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vento a favor
Receita anula multas e cria precedente
Débito de R$ 21 milhões de confederação, resultado de parceria com bingo, é cancelado na esfera administrativa do fisco
Apesar de vitória, vela ainda reponde por dívida de R$ 128 mi, mas decisão pode beneficiar entidades de
14 esportes olímpicos
ADALBERTO LEISTER FILHO
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Confederação Brasileira de
Vela e Motor conquistou anteontem importante vitória na
esfera administrativa da Receita Federal. A CBVM teve anuladas três multas referentes a antigas ligações com bingos. A decisão abre precedente para que
outras entidades esportivas
consigam parecer semelhante.
"Essa primeira decisão é para
três autos de fiscalização, que
totalizam R$ 21 milhões. Mas
ela abre a possibilidade de que
isso se estenda a outras multas", conta Paulo Morais, advogado da confederação de vela.
Apesar da vitória, a CBVM
recebeu ontem nova autuação,
desta vez de R$ 44 milhões.
"Acabei de recebê-la. Todas
foram do mesmo fiscal, o que
demonstra que há perseguição", reclama Carlos Luiz Martins, presidente da CBVM.
Com as sete multas já aplicadas mais a que levou ontem, a
entidade tem pendente na esfera administrativa da Receita
um débito de R$ 128 milhões.
O problema levou Lars Grael
a renunciar à presidência da
CBVM após assumir. Se o caso
fosse à Justiça comum, a diretoria estaria sujeita a prisão por
sonegação fiscal. Para evitar tal
vexame, o Comitê Olímpico
Brasileiro nomeou, então, Martins interventor, há um ano.
A vela manteve parceria com
o Bingo Augusta por pouco
mais de dez anos -o acordo foi
encerrado em 2007. Nesse período, segundo dirigentes, recebeu menos de R$ 5 milhões.
Segundo Morais, o fisco entende que, por causa do bingo, a
confederação teria que ser tratada como uma empresa de direito privado e não mais como
entidade sem fins lucrativos.
Nesse caso, seria obrigada a
pagar tributos: imposto de renda de pessoa jurídica, PIS, Cofins e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
A pendência já impede que a
CBVM possa desenvolver projetos para captar recursos via
lei de incentivo ao esporte.
Caso seja condenada, perde
direito de receber verba da Lei
Piva, que destina parte da arrecadação das loterias ao esporte.
A decisão favorável, porém, é
um alento às entidades esportivas. Além da vela, a canoagem
também tem dívidas com a Receita por conta de sua antiga
parceria com bingo -seu débito é de cerca de R$ 4 milhões.
A herança de dívidas dos bingos, fechados no país por falta
de regulamentação, também
atingiu federações filiadas a outras 12 entidades olímpicas, entre as quais atletismo, boxe, hipismo, lutas, triatlo e vôlei.
Uma das atingidas foi a Federação Paulista de Boxe, que deve R$ 12 milhões à Receita. Segundo o presidente da entidade, Newton Campos, seria impossível quitar esse valor.
"Não tínhamos nada a ver
com os problemas do bingo.
Com essa decisão [anular multas da vela], acho que se abre
uma porta, uma esperança. Estamos apelando para amigos
para fazer nossos torneios."
A reivindicação das federações chegou ao Ministério do
Esporte, que divulgou ter criado, com o COB, um grupo de
trabalho para examinar o problema. Procurada, a pasta não
quis se pronunciar ontem.
Já o comitê continua negando a existência de tal comissão.
Segundo a entidade, "esse assunto [dívidas por causa dos
bingos] diz respeito a cada entidade, sem a presença do COB".
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