São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros LOS GRINGOS JOHN CARLIN Mais a desprezar O Real tem muito a comemorar na temporada, mas, fora de campo, o clube jamais desceu tão baixo É DIFÍCIL não considerar a rivalidade entre o Barcelona e o Real Madrid, hoje, como o bom versus o feio. Não por causa da maneira como o Real joga, que é muito admirável e que poderia ser considerada quase excelente, não fosse o nível espantosamente alto do futebol exibido pelo Barcelona. A feiura vem do técnico do Real, que, embora seja brilhante no que faz -como ele mesmo não cansa de nos lembrar-, tem o mesquinho hábito de tentar desmerecer o Barça. Diz que o motivo para que o time lidere o Espanhol está em os juízes favorecerem os catalães e que o calendário do futebol espanhol é distorcido para impedir que os atletas do Real atinjam sua melhor forma. Trata-se ou de paranoia ou de guerra psicológica. Muito aquém do "señorío", ou seja, da honra e da nobreza que o clube alega ter como seu traço mais característico. Pior ainda foi o boato espalhado na direção do Real de que o Barcelona se sai tão bem só porque seus jogadores estão se dopando. O Real jamais desceu tão baixo e jamais caiu em tão vil desgraça. O mais lamentável é que tal atitude é desnecessária. O Real fez jogos excelentes, tem resultados positivos e conta com atletas do mais alto nível, como Cristiano Ronaldo e Özil. Além disso, um terceiro jogador provou ser a grande revelação do futebol espanhol e uma das maiores do europeu na temporada: o brasileiro Marcelo. Aos 21 anos, parece destinado a manter a tradição de laterais excelentes do Brasil e pode se tornar um herdeiro digno do notável Roberto Carlos. Marcelo parece capaz de correr o dia e a noite inteiros e continuar correndo no dia seguinte. É perseverante e inteligente na defesa, joga com a habilidade dos mais ardilosos pontas no ataque, passa bem e faz gols. É um batalhador que inspira os colegas, uma força moral no time e motivo de esperanças por um futebol brilhante do Brasil na Copa. Boa parte do crédito disso cabe a Mourinho, que o ajudou a melhorar, adicionando vigor defensivo e posicionamento inteligente ao seu talento natural. O Real Madrid tem muito a comemorar na temporada, especialmente a evolução de Marcelo. É lamentável que, fora de campo, o técnico e o dirigente futriqueiro não identificado que espalhou o boato sobre o doping do rival tenham maculado a reputação do time, com suas mentirinhas sórdidas, e levado toda a torcida espanhola, exceto a do próprio Real, a desprezar a equipe. JOHN CARLIN é colunista do diário espanhol "El País" Tradução de PAULO MIGLIACCI Texto Anterior: Foco: Terceiro maior medalhista da Olimpíada morre na Rússia Próximo Texto: Europa: Uefa ameaça tirar Bósnia do futebol mundial Índice | Comunicar Erros

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