São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Dérbi negro atrai mais brancos e destaca "armas sonoras" da torcida

DE JOHANNESBURGO

Não é sem razão que o dérbi de Soweto é considerado o maior evento esportivo negro da África do Sul.
Tanto que no máximo 1% dos espectadores presentes anteontem era branco, proporção que é um décimo da existente no país como um todo. O que, na verdade, é um avanço, porque até dez anos atrás nenhum branco se arriscaria no Soweto.
Mas, no último sábado, havia alguns no Orlando Stadium, desafiando o senso comum de que brancos só gostam de rúgbi. Duas senhoras já passadas dos 60 anos tinham as bochechas pintadas com uma caveira e dois ossos cruzados em "x", símbolo do Orlando Pirates.
A branca Jen Hodson, torcedora do Kaizer Chiefs, marcou presença pela primeira vez no dérbi e declarou que voltaria. Mas não aguentou a barulheira. Dobrou o ingresso e o improvisou como tampão de ouvido.
Culpa das já famosas vuvuzelas (cornetas de plástico) e de suas crescentes variações nos estádios. A mais perturbadora é a momozela, que emite um som estridente que ora parece o de gatos brigando, ora de um bebê se esgoelando. Perto da momozela, a vuvuzela é música ambiente de consultório.
Fazer barulho o tempo todo é uma marca registrada do clássico entre Orlando Pirates e Kaizer Chiefs, e a partida, que proporcionou poucos lances de emoção, contribuiu para a atenção se deslocar definitivamente para as arquibancadas.
Sem a "ola", que parece não ter pego na África do Sul, as torcidas recorrem ao que poderia ser chamado de "pulo do canguru", saltando em câmera lenta, com os cotovelos dobrados junto ao corpo, e berrando "uh!". A cada aterrissagem sincronizada da massa, um pequeno tremor atinge o estádio.
Mesmo no urbanizado Soweto, referências à cultura tradicional africana estão presentes. Njebe Maselala, torcedor dos Chiefs, levou uma bolsa ao estádio feita de um gambá sem cabeça e com as vísceras retiradas. "É um amuleto", explicou.
Numa das inúmeras musiquinhas cantadas na língua zulu, os Chiefs entoam que os aficionados dos Pirates "não pagam lobola", o que é uma ofensa grave. "Lobola" é o dote que o noivo precisa pagar à família da noiva, um costume das áreas rurais. Casar sem fazê-lo equivale a um sequestro.
Preocupada com a cantoria, a torcida acabou dando um refresco aos jogadores. Nenhuma vaia em 90 minutos, apesar do futebol sofrível, e poucos xingamentos. Os fãs dos Pirates reclamaram da ausência de seu principal jogador, o meio-campista Teko Modise, que estava contundido. Mas foi só.
Na saída, decepção geral pela ausência de gols. "Eles não queriam marcar. Ninguém chutava a gol. Você não via nenhuma paixão em campo", desabafou Xolani Madiba, torcedor dos Pirates. "Parecia que estavam todos muito cansados", afirmou Thabo Warden, da torcida dos Chiefs. (FZ)


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