São Paulo, Sábado, 22 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AUTOMOBILISMO
Quintal sujo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Anteontem à noite, na Globo, o boletim de pré-temporada da F-1, revigorado em tempos de Barrichello ferrarista, focou o aspecto ""ecologicamente correto" da categoria na temporada de 2000.
De fato, a FIA avançou em dois pontos polêmicos do regulamento, o uso indiscriminado de materiais considerados tóxicos e a composição da gasolina.
A partir de agora, o berílio, assim como já aconteceu com o amianto e outros bichos-papões do meio ambiente, teve sua utilização bastante restringida.
A substância só poderá ser usada em partes internas do motor, além de ter seu futuro abreviado. Efeito imediato, acabará sendo deixado de lado antes mesmo de proscrito.
Na gasolina, o alvo é o enxofre, que será banido da mistura, antecipando norma da União Européia que prevê o fim do componente em combustível comum (aquele com que o cidadão enche o tanque no posto) apenas para o ano de 2006.
Para a FIA, foram boas ferramentas de marketing; para os engenheiros, apenas uma nova restrição no regulamento; para os ambientalistas, como sempre, pouco.
Enquanto isso, no bananal, a Petrobras, patrocinadora da Williams e que está pronta para gastar, dizem, US$ 6 milhões para colocar Bruno Junqueira no lugar de Zanardi na formação titular do time deste ano, será processada pelo Ministério Público por provocar uma mancha de óleo de 200 quilômetros quadrados na baía de Guanabara.
Óbvio, o projeto de F-1 da empresa nada tem a ver com a negligência ou seja lá qual o diagnóstico que será dado ao desastre, mas a semana, que era para ser apenas de torcida por Junqueira, agente voluntário ou não de um grande passo da petroleira na categoria, acabou se transformando em um pesadelo.
Pesadelo frequente (basta lembrar quantos acidentes do tipo ocorreram em São Sebastião nos últimos anos) e, como sempre, passageiro.
Em um país de educação ambiental pífia, ecologia só serve mesmo para os marqueteiros fazerem comerciais de TV e para pilantras ganharem dinheiro do Estado com indenizações indecentes obtidas nas chamadas áreas de preservação.
A F-1 está longe de ser algo que a FIA quer, ""ecologicamente correta", pois está fundamentada no carro, sinônimo de monstro para qualquer ambientalista.
Mas é possível evoluir na questão, algo que a entidade até se esmera em fazer.
A Petrobras poderia seguir o exemplo e, no lugar de comprar passarinhos mortos de crianças pobres, imitar a Exxon, que no acidente no Alasca gastou bilhões, anos atrás, para transformar um desastre ecológico em genuína ferramenta de marketing.
Mas, claro, estamos longe disso. Assim como estamos longe do automobilismo verde idealizado pela FIA. É mais fácil esquecer.

NOTAS Atraso
Se na Europa a gasolina sem enxofre tem data para acabar, no Brasil ainda nem banimos o chumbo, algo que não existe mais nos países desenvolvidos e é um dos itens que mais poluem o ar.

Avanço
Não é só a FIA que vem se preocupando com o meio ambiente. A FIM baniu a gasolina de alta octanagem (e de composição perigosa) há alguns anos no motociclismo.

Tendência
A Williams divulgou a nova pintura de seus carros pela Internet. A Benetton teve programa especial em seus sites oficiais no lançamento do modelo 2000. A BAR promete transmitir, pelo endereço eletrônico da Honda, toda a cerimônia de lançamento de seu novo carro, nos próximos dias. Virou moda. Talvez não haja esporte mais afeito à rede mundial de computadores do que a F-1.

E-mail mariante@uol.com.br


José Henrique Mariante escreve aos sábados

Texto Anterior: Ginástica: Hypólito volta ao Fla após briga
Próximo Texto: + Esporte - Pratique: Curso de mergulho propicia lazer, com custo elevado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.