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Teste para a Copa falha na segurança
Maior clássico sul-africano vira laboratório para o Mundial, mas cambista e maconha ficam incólumes perto da polícia
Duelo no Soweto atrai cerca de 40 mil pessoas, e guardas ficam focados em impedir que torcida ocupasse as escadarias da arquibancada
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Para os torcedores que acabaram lotando o Orlando Stadium, o maior clássico do futebol sul-africano valia muito
pouco, além de uma oportunidade de fazer soar vuvuzelas,
vestir máscaras e chapéus berrantes, cantar e dançar.
Para os organizadores da Copa de 2010, o "dérbi do Soweto"
de anteontem, realizado no famoso distrito de mesmo nome
em Johannesburgo, teve importância muito maior. Foi um
dos últimos grandes testes esportivos no país antes do começo do Mundial, em junho.
Cerca de 40 mil pessoas
enfrentaram sol forte para o
que pode ser chamado de o
Fla-Flu da África do Sul: Orlando Pirates contra Kaizer
Chiefs, vizinhos e arquirrivais
do bairro, com torcidas que se
equivalem no fanatismo.
Foi, pela primeira vez em
muitos anos, um dérbi que começou com ambos os lados sem
chance de erguer o título sul-
-africano. E que terminou num
0 a 0 condizente com um jogo
morno no campo, embora pelando nas arquibancadas.
Apesar de uma impressão
geral de ordem e tranquilidade,
a reportagem presenciou falhas
de segurança, mesmo com o
grande número de policiais em
serviço. Cambistas operavam
discretamente perto da entrada principal do estádio, a poucos metros das autoridades.
Um deles, de chapéu verde
usado em safáris e forte bafo de
cerveja, aproximou-se, primeiro perguntando ao repórter se
tinha algum ingresso sobrando
para doar. "Quero muito ver futebol hoje, cara, muito..."
Após receber a resposta negativa, revelou a verdadeira intenção. "Não quero de graça.
Eu pago 20 rands [R$ 5]."
Nova negativa, e ele deu a última cartada. "E comprar,
quer? Te vendo por 100 rands."
Mais do que o dobro do preço
da bilheteria, 40 rands.
Em cerca de meia hora, foram três abordagens semelhantes. Tudo a menos de cem
metros de meia dúzia de policiais que acompanhavam a movimentação sonolentamente.
"Por enquanto, sem ocorrências", disse o oficial Matobe.
O "perímetro de segurança"
ao redor do estádio, que deve
ser aplicado na Copa, também
falhou. Garotos vendiam bebidas e cigarros na entrada principal, sem ter autorização.
O Orlando Stadium, mais tradicional dos estádios sul-africanos dedicados ao futebol, foi
submetido recentemente a
uma reforma e deve ser utilizado como campo de treinamento durante a Copa do Mundo.
O clássico tinha sabor de teste também porque Irvin Khoza,
presidente da liga sul-africana
de futebol, que promove o campeonato nacional, é ao mesmo
tempo chefe do comitê organizador do Mundial-2010.
A chegada e a saída de torcedores não foram um problema
na partida. Muitos deles recorreram a um novo sistema de
corredores de ônibus que é a
grande aposta para desafogar o
trânsito em Johannesburgo.
Quem chegou de carro pelas
largas avenidas que dão acesso
ao estádio enfrentou pouco
congestionamento e conseguiu
parar facilmente nos vários
bolsões ao lado do estádio, pelo
modesto preço de 20 rands.
No interior do Orlando Stadium, havia conforto para as
multidões sentadas em cadeiras individuais e um sistema de
rampas escoando facilmente os
torcedores. Os banheiros mostravam-se relativamente limpos. E notou-se a ausência quase total de violência, apesar da
cerveja consumida em grande
escala em copos de papelão.
Porém, em diversos pontos
do estádio, sentia-se cheiro de
maconha, outra brecha evidente no esquema de segurança.
Além disso,o controle de circulação era mínimo, e o acesso
ao campo, fácil demais. Para
chegar ao gramado, sem ninguém importunar com pedidos
de credencial, era preciso apenas pular uma corrente de menos de meio metro de altura e
avançar por um corredor.
Guardinhas barrigudos e já
passados da meia-idade preocupavam-se mais em impedir
que torcedores exaltados ocupassem as escadarias das arquibancadas. A cada invasão, ainda
que mínima, vinha o pito e uma
cara feia. "Tem gente que não
entende, mesmo você falando
de um jeito simpático", disse
Peter, um dos bedéis de torcida.
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