São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

Os bandidos estão vencendo


Sobre a violência nos estádios, os únicos especialistas que seguem na ativa são os torcedores uniformizados

A ÚNICA medida prática após a guerra entre a polícia e a torcida do Corinthians, domingo passado, foi a indicação do promotor Arnaldo Hossepian Júnior para apurar o que houve no Morumbi. O promotor é o mesmo do caso do buraco da estação Pinheiros do Metrô.
Dois anos depois de a cratera se abrir na marginal, 13 pessoas foram indiciadas e nenhuma foi presa.
No dia 15 de fevereiro de 2007, os torcedores Alessandro Almeida Borges Pereira e Edmílson José da Silva foram condenados a 14 anos de prisão pelo assassinato de Marcos Gabriel Cardoso Soares, na estação Barra Funda do Metrô. O homicídio aconteceu em 2004, num dia de Palmeiras x Corinthians. Por incrível que pareça, tem havido prisões em casos ligados às torcidas uniformizadas. Mas, muito pior do que a impunidade, é a sensação de que ninguém é punido, e essa sensação segue intacta na sociedade.
Nas uniformizadas, nem tanto.
Uma das cenas mais impressionantes do domingo passado foi o canto "a violência voltou". Não nos avisaram se algum dia ela foi embora, mas, pelo visto, os uniformizados tiveram essa impressão. Opinião respeitável dos únicos que nunca abandonaram as arquibancadas.
Eis o ponto: você deixa de ir ao estádio. Eles não. Em novembro, o promotor Paulo Castilho reuniu-se com o presidente Lula para discutir um pacote de novas leis específicas para a violência no futebol. Há 20 anos, todo mundo sabe que a legislação específica é a única medida concreta para diminuir a violência e a sensação de impunidade. O pacote nunca saiu do papel, porque a Justiça brasileira prefere seguir seu eterno debate: punir ou educar. Enquanto isso, gente morre nas ruas. A caminho do estádio ou não.
Em São Paulo, quem hoje cuida da violência nos estádios entrou no assunto há pouco tempo. Seja o promotor Paulo Castilho, seja Arnaldo Hossepian ou o coronel Hervando Velozo, da PM. O maior especialista paulista na guerra das torcidas é o coronel Marcos Marinho. Sua função atual? Diretor de árbitros!
Quer dizer que os únicos especialistas em violência que seguem na ativa são os torcedores uniformizados. Esses olham para as novas autoridades e cantam: "A violência voltou!".
Não se acaba com a violência sem entender do assunto. Sem saber o que funcionou e fracassou na Itália, na Argentina, na Inglaterra ou no Brasil. Os vândalos não serão presos porque você não vai ao estádio. A única chance é cobrar quem tem obrigação de prendê-los. Se o presidente Lula entregou ao Ministério da Justiça o pacote de leis específicas para o futebol -pretende enviar ao Congresso em março-, o ministro Tarso Genro terá de dar explicações depois da próxima morte, se a legislação não estiver aprovada.
Não, não vou dizer para você ir ou levar seu filho ao estádio. Digo apenas que eu vou. Num sábado de sol, há um ano e meio, meu filho de sete anos e eu fomos a uma festa de aniversário. Ao descer do carro e colocar meu filho no ombro, senti um revólver na barriga e um homem estranho me segurando pelas costas.
Era um assalto em plena luz do dia.
Continuo pagando impostos e cobrando segurança. Nunca vou deixar de ir a festas de aniversário.

pvc@uol.com.br


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