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Dérbi negro atrai mais brancos e destaca "armas sonoras" da torcida
DE JOHANNESBURGO
Não é sem razão que o dérbi
de Soweto é considerado o
maior evento esportivo negro
da África do Sul.
Tanto que no máximo 1% dos
espectadores presentes anteontem era branco, proporção
que é um décimo da existente
no país como um todo. O que,
na verdade, é um avanço, porque até dez anos atrás nenhum
branco se arriscaria no Soweto.
Mas, no último sábado, havia
alguns no Orlando Stadium,
desafiando o senso comum de
que brancos só gostam de rúgbi. Duas senhoras já passadas
dos 60 anos tinham as bochechas pintadas com uma caveira
e dois ossos cruzados em "x",
símbolo do Orlando Pirates.
A branca Jen Hodson, torcedora do Kaizer Chiefs, marcou
presença pela primeira vez no
dérbi e declarou que voltaria.
Mas não aguentou a barulheira.
Dobrou o ingresso e o improvisou como tampão de ouvido.
Culpa das já famosas vuvuzelas (cornetas de plástico) e de
suas crescentes variações nos
estádios. A mais perturbadora é
a momozela, que emite um som
estridente que ora parece o de
gatos brigando, ora de um bebê
se esgoelando. Perto da momozela, a vuvuzela é música ambiente de consultório.
Fazer barulho o tempo todo é
uma marca registrada do clássico entre Orlando Pirates e Kaizer Chiefs, e a partida, que proporcionou poucos lances de
emoção, contribuiu para a
atenção se deslocar definitivamente para as arquibancadas.
Sem a "ola", que parece não
ter pego na África do Sul, as torcidas recorrem ao que poderia
ser chamado de "pulo do canguru", saltando em câmera lenta, com os cotovelos dobrados
junto ao corpo, e berrando
"uh!". A cada aterrissagem sincronizada da massa, um pequeno tremor atinge o estádio.
Mesmo no urbanizado Soweto, referências à cultura tradicional africana estão presentes.
Njebe Maselala, torcedor dos
Chiefs, levou uma bolsa ao estádio feita de um gambá sem
cabeça e com as vísceras retiradas. "É um amuleto", explicou.
Numa das inúmeras musiquinhas cantadas na língua zulu, os Chiefs entoam que os aficionados dos Pirates "não pagam lobola", o que é uma ofensa
grave. "Lobola" é o dote que o
noivo precisa pagar à família da
noiva, um costume das áreas
rurais. Casar sem fazê-lo equivale a um sequestro.
Preocupada com a cantoria, a
torcida acabou dando um refresco aos jogadores. Nenhuma
vaia em 90 minutos, apesar do
futebol sofrível, e poucos xingamentos. Os fãs dos Pirates reclamaram da ausência de seu
principal jogador, o meio-campista Teko Modise, que estava
contundido. Mas foi só.
Na saída, decepção geral pela
ausência de gols. "Eles não
queriam marcar. Ninguém
chutava a gol. Você não via nenhuma paixão em campo", desabafou Xolani Madiba, torcedor dos Pirates. "Parecia que
estavam todos muito cansados", afirmou Thabo Warden,
da torcida dos Chiefs.
(FZ)
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