|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FÁBIO SEIXAS
Piloto genial, gênio nem tanto
Por enquanto, atitudes e temperamento de Alonso não o prejudicam dentro
das pistas. Por enquanto...
UMA DAS várias idiossincrasias
da F-1, uma das mais perceptíveis nos bastidores da categoria, são os ciclos de jornalistas que
freqüentam as salas de imprensa.
Ingleses e italianos sempre foram
parte da paisagem, sempre serão. O
resto flutua ao sabor dos resultados.
No início dos 90, as bancadas viviam cheias de franceses e brasileiros. E não é preciso muita criatividade para imaginar o fluxo seguinte:
alemães. Há quatro, cinco anos, chegaram os espanhóis. "As", "Marca",
"El Pais", "Tele 5", "Mundo Deportivo", todos, hoje, viajam aos GPs.
Muito antes desta última invasão,
porém, havia Jose Maria Rubio. Jornalista e fotógrafo, Rubio ia contra a
maré. Num país que cultuava o motociclismo, teimava em cobrir sua
paixão, a F-1, e foi, durante anos e
anos, o único espanhol no Mundial.
Então chegou Alonso.
Um garoto humilde de Oviedo,
meio perdido naquele mundão.
Um compatriota precisando de
ajuda? Rubio não teve dúvidas. Sem
esconder a satisfação, jogou para escanteio o lado jornalista e o adotou.
Era ele que explicava e ensinava
ao jovem piloto as armadilhas daquele ambiente. Era ele que transportava Alonso para cima e para baixo, que o apresentava às pessoas.
E lembro da alegria juvenil do velho jornalista quando Alonso cravou
a única vitória na F-3000, em Spa. E
lembro de colocar um emocionado
Rubio no ar, pela rádio Bandeirantes, quando Alonso abriu a última
volta da primeira vitória na F-1, em
2003, na Hungria. E lembro de cruzar o colega no aeroporto do Bahrein em 2004: era madrugada, estréia do país na F-1, e ele, com receio
de que o amigo se perdesse, estava
ali, no desembarque, de prontidão.
E lembro de um chateado Rubio,
num microônibus em Hockenheim,
em 2005. Chateado, arrasado, triste.
Dias antes, ele havia publicado alguma história que desagradou a
Alonso. Quando chegou ao motorhome da Renault, em vez do amigo-pupilo-protegido, achou um hostil
piloto prestes a conquistar o Mundial. A então sensação da F-1, a novidade que chegava para desafiar o establishment, negou-se a conversar
com Rubio. E o expulsou do lugar.
Este mesmo Alonso rachou a Renault no ano passado, no GP do Japão: "Eu deveria ter recebido mais
ajuda da equipe neste ano. Em alguns momentos, me senti sozinho".
E agora, na McLaren, não troca
palavras com o chefe, a quem tentou
chantagear -isso, segundo o chefe.
Piloto genial, de raras frieza e habilidade, Alonso por enquanto não
vem sendo prejudicado pelo seu
temperamento. Por enquanto. Porque a F-1 já deu mostras de que sabe
se livrar rapidamente de estorvos,
por mais geniais que eles sejam.
Alonso vai levar este Mundial? É
minha aposta. Vai correr na Renault
em 2008? Também acho que sim.
Entre uma coisa e outra, férias,
nas Ilhas Canárias ou em Cuba, sei
lá, seriam uma boa para colocar a cabeça no lugar. E salvar o pescoço.
fseixas@folhasp.com.br
Texto Anterior: Goiás: Márcio Araújo assume o clube Próximo Texto: Uefa tira Scolari das eliminatórias da Eurocopa-2008 Índice
|