São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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Edmundo cobra cheque sem fundo de Luxemburgo

Jogador emprestou R$ 400 mil em 1999 ao então técnico da seleção, alegou que eram amigos, mas nunca foi pago

RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Vanderlei Luxemburgo pegou R$ 400 mil de Edmundo em 1999. Seria apenas um empréstimo entre amigos, hoje pendenga judicial, não fosse pelo fato de o primeiro, naquele ano, ser o técnico da seleção brasileira, e o segundo, um aspirante ao time nacional.
Para pagar o débito, o treinador deu dois cheques ao jogador. Um deles não tinha fundos e foi devolvido para o banco. A dívida nunca foi quitada. E o atacante palmeirense passou a cobrá-la, na Justiça do Rio, no final do ano passado.
No processo, obtido pela Folha, advogados de Edmundo classificam Luxemburgo como um "amigo" do jogador, ao justificar o empréstimo. Hoje, ambos têm até o mesmo advogado, mas não nesta ação. Michel Assef defende o atacante e o treinador em processos criminais. Neste caso, atua ao lado do técnico na Justiça cível.
A relação dos dois sempre foi conturbada -em 1994, quando estavam no Palmeiras, discutiram e chegaram a trocar socos.
Em junho de 1999, o treinador deixou o jogador de fora da Copa América, apesar de boas atuações no final do primeiro semestre pelo Vasco. Na ocasião, questionado sobre Edmundo e Romário, não quis responder, mas disse que queria jogadores que se adequasse à sua filosofia, em referência a problemas disciplinares.
O empréstimo de Edmundo a Luxemburgo aconteceu algum tempo depois desse episódio -no processo, a data não foi informada. Fato é que o treinador deu dois cheques pré-datados de R$ 200 mil ao jogador, agendados para 11 de agosto e 11 de setembro.
Em 23 de agosto, Edmundo tentou depositar um cheque, mas ele não tinha fundos. Foi devolvido pelo Bank Boston.
Na ação, advogados do palmeirense contam que o técnico pediu que ele não usasse os cheques até que recebesse um aviso. A justificativa de Luxemburgo era que "estava tentando pagar suas dívidas, que na época eram muitas", dizem os advogados.
O ano de 1999, porém, foi um nos quais o técnico ganhou mais dinheiro na sua carreira, segundo dados da CPI do Futebol, no Senado, que devassou sua vida um ano mais tarde -segundo relatório, ele recebeu R$ 5,922 milhões, com débitos de R$ 5,6 milhões.
Depois do empréstimo, Luxemburgo só mudaria de opinião sobre a utilidade de Edmundo na seleção em maio de 2000, quando chamou o jogador para a partida contra o Peru, pelas eliminatórias da Copa-2002. Foi a única vez.
Na ocasião, o atacante voltava de 50 dias de contusão e só tinha atuado três vezes pelo Vasco, sem destaque. "Não esperava ser convocado. Voltei a jogar há uma semana. Além disso, não estou no melhor da minha forma", declarou o jogador, na época.
Foi também a única chance que o jogador teve após a Copa de 1998, quando saiu criticando a comissão técnica da seleção pela atuação no episódio da crise nervosa de Ronaldo. Expulso na partida do Peru, só voltaria ao time nacional com outro técnico, Leão.
Segundo seus advogados na ação, Edmundo cobra a dívida do técnico há seis anos. E não pode mais usar os cheques, que têm prazo de seis meses. Então, entrou com processo em que pede R$ 1,066 milhão de Luxemburgo, valor que corresponde ao dinheiro emprestado mais juros e multas.
No início de fevereiro, a juíza da 25ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Simone Gastesi Crevrand, mandou o técnico pagar a dívida ou oferecer embargos à execução (tentativa de suspender a ordem). Ele ainda não foi intimado.
Se Luxemburgo nada fizer, Edmundo terá direito a um título executivo judicial contra o treinador. Ou seja, poderá penhorar bens do técnico do Santos. "Sou advogado de ambas as partes e isso pode facilitar o acordo", disse Michel Assef. "Não quero mais falar nada, nem o Luxemburgo."
Advogado de Edmundo, Luiz Roberto Leven Siano confirmou a existência do processo. "Não quero fazer comentários sobre o caso que está na Justiça", disse.


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