São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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FUTEBOL

Contra pirataria, entidade vasculha até estações de metrô e impede que Mundial vire oportunidade publicitária

Patrulha da Fifa retrai economia da Copa

ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

A Fifa resolveu radicalizar a patrulha contra os patrocínios "piratas" da Copa do Mundo, mas pode estar exagerando na dose e dando um tiro no próprio pé.
Para o torneio que começa na próxima semana, a entidade preparou um esquema inédito que inclui até fiscalização das estações de metrô próximas aos estádios, uma tentava de evitar que o Mundial vire oportunidade publicitária para outras empresas que não as patrocinadoras oficiais.
Entretanto, as repetidas ameaças contra quem tentar se aproveitar do torneio provocaram um retraimento das companhias indesejado até pela própria Fifa.
No Japão, por exemplo, a pressão da entidade faz com que muitas empresas evitem até mesmo entrevistas jornalísticas sobre temas correlatos ao Mundial.
"A Fifa e o Jawoc [o comitê organizador do lado japonês" implementaram regras estritas para as companhias. Elas não podem falar em público sobre a Copa ou sobre seus efeitos a menos que sejam patrocinadoras ou fornecedoras oficiais do evento", justifica Mitsuru Shinozaki, porta-voz do Keidanren, a poderosa associação empresarial do país.
Não é para tanto, explica a Fifa Marketing AG, braço criado em julho do ano passado para cuidar da publicidade do Mundial em substituição à ISL, que faliu.
"A Fifa não proíbe pronunciamentos públicos sobre a Copa, ela encoraja as discussões sobre o torneio, até permite que a imprensa utilize os símbolos do Mundial de forma não-comercial", afirma David Gill, chefe do Programa de Proteção aos Direitos dos Patrocinadores da Copa.
Quem não vai ter paz, diz a Fifa, serão as empresas que tentarem obter ganhos comerciais. Para isso, preparou um esquema que conta com grandes mudanças em relação ao último Mundial.
Primeiro, desenvolveu em 120 países um programa de registro de patentes de abrangência inédita. Também espalhou uma rede de advogados que agilizarão a abertura de processos judiciais.
Além disso, contratou uma empresa para rastrear a internet em busca de usos irregulares dos símbolos da Copa. Outra medida terá efeito no Japão e na Coréia: um grupo vai vasculhar os arredores dos estádios à procura de promoções que a entidade considere ilegais. "Eles irão então chamar a atenção das autoridades", diz Gill.
Antes de a Copa começar, a caça às bruxas já está em andamento.
Na semana passada, a Fifa forçou uma fabricante irlandesa de cerveja a encerrar uma promoção que usava a logomarca da Copa.
"Vamos continuar a agressivamente proteger a Fifa e seus parceiros", diz Patrick Magyar, executivo-chefe da Fifa Marketing.
Os advogados espalhados pelo mundo já abriram mais de 600 processos em 51 países. A taxa de sucesso nas decisões é de 90%.
Na internet, a empresa contratada para fazer o trabalho de detetive já encontrou cerca de 300 problemas. Nesses casos, porém, a aposta é que as soluções sejam encontradas fora dos tribunais -a Fifa confia no bom trânsito da firma com provedores e sites.
São apenas 15 as empresas chamadas "patrocinadoras oficiais"", que podem estampar o logo, os mascotes e o troféu da Copa. Esses direitos são limitados até mesmo para os "fornecedores", o segundo escalão das empresas comercialmente ligadas ao Mundial.
Do ponto de vista das parceiras, o combate à pirataria está facilitado nesta Copa, pois há times separados para negociar os contratos.
Além da necessidade de garantir ao máximo a satisfação de seus patrocinadores, especialmente num momento difícil financeiramente para a Copa, a Fifa Marketing tem um motivo especial para se empenhar neste Mundial.
Sua própria sobrevivência está sendo colocada em xeque dentro do comando do futebol -há quem a considere muito dispendiosa para o retorno que gera.



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