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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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Itália vira a mesa, salva Fiorentina e incha Série B


No ano em que o Brasil adota a consagrada fórmula dos pontos corridos, decreto desmoraliza o "calcio", maior vitrine e modelo de administração do futebol


RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O futebol italiano, referência durante muitos anos de organização e profissionalismo, assistiu ontem à maior virada de mesa de sua história. Por decreto, a Série B inchou, times que foram rebaixados não caíram e, pior, a Fiorentina foi pinçada à segunda divisão sem merecimento técnico.
O caso lembra bastante o episódio que teve o Gama como protagonista, em 1999, no Brasil.
Aliás o futebol brasileiro, que experimenta agora pela primeira vez a consagrada fórmula européia de pontos corridos com turno e returno, parece ter exportado a busca incessante do tapetão.
O Catania, modesto clube italiano, apelou à Justiça comum para não cair (Martinelli, jogador do Siena, teria atuado em uma partida irregularmente). Contra a vontade dos clubes mais poderosos, ganhou o direito de jogar a Série B. Porém, na esteira de sua vitória no tapetão, lucraram outros dois clubes rebaixados -o tradicional Genoa e a humilde Salernitana- e a Fiorentina, um dos mais simbólicos clubes do país.
A equipe de Florença, que já foi duas vezes campeã do Italiano, deveria jogar na Série C1, a terceira divisão do país, mas foi promovida. O Cosenza foi rebaixado no campo para a C1, mas não foi salvo nos bastidores, diferentemente de Catania, Genoa e Salernitana.
Giuseppe Mazzotta, presidente do Cosenza, condenou a decisão. "É uma injustiça infinita com uma sociedade que sempre hon- rou e respeitou regulamentos."
A virada de mesa foi anunciada pelo Conselho Federal do país. O Comitê Olímpico Italiano (Coni) deverá apenas ratificar a decisão de ontem, que vai alterar o calendário do futebol italiano.
Com 24 equipes, a Série B na Itália seria realizada como o Brasileiro atual de pontos corridos -com 46 rodadas, é o maior campeonato nacional já disputado no planeta. E ainda há dúvidas sobre qual será o formato da C1.
O eldorado do futebol mundial no final do século passado vai agora na contramão do esporte. A Fifa, entidade que rege o futebol mundial, sugeriu neste ano que os campeonatos nacionais fossem enxugados para 16 clubes.
Questões financeiras também podem gerar novos problemas técnicos para o badalado calcio.
O Napoli, clube mais popular do Sul do país, aparece na lista dos times que atuarão na Série B, mas pelas regras na Itália deveria cair devido a uma vultosa dívida -a Roma, também por motivos financeiros, poderia ser sacada da Série A. Tais clubes deverão apresentar nos próximos dias garantias financeiras para não cair.
Adriano Galliani, presidente da liga italiana, foi contra o inchaço da Série B. "Votamos contra. E, além disso, não refaremos o calendário", disse o dirigente.
Já Giovanni Galli, responsável pela área técnica da Fiorentina, mostrou-se festivo e surpreso. "Esta notícia mudou o mundo. Estávamos trabalhando por um objetivo, que era vencer a Série C1. Agora, tudo mudou."
O Brasil pode ver seu campeonato ser decidido no tapetão, o que não é novidade, e ver a Itália copiar o seu modelo, algo novo.


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