o
Divino tocar na bola para derramar meu choro de suspiro.
Pensava neste agosto: a quanto
tempo não me batia aquela vontade de ver o teipe de um jogo assistido no mesmo dia?
Quantas vezes não saíamos do
Palestra, do Pacaembu ou do Morumbi e uma hora depois estávamos em casa revendo - com Walter Abraão e Geraldo Bretas na
Tupi - aquela mesma partida.
Valia a pena!
Porque será que o futebol me
deixou tão glacial? O fora de campo enoja tanto? Ou será que dentro de campo foi-se embora o brilho desta paixão?
A música que esvazia qualquer
angústia consegue, ao contrário
da bola, me levar prazerosamente
ao bis. Chego a ouvir dez vezes seguidas "Teresa da Praia", com
Dick Farney.
É fértil. É nosso!
O atual Campeonato Brasileiro
tem feito coisas comigo que até
mesmo Deus duvida.
Por motivos de saúde, tenho visto quatro, cinco, até seis jogos por
rodada. Controle remoto e salve o
pay-per-view.
Domingo foi o dia. Parecia
aquele menino suspirando nos
tempos da Academia.
O primeiro tempo da partida
entre Corinthians e São Caetano
merecia videoteipe durante a semana inteira. Um esquema tático
bem montado pelo técnico Mário
Sérgio, cumprido de forma militar pelos jogadores da equipe do
ABC, com direito a flashes da Imperatriz Leopoldinense.
O desfile poderia ter encerrado
o primeiro tempo em 6 a 2, sem
nenhum exagero da minha parte.
Mário Sérgio tem cabeça para organizar qualquer time nas quatro
linhas do gramado. Sabe fazer o
tempero. Se melhorou o temperamento, é treinador para chegar à
seleção brasileira.
No sábado, foi lindo explodir
com os dois gols de Romário.
Ser dono de um pequeno pedaço de terra (grande área) é tudo
aquilo que um pobre atacante deseja. Romário é dos poucos no
mundo que sabe valorizar esse
dom divino.
E ainda teve Kaká com suas jogadas de menino, de pelada, de
praia, de várzea.
Não me entusiasmo com nada
que possa vir a me faltar amanhã,
mas aprendi que, no futebol, o futuro ao Brasil pertence.
Em nenhum outro lugar do
mundo vão nascer craques com
tanta fartura.
No mesmo filme veio a última
Copa do Mundo, no Japão e na
Coréia do Sul. De imediato, torna-se impossível esquecer gols de
bico (marcado por Ronaldo), de
falta (de Ronaldinho), e o de Rivaldo contra a Bélgica.
Ah! Como é bom escrever um
artigo e nem se lembrar dos cartolas. Aliás, eles existem?
O verdadeiro futebol brasileiro
é como a "Teresa da Praia". Não é
de ninguém.
Também ganhei
Ops! Valeu, seu Zazá. Eu também sou pentacampeão
mundial. Comentei a Copa
daqui. Em 1994, fui mais tetra
ainda porque estive lá, comentando e cobrindo tudo
nos Estados Unidos.
"Pentas" e penta
Só levando na boa ironia a
leitura da entrevista do técnico Zagallo, na qual, de modo
justo, se mostrou orgulhoso
caso receba a homenagem
para ser o técnico da seleção
no último jogo amistoso que
a equipe fará nesta temporada, em novembro, encerrando suas atividades no ano
-a CBF ainda está definindo
o adversário. Até aí, nada
mais coerente. Massageando
o ego, o Lobo soltou: "...Eu
participei dos cinco títulos
mundiais do Brasil. Dois como jogador, um como treinador, um como coordenador e
um, agora, como comentarista." Temos mais "pentas" do
que penta.
E-mail kajuru@terra.com.br
Tostão, em férias, volta a escrever
neste espaço em 4 de setembro
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