São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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FUTEBOL

Estilos diferentes e eficientes

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar do mau estado do gramado, por causa do inverno e das chuvas, Chelsea e Barcelona devem fazer hoje em Londres uma belíssima partida. Os dois jogos pela Copa dos Campeões do ano passado estão entre as melhores partidas dos últimos tempos.
Embora tenham desenhos táticos quase idênticos, Chelsea e Barcelona são brilhantes representantes de dois estilos diferentes e eficientes.
De um lado, o futebol mais ousado, criativo, habilidoso, de toque de bola, dribles e também organizado do Barcelona. Do outro, o estilo mais pragmático, equilibrado, previsível, prudente e também inteligente do Chelsea.
As duas equipes atuam no antigo 4-3-3. Quando o Chelsea perde a bola, os dois atacantes pelos lados recuam e marcam. Quando recupera a bola, os dois "pontas" e mais dois dos três armadores se juntam ao centroavante. O Chelsea ataca e defende com muitos jogadores, sonho de todos os treinadores.
Já o Barcelona marca mais à frente, troca muitos passes no campo adversário, avança com os dois laterais e dois armadores, além dos três atacantes. Em compensação, deixa muitos espaços para os lançamentos longos nas costas dos defensores. O Chelsea aproveitou muito disso nos dois jogos do ano passado.
O Barcelona deveria correr hoje menos riscos. Um empate e até uma derrota por um gol de diferença são bons resultados, ainda mais se fizer um gol. Como o Chelsea tem apenas um atacante fixo pelo meio, não adianta recuar o volante Edmilson para a zaga. Seria melhor a defesa marcar mais atrás, para diminuir os espaços nas costas dos zagueiros, e segurar mais os laterais.
Será um jogo equilibrado. Vou torcer para o Barcelona, que joga mais bonito.

Papo com o mestre
Com freqüência, alguém diz que no passado os jogadores tinham mais espaço para jogar. É verdade. Mas isso era bom somente para os craques. Os medianos, com mais espaço, não podiam esconder suas limitações. Grosso era grosso. Não enganavam como agora.
Nesses dias, conversei com o mestre Armando Nogueira. Concordamos que alguns brilhantes jogadores atuais, porém frágeis fisicamente e menos aguerridos, como Roger, Alex e outros, jogam menos do que poderiam, por causa da dura marcação e da falta de espaço.
Ronaldinho Gaúcho é o craque que é hoje porque, além de ser bem dotado fisicamente e ter um extraordinário talento, aprendeu a jogar contra marcadores o empurrando e chutando seus tornozelos. Ronaldinho ignora e/ou engana os brucutus e não deixa que eles estraguem a sua festa.

Pior do que era
Depois de Petkovic, as grandes virtudes do Fluminense no ano passado eram o avanço de Gabriel e Juan e o talento de Arouca. O Flu trocou os dois alas por dois laterais medianos, e o substituto de Arouca, Rogério, não tem a mesma qualidade.
Nas outras posições, o clube não contratou jogadores melhores do que tinha, com exceção do goleiro Diego. O habilidoso, irregular e frágil Pedrinho é mais famoso, mas não é mais eficiente do que o regular e esforçado Leandro. O técnico do ano passado também era superior ao que acabou de sair e ao que entrou.

Onipotência da imagem
A excessiva tolerância dos árbitros brasileiros com a violência e os seus graves erros na marcação de impedimentos e de pênaltis, como o não marcado a favor do América contra o Botafogo na final da Taça Guanabara, acontecem com a mesma freqüência em todo o mundo.
Os árbitros brasileiros são muito piores do que os europeus somente na excessiva marcação de faltas. Basta o jogador cair para o árbitro marcar a infração.
Os programas de televisão deveriam discutir mais os erros dos árbitros que podem ser corrigidos. Mas os comentaristas de arbitragem falam muito mais sobre coisas raras e inúteis e sobre as falhas que somente são vistas pelas mil câmeras e pelo tira-teima. Essas não são falhas. São limitações humanas, que não vão diminuir.
Essas discussões servem muito mais para valorizar a tecnologia da televisão e para vender a idéia de que é preciso assistir à TV Globo para saber realmente o que aconteceu.
É a onipotência da imagem.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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