São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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Ativistas pró-baleias tentam pegar carona na Copa

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

Se na Coréia a polêmica é o cachorro, no Japão a discussão é sobre baleia. Grupos contrários à caça do animal querem usar a Copa para fazer barulho e levar a opinião pública contra o governo.
Na semana em que será oficialmente inaugurado o Centro Internacional de Imprensa em Yokohama, cidade que abrigará a final do Mundial, em 30 de junho, os ativistas fizeram um protesto contra o que chamam de lobby pró-caça de baleia.
Exigem que a Fifa tome uma posição como no caso do consumo de carne de cachorro na Coréia. No ano passado, a entidade pediu ao governo coreano que a tirasse do cardápio dos restaurantes pelo menos durante a Copa.
Não conseguiu. Para se defender, os sul-coreanos alegaram que o consumo de carne de cachorro é mínimo e pode ser considerado um traço cultural. Chegou a lembrar que, se na Coréia há gente que gosta de cachorro, no Japão há quem coma baleia.
A Fifa, então, preferiu o silêncio, enquanto grupos de proteção aos animais chegaram a pedir o boicote aos jogos na Coréia.
No Japão, agora, o quadro é parecido. Desde anteontem a Comissão Internacional sobre Baleias está reunida no país, onde realiza sua 54ª assembléia.
Com apoio de 11 países do Caribe, Oceania e África, o governo japonês pediu à comissão a retomada do comércio do animal e acusou os ativistas contra a pesca de impedirem que nações menos poderosas se desenvolvam.
Daven Joseph, representante de Antigua, chegou a dizer que EUA, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia, todos eles contrários à matança de baleias, formam um pacto de intolerância contra a diversidade cultural no planeta.
Tsutomu Takebe, ministro da Pesca, Agricultura e Meio Ambiente do Japão, fez um discurso na abertura do encontro, que vai até sexta-feira, defendendo o uso comercial da baleia.
"Queremos a retomada do comércio [do animal] de maneira sustentável, não predatória. Países menores, cujas economias dependem da pesca, estão sendo prejudicados", declarou.
Para ele, uma coisa é a caça ao animal selvagem por prazer, outra, por necessidade.
O governo argumenta ainda que o aumento do número de baleias no mar é um perigo para os peixes, já que estaria reduzindo a quantidade de certas espécies. Não à toa os ativistas pró-caça de baleia exibiam camisetas onde se lia, em inglês: "As baleias aumentam, os peixes diminuem, e as pessoas seguem em dificuldades".
Mas as ONGs contrárias à posição do governo dizem que a tese é furada. "Não há base científica alguma para dizerem que são as baleias que estão matando os peixes. Se algumas espécies hoje são menos numerosas é porque existe a pesca predatória. E ela também deve ser combatida", disse Takashi Inamoto, um dos líderes do protesto de ontem.
Para ele, o único interesse do Japão na discussão é econômico. ""O governo não está interessado em preservar espécie alguma e sim em fabricar argumentos para lucrar o máximo possível."
Empolgando-se no discurso, Inamoto aproveitou ainda para criticar a direção da Fifa. "Era um momento para eles fazerem alguma coisa de útil. Se se pronunciaram no caso do cachorro, não poderiam ficar calados no da baleia. Mas como é hora de eleição [para a presidência da Fifa, no próximo dia 29], acho que eles estão mais preocupados com os próprios interesses. É a vida."



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