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ENTREVISTA DAVID HOWMAN
O Brasil precisa dar exemplo na luta contra o doping
DIRETOR-GERAL DA AGÊNCIA MUNDIAL ANTIDOPING DIZ QUE PAÍS CARECE DE PROGRAMA ROBUSTO E CITA INGLATERRA E AUSTRÁLIA COMO MODELOS
DANIEL BRITO
DE SÃO PAULO
David Howman colocou a
lupa da Wada (Agência Mundial Antidoping) sobre o trabalho de Brasil e Rússia no
combate ao doping. Os dois
países sediarão os principais
eventos esportivos do planeta nos próximos cinco anos.
A Copa do Mundo de 2014,
os Jogos Olímpicos de inverno, no mesmo ano, na cidade
russa de Sochi, e os Jogos do
Rio-2016 obrigam os dois países a darem exemplo no controle severo ao uso de substâncias ilegais.
Foi o que afirmou em entrevista por e-mail à Folha o
neozelandês Howman, diretor-geral da Wada.
O dirigente já fez críticas
públicas ao modelo de organização brasileira e russa.
O maior problema, segundo ele, é no Brasil, porque a
ABA (Agência Brasileira Antidoping) está ligada ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
Howman defende uma agência nacional, sem vínculos.
A proposta de um órgão independente foi feita há um
ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda
precisa ser aprovada no Congresso Nacional.
Folha - Em uma entrevista recente na Rússia, você disse
que a política antidoping do
Brasil é um problema maior
do que na Rússia. Por quê?
David Howman - Eu sugeri
que tanto o Brasil como a
Rússia precisam desenvolver
suas capacidades de controle
antidoping, a fim de demonstrar ao resto do mundo um
claro compromisso com a
proteção dos atletas. Brasil e
Rússia são dois países grandes, peças importantes no
cenário esportivo internacional. Eles deveriam ter robustos programas antidoping.
Como país-sede da próxima
Olimpíada e da Copa do Mundo, o Brasil tem a obrigação
de ser um modelo na luta
contra o doping?
Não tenho dúvidas. Como
organizador da Copa do
Mundo e dos Jogos Olímpicos e como um país grande, o
Brasil tem o dever de dar
exemplo na luta contra o doping. O mundo assiste à maneira como o Brasil se prepara para esses eventos. Com a
história de sucessos esportivos do país, é fundamental
que garanta a igualdade de
condições a seus atletas. E
que esses [atletas] honrem o
legado do país, ao rejeitarem
o doping, a fim de que nenhuma nuvem de desconfiança paire sobre suas performances.
Qual modelo o Brasil deve seguir para ser um exemplo?
O Brasil precisa criar uma
agência nacional independente. Quando eu digo independente, quero dizer totalmente independente de comitê olímpico nacional, autoridades desportivas e governo. Assim, o Brasil deve
decidir o quanto quer estruturar, financiar e organizar o
seu corpo nacional. O Reino
Unido criou uma nova agência independente com poderes consideráveis, incluindo
os de compartilhamento de
informações com as autoridades policiais para detectar
violações da regra antidoping não diretamente relacionadas com as amostras de
controle de doping. Da mesma forma, na Austrália, as
leis foram promulgadas para
que as informações sejam repartidas entre as agências de
aplicação da lei e da agência
nacional antidoping.
Custa caro para um país manter-se vigilante?
A luta contra a dopagem
no esporte deve ser conduzida de forma inteligente, para
ser eficaz e eficiente. É necessário um investimento financeiro para implementar os
programas de antidoping.
Mas este investimento é ínfimo se comparado ao dinheiro investido no desporto em
geral. Assim, faço uma pergunta simples: você quer que
o esporte seja uma plataforma para o desenvolvimento
pessoal e uma sociedade
saudável, ou que seus filhos
e os seus campeões se tornem arsenais químicos?
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