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Ativistas pró-baleias tentam pegar carona na Copa
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA
Se na Coréia a polêmica é o cachorro, no Japão a discussão é sobre baleia. Grupos contrários à
caça do animal querem usar a Copa para fazer barulho e levar a
opinião pública contra o governo.
Na semana em que será oficialmente inaugurado o Centro Internacional de Imprensa em Yokohama, cidade que abrigará a final do Mundial, em 30 de junho,
os ativistas fizeram um protesto
contra o que chamam de lobby
pró-caça de baleia.
Exigem que a Fifa tome uma posição como no caso do consumo
de carne de cachorro na Coréia.
No ano passado, a entidade pediu
ao governo coreano que a tirasse
do cardápio dos restaurantes pelo
menos durante a Copa.
Não conseguiu. Para se defender, os sul-coreanos alegaram que
o consumo de carne de cachorro é
mínimo e pode ser considerado
um traço cultural. Chegou a lembrar que, se na Coréia há gente
que gosta de cachorro, no Japão
há quem coma baleia.
A Fifa, então, preferiu o silêncio,
enquanto grupos de proteção aos
animais chegaram a pedir o boicote aos jogos na Coréia.
No Japão, agora, o quadro é parecido. Desde anteontem a Comissão Internacional sobre Baleias está reunida no país, onde
realiza sua 54ª assembléia.
Com apoio de 11 países do Caribe, Oceania e África, o governo japonês pediu à comissão a retomada do comércio do animal e acusou os ativistas contra a pesca de
impedirem que nações menos
poderosas se desenvolvam.
Daven Joseph, representante de
Antigua, chegou a dizer que EUA,
Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia, todos eles contrários à matança de baleias, formam um pacto de intolerância contra a diversidade cultural no planeta.
Tsutomu Takebe, ministro da
Pesca, Agricultura e Meio Ambiente do Japão, fez um discurso
na abertura do encontro, que vai
até sexta-feira, defendendo o uso
comercial da baleia.
"Queremos a retomada do comércio [do animal] de maneira
sustentável, não predatória. Países menores, cujas economias dependem da pesca, estão sendo
prejudicados", declarou.
Para ele, uma coisa é a caça ao
animal selvagem por prazer, outra, por necessidade.
O governo argumenta ainda
que o aumento do número de baleias no mar é um perigo para os
peixes, já que estaria reduzindo a
quantidade de certas espécies.
Não à toa os ativistas pró-caça de
baleia exibiam camisetas onde se
lia, em inglês: "As baleias aumentam, os peixes diminuem, e as
pessoas seguem em dificuldades".
Mas as ONGs contrárias à posição do governo dizem que a tese é
furada. "Não há base científica alguma para dizerem que são as baleias que estão matando os peixes.
Se algumas espécies hoje são menos numerosas é porque existe a
pesca predatória. E ela também
deve ser combatida", disse Takashi Inamoto, um dos líderes do
protesto de ontem.
Para ele, o único interesse do Japão na discussão é econômico. ""O
governo não está interessado em
preservar espécie alguma e sim
em fabricar argumentos para lucrar o máximo possível."
Empolgando-se no discurso,
Inamoto aproveitou ainda para
criticar a direção da Fifa. "Era um
momento para eles fazerem alguma coisa de útil. Se se pronunciaram no caso do cachorro, não poderiam ficar calados no da baleia.
Mas como é hora de eleição [para
a presidência da Fifa, no próximo
dia 29], acho que eles estão mais
preocupados com os próprios interesses. É a vida."
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