São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

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JUCA KFOURI

Para que nos serviu a Olimpíada


Para nada, como sempre. E para tudo, como sempre. Para nada que não sabíamos e para tudo que sabíamos

O COB , lembremos a bem da verdade, não prometeu medalhas e nem sequer aceitou ser avaliado pelo ministério do Esporte, como algumas de nossas escolas não querem ser avaliadas e por aí afora.
O COB, por meio de seu presidente, que fez o vôlei no país nos anos 80 e, de lá para cá, deitou-se sobre os louros, não se compromete. Com nada. Mas pede. Tudo.
E o pior é que, desta vez, o governo deu. Como nunca dantes.
Mas se desta vez não teve cavalo que refugou, iatista que se atrapalhou, ou meninas do vôlei que se desequilibraram, como em Atenas, teve a vara que sumiu da brilhante saltadora do país da piada pronta, teve o escorregão do ginasta campeão e o time de futebol que dançou um tango argentino em Pequim.
E a cartolagem, que se esbaldou como turista, com a desculpa de que temos uma Olimpíada a fazer em 2016, como já aconteceu com Brasília-2000, Rio-2004 e Rio-2012.
O dinheiro jorra para as passagens de primeira classe até porque ninguém, além dos atletas que vão mesmo de econômica, é de ferro. E não se gasta nenhum tostão a sério para, por exemplo, tratar a cabeça dos que vão competir contra o que há de melhor pelo mundo.
Antes de a Olimpíada começar, no entanto, se diz que os Jogos não são para ganhar experiência e que o número recorde de atletas nacionais se deve a excelência de quem atingiu marcas olímpicas.
Um bronze aqui, outro ali, e olhe lá que já está de bom tamanho, além de um escasso ouro de um nadador raro que teve de ir viver fora do Brasil varonil à custa do sacrifício de sua família.
Família que agora está no céu, mas que conhece o inferno de perto.
Além, é claro, das possibilidades douradas sempre dadas em esportes como vôlei, futebol e outros menos votados. Só que se na ida o discurso era contra ir para ganhar experiência, na volta o que mais se ouve é que foi uma experiência fundamental.
Porque em Londres...
De todos os vexames, no entanto, quando o país monoesportivo perde no seu esporte, a derrota vira assunto grave, embora todos soubessem que trazer o ouro seria uma injustiça com o nobre metal, um prêmio à desorganização.
Culpa de quem? Culpa, também do técnico, sem dúvida.
Que se curvou à vontade imperial e convocou quem não queria, razão pela qual perdeu a chance de sair dignamente. E que agora se vê na obrigação imediata de trazer mais um bronze e ainda de superar o Chile pelas eliminatórias, em Santiago, no dia 7 de setembro, o dia da continuação de sua dependência ou de sua morte.
O maior culpado, no entanto, o que escolheu o técnico que técnico nunca fora, o que nem sequer foi a Pequim porque não se dá com o COB e vice-versa, este permanece impune. E dispõe do futuro dos que o cercam, seguro que nem mesmo o presidente da República haverá de cobrá-lo. Porque se o Rio-2016 é apenas um projeto da turma do me engana que eu gosto do dinheiro que gasto, a CBF tem uma Copa do Mundo para fazer em 2014.
Mesmo que o futebol definhe a tal ponto de fracasso em fracasso que nada indica que vá a Londres 2012.

blogdojuca@uol.com.br


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