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AUTOMOBILISMO
Quintal sujo
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
Anteontem à noite, na Globo, o
boletim de pré-temporada da F-1,
revigorado em tempos de Barrichello ferrarista, focou o aspecto
""ecologicamente correto" da categoria na temporada de 2000.
De fato, a FIA avançou em dois
pontos polêmicos do regulamento,
o uso indiscriminado de materiais
considerados tóxicos e a composição da gasolina.
A partir de agora, o berílio, assim como já aconteceu com o
amianto e outros bichos-papões
do meio ambiente, teve sua utilização bastante restringida.
A substância só poderá ser usada em partes internas do motor,
além de ter seu futuro abreviado.
Efeito imediato, acabará sendo
deixado de lado antes mesmo de
proscrito.
Na gasolina, o alvo é o enxofre,
que será banido da mistura, antecipando norma da União Européia que prevê o fim do componente em combustível comum
(aquele com que o cidadão enche
o tanque no posto) apenas para o
ano de 2006.
Para a FIA, foram boas ferramentas de marketing; para os engenheiros, apenas uma nova restrição no regulamento; para os
ambientalistas, como sempre,
pouco.
Enquanto isso, no bananal, a
Petrobras, patrocinadora da Williams e que está pronta para gastar, dizem, US$ 6 milhões para colocar Bruno Junqueira no lugar
de Zanardi na formação titular
do time deste ano, será processada
pelo Ministério Público por provocar uma mancha de óleo de 200
quilômetros quadrados na baía
de Guanabara.
Óbvio, o projeto de F-1 da empresa nada tem a ver com a negligência ou seja lá qual o diagnóstico que será dado ao desastre, mas
a semana, que era para ser apenas
de torcida por Junqueira, agente
voluntário ou não de um grande
passo da petroleira na categoria,
acabou se transformando em um
pesadelo.
Pesadelo frequente (basta lembrar quantos acidentes do tipo
ocorreram em São Sebastião nos
últimos anos) e, como sempre,
passageiro.
Em um país de educação ambiental pífia, ecologia só serve
mesmo para os marqueteiros fazerem comerciais de TV e para pilantras ganharem dinheiro do Estado com indenizações indecentes
obtidas nas chamadas áreas de
preservação.
A F-1 está longe de ser algo que a
FIA quer, ""ecologicamente correta", pois está fundamentada no
carro, sinônimo de monstro para
qualquer ambientalista.
Mas é possível evoluir na questão, algo que a entidade até se esmera em fazer.
A Petrobras poderia seguir o
exemplo e, no lugar de comprar
passarinhos mortos de crianças
pobres, imitar a Exxon, que no
acidente no Alasca gastou bilhões,
anos atrás, para transformar um
desastre ecológico em genuína ferramenta de marketing.
Mas, claro, estamos longe disso.
Assim como estamos longe do automobilismo verde idealizado pela FIA. É mais fácil esquecer.
NOTAS
Atraso
Se na Europa a gasolina sem
enxofre tem data para acabar,
no Brasil ainda nem banimos o
chumbo, algo que não existe
mais nos países desenvolvidos
e é um dos itens que mais poluem o ar.
Avanço
Não é só a FIA que vem se
preocupando com o meio ambiente. A FIM baniu a gasolina
de alta octanagem (e de composição perigosa) há alguns
anos no motociclismo.
Tendência
A Williams divulgou a nova
pintura de seus carros pela Internet. A Benetton teve programa especial em seus sites oficiais no lançamento do modelo 2000. A BAR promete transmitir, pelo endereço eletrônico
da Honda, toda a cerimônia de
lançamento de seu novo carro,
nos próximos dias. Virou moda. Talvez não haja esporte
mais afeito à rede mundial de
computadores do que a F-1.
E-mail mariante@uol.com.br
José Henrique Mariante escreve aos sábados
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