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JUCA KFOURI
As críticas de Pelé
Adoro discutir futebol com
Pelé. Adoro provocá-lo e, como arrogância pouca é bobagem, adoro divergir dele.
A começar pelo começo, pela
posição de goleiro.
Por motivos óbvios, o goleiro
predileto do rei atende pelo
nome de Edinho.
Até aí tudo bem, nada mais
natural e nem comento.
Mas é daí em diante que o
carro pega para valer.
Pelé me dá a impressão de
ter sido tão extraordinariamente bom (e foi!!!) pelos gramados do mundo afora que
acaba não prestando muita
atenção quando está fora de
campo.
Aquilo que ele fazia era tão
espontâneo, sua intuição tão
fabulosa, que, ao comentar jogos e jogadas dos outros, acaba exigindo que façam como
ele fazia e, desnecessário dizer, comete injustiças.
Não é de hoje, por exemplo,
que Pelé olha desconfiado para a dupla Ro-Ro.
Ora ele acha que os dois têm
estilos semelhantes e por isso
não podem jogar juntos, ora
ele avalia que Romário não
tem mais condições físicas para disputar a Copa.
Então, brigamos.
Provoco ele, digo que é ciúmes e tento ensinar o Padre
Nosso ao vigário.
Como são estilos semelhantes, se Romário é o bicho dentro da área, e Ronaldinho é
vigoroso, capaz de levar uma
defesa inteira de roldão?
Como são estilos parecidos
se Romário já provou ser capaz de servir maravilhosamente, e Ronaldinho nasceu
para ser servido?
Ele me olha com aquele
olhar de superioridade e diz
que o problema no Brasil é
que a maioria dos críticos jamais jogou futebol.
Não me calo, é claro, nem
me abalo e retruco com Tostão, que também escala a dupla Ro-Ro sem pestanejar.
Pelé sorri com aquele sorriso
de superioridade e responde
que Tostão é mineiro e não
quer comprar brigas já perdidas, ao contrário dele, que dá
a cara para bater.
"E você também não é mineiro, uai?", pergunto, certo
de que ganhei a discussão.
"Sou, mas daqueles raros
que dão uma boiada por um
boa briga", arremata.
Verdade. Pelé não foge de
uma boa discussão e quando
critica o excesso de jogos inúteis feitos pela seleção está
apenas constatando o óbvio,
sem medo de ferir suscetibilidades ou o bolso da CBF.
Mas que está enganado em
relação a Romário e Ronaldinho está, tão enganado como
quem achava que Pelé e Tostão não podiam jogar juntos,
né Zagallo?
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