São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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ENTREVISTA DAVID HOWMAN

O Brasil precisa dar exemplo na luta contra o doping

DIRETOR-GERAL DA AGÊNCIA MUNDIAL ANTIDOPING DIZ QUE PAÍS CARECE DE PROGRAMA ROBUSTO E CITA INGLATERRA E AUSTRÁLIA COMO MODELOS

DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO

David Howman colocou a lupa da Wada (Agência Mundial Antidoping) sobre o trabalho de Brasil e Rússia no combate ao doping. Os dois países sediarão os principais eventos esportivos do planeta nos próximos cinco anos.
A Copa do Mundo de 2014, os Jogos Olímpicos de inverno, no mesmo ano, na cidade russa de Sochi, e os Jogos do Rio-2016 obrigam os dois países a darem exemplo no controle severo ao uso de substâncias ilegais. Foi o que afirmou em entrevista por e-mail à Folha o neozelandês Howman, diretor-geral da Wada.
O dirigente já fez críticas públicas ao modelo de organização brasileira e russa.
O maior problema, segundo ele, é no Brasil, porque a ABA (Agência Brasileira Antidoping) está ligada ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
Howman defende uma agência nacional, sem vínculos.
A proposta de um órgão independente foi feita há um ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda precisa ser aprovada no Congresso Nacional.

Folha - Em uma entrevista recente na Rússia, você disse que a política antidoping do Brasil é um problema maior do que na Rússia. Por quê? David Howman - Eu sugeri que tanto o Brasil como a Rússia precisam desenvolver suas capacidades de controle antidoping, a fim de demonstrar ao resto do mundo um claro compromisso com a proteção dos atletas. Brasil e Rússia são dois países grandes, peças importantes no cenário esportivo internacional. Eles deveriam ter robustos programas antidoping.

Como país-sede da próxima Olimpíada e da Copa do Mundo, o Brasil tem a obrigação de ser um modelo na luta contra o doping?
Não tenho dúvidas. Como organizador da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos e como um país grande, o Brasil tem o dever de dar exemplo na luta contra o doping. O mundo assiste à maneira como o Brasil se prepara para esses eventos. Com a história de sucessos esportivos do país, é fundamental que garanta a igualdade de condições a seus atletas. E que esses [atletas] honrem o legado do país, ao rejeitarem o doping, a fim de que nenhuma nuvem de desconfiança paire sobre suas performances.

Qual modelo o Brasil deve seguir para ser um exemplo?
O Brasil precisa criar uma agência nacional independente. Quando eu digo independente, quero dizer totalmente independente de comitê olímpico nacional, autoridades desportivas e governo. Assim, o Brasil deve decidir o quanto quer estruturar, financiar e organizar o seu corpo nacional. O Reino Unido criou uma nova agência independente com poderes consideráveis, incluindo os de compartilhamento de informações com as autoridades policiais para detectar violações da regra antidoping não diretamente relacionadas com as amostras de controle de doping. Da mesma forma, na Austrália, as leis foram promulgadas para que as informações sejam repartidas entre as agências de aplicação da lei e da agência nacional antidoping.

Custa caro para um país manter-se vigilante?
A luta contra a dopagem no esporte deve ser conduzida de forma inteligente, para ser eficaz e eficiente. É necessário um investimento financeiro para implementar os programas de antidoping. Mas este investimento é ínfimo se comparado ao dinheiro investido no desporto em geral. Assim, faço uma pergunta simples: você quer que o esporte seja uma plataforma para o desenvolvimento pessoal e uma sociedade saudável, ou que seus filhos e os seus campeões se tornem arsenais químicos?


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