São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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VÔLEI

As armadilhas

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

Nas próximas temporadas, a seleção brasileira terá seu maior desafio: manter unido o grupo que foi campeão mundial. A história está aí para mostrar que, depois de grandes conquistas, a seleção acaba sofrendo com a dificuldade dos atletas de lidar com o sucesso e não alcança todos os resultados que poderia.
Quem não se lembra da Olimpíada de 84? O time brasileiro, medalha de prata no Mundial de 82, foi seu próprio adversário nos Jogos de Los Angeles. Ok, foi vice-campeão, mas poderia ter subido no degrau mais alto do pódio se todos os jogadores estivessem falando a mesma língua.
Em 92, a seleção voltou ao paraíso com o ouro olímpico nos Jogos de Barcelona. Em 94, começaram os problemas: vaidades, interesses particulares acima do coletivo e o relacionamento entre os atletas se deteriorando. Resultado: o Brasil, com um timão, foi quinto colocado no Mundial da Grécia. Uma decepção. É lógico que, depois de uma grande conquista, todas as atenções se voltem para os jogadores, para os campeões. Aparecem oportunidades econômicas e profissionais e fica difícil lidar com a fama, manter a cabeça concentrada na quadra, no objetivo traçado.
O técnico Bernardinho, que integrou a geração de prata, o levantador Maurício e o atacante Giovane, campeões olímpicos em Barcelona, viveram esse filme. Os outros jogadores conhecem essa história. Talvez por tudo isso, o grande avanço desse grupo seria não repetir os mesmos erros das gerações passadas.
A decisão do título mundial contra a Rússia é reveladora nesse sentido: mostrou que o time não funciona só com os titulares. A equipe precisou dos reservas para derrotar os russos. O levantador Ricardinho e o atacante Anderson entraram no segundo set e mudaram a história do jogo.
Mais: Giovane, que também estava na reserva, foi o autor dos três últimos pontos da grande final. Quem há de se esquecer da imagem dele, com o corpo virado para um lado e braço para o outro, traçando o ponto final do jogo com um saque perfeito no cantinho da quadra adversária?
Mas a prova final, se a seleção vai conseguir mudar essa história, será nos Jogos de Atenas, em 2004. O retrospecto mostra que é no segundo ano após uma grande conquista que os problemas acontecem. O time que ganhou o ouro em Barcelona, por exemplo, ainda foi campeão da Liga em 93. Naufragou no Mundial de 94.
E a seleção brasileira, se não houver desvios, tem tudo para chegar ao título olímpico em 2004. Desde que Bernardinho assumiu o comando no ano passado, foram sete títulos e dois vice-campeonatos em nove torneios disputados. O perigo é o time se tornar seu próprio adversário.
A vitória do Brasil no Mundial teve um significado especial também para o vôlei. Nesse esporte, cada vez mais dominado por gigantes, os campeões não foram os mais altos e nem os mais fortes. Ganhou o time mais técnico, com os atletas mais habilidosos e que mostrou o vôlei mais bonito.
O título brasileiro traz um novo conceito e valoriza a importância da técnica no vôlei. A teoria de que basta um punhado de jogadores altos, com um paredão no bloqueio e um saque poderoso para formar um grande time sofreu um abalo. Os "baixinhos" Nalbert, Giba e André destruíram os bloqueios gigantes.

Italiano 1
A folga terminou. Nesta semana, os clubes italianos, que têm jogadores que disputaram o Mundial da Argentina, começam a treinar com os times completos. Nalbert apresenta-se hoje no Macerata, um dos favoritos ao título. Para você ter uma idéia, a equipe tem um dos melhores atacantes do mundo, o iugoslavo Ivan Miljkovic, e dois centrais da seleção italiana, Gravina e Mastrangelo. Além disso, o levantador do time é Marco Meoni, titular da seleção italiana até a temporada passada.

Italiano 2
A primeira rodada do Campeonato Italiano será disputada no próximo fim de semana. O Macerata vai estrear contra o Ancona. O Modena, que nesta temporada contratou o brasileiro Dante, terá pela frente o Latina, do iugoslavo Goran Vujevic. E o Ferrara, dos atacantes Giba e Gustavo, vai enfrentar o Perugia, do espanhol Rafael Pascual e do holandês Guido Gortzen.

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