São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

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COI nega acordo entre Rogge e Pequim

Segundo dirigente chinês, presidente do comitê fez lobby por Jogos na China em troca de votos do país em sua eleição

Em sua autobiografia, Yuan Weimin diz que pacto foi selado às vésperas da decisão da sede de 2008 e da escolha do novo chefe da entidade

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O COI (Comitê Olímpico Internacional) negou ontem que Jacques Rogge, 67, tenha feito acordos escusos com a China para vencer a eleição para presidente da entidade em 2001.
Um livro recém-lançado do presidente do Comitê Olímpico Chinês, Yuan Weimin, diz que Pequim foi escolhida sede olímpica de 2008 graças a votos ganhos em troca do apoio da China a Rogge -as duas eleições ocorreram no mesmo congresso, realizado em Moscou.
"Os votos naquela ocasião foram tão maciçamente para o presidente Rogge e para Pequim que não faria nem sentido haver um acordo", disse à Folha o diretor de comunicação do COI, Mark Adams, acrescentando que a alegação é "completamente falsa".
A escolha de Pequim, na época, foi muito criticada por conta do histórico chinês de violações dos direitos humanos e cerceamento de liberdades, embora as promessas de boicote à Olimpíada não tenham se concretizado em nada expressivo.
Rogge chegou a se justificar, depois, dizendo que houve "ingenuidade" do COI em crer que a cúpula chinesa abdicaria da repressão pelos Jogos.
Yuan escreveu em sua autobiografia que Rogge teria concordado verbalmente em persuadir membros europeus do COI a votarem em Pequim, com a promessa de que teria apoio dos delegados chineses. Na ocasião, venceu o sul-coreano Kim Un-yong e o canadense Dick Pound ao obter 59 votos contra 45 dos rivais juntos.
O comitê afirmou que Rogge -eleito após pregar modernização e reeleito como candidato único no início do mês para um período de mais quatro anos- "construiu sua campanha em cima de um programa forte e muito bem recebido entre os membros do COI".
Segundo trechos vertidos ao inglês pelo jornal britânico "The Times", o livro "Yuan Weimin e os Ventos e Nuvens do Mundo Esportivo" afirma ainda que a candidatura de Pequim teve sucesso graças à aplicação de princípios chineses de guerra contra os rivais -Toronto, Istambul e Paris.
"Embora não tivéssemos um contrato por escrito com Rogge, havia um entendimento particular", escreveu Yuan, de acordo com o "Times". O "entendimento" incluiria, diz, apoiar o belga e não o sul-coreano, frustrando os colegas asiáticos. O ex-ministro escreve ainda, diz o "Times", que um dos delegados rompeu o pacto ao escolher Kim, causando mal-estar na delegação.
A eficácia de um suposto acordo, dado que os votos são secretos, é questionável. Mas a acusação -ou admissão- por parte de Yuan é algo raro na política esportiva pelo fato de ser pública, o que levou o COI a logo responder às alegações.
O alegado entendimento, nos trechos traduzidos pelo "Times", foi selado pelo então prefeito de Pequim, Liu Qi, em "uma sala discreta de um centro de conferências de Genebra" às vésperas da decisão.
Segundo Yuan, Rogge disse que uma vitória francesa para 2008 o prejudicaria, posto que somaria uma dupla conquista europeia, e desculpou-se por não expressar apoio público a Pequim para não descontentar as rivais Paris e Istambul.
Rogge, embora não oficialmente, foi um entusiasta da candidatura do Rio à Olimpíada de 2016. A vitória foi considerada uma demonstração de força do grupo do belga sobre o de seu antecessor, Juan Antonio Samaranch, cujo filho fez parte da campanha de Madri.


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