São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

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Copa 2006

Regina Brandão alertará como time "imbatível" pode perder foco

Especialista tem pesquisa mostrando que atletas brasileiros perdem a motivação quando são considerados favoritos


"Já ganhou" faz Parreira usar psicóloga do penta

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada parece afetar o discurso de confiança e tranqüilidade que Carlos Alberto Parreira propaga sempre que se refere à seleção brasileira. Nos bastidores, porém, o treinador buscou auxílio de uma especialista para incrementar suas técnicas de motivação antes da Copa.
A eleita: Regina Brandão, a mesma psicóloga que trabalhou com Luiz Felipe Scolari na campanha de 2002.
Ela se reuniu com toda a comissão técnica do Brasil em duas oportunidades antes do embarque de ontem para Weggis, cidade suíça na qual o time vai treinar para o Mundial. Em pauta, estratégias para evitar atritos entre atletas e, especialmente, caminhos para mantê-los focados no torneio.
"O Parreira tinha algumas preocupações sobre como lidar com o grupo. Não tivemos tempo de avaliar atleta por atleta, mas conversamos bastante. Acho que ele agora tem informações importantes, que vão ajudá-lo a tomar decisões durante a Copa", diz Regina.
Um dos temas que mais intrigaram o técnico surgiu em pesquisa apresentada pela psicóloga. A conclusão de seu estudo, baseado no perfil psicológico de 800 jogadores, mostrou que os brasileiros, quando apontados como favoritos em uma partida ou um campeonato, acabam perdendo a motivação.
"Como muita gente já dá como certo o título ao Brasil, é natural que o Parreira fique ressabiado com esse clima de "já ganhou". É preciso dar atenção individualizada aos jogadores, para evitar que fiquem dispersos e percam o foco na Copa", explica Regina.
Ela acredita que os brasileiros são movidos a desafios e que o técnico precisa explorar tal faceta. "Tudo pode ser usado como incentivo: desde prêmios em dinheiro até provocações de outras seleções", afirma.
A psicóloga apresentou também outros dados colhidos em seus mais de 20 anos de trabalho com esportistas para ajudar Parreira a planejar a logística de sua equipe, inclusive a distribuição de atletas nos hotéis.
Regina acredita que jogadores costumam suportar até 20 dias de convivência conjunta sem arroubos. Depois, conflitos podem começar a aparecer.
Como a Copa obriga o elenco a permanecer junto por quase dois meses, ela recomenda quartos individuais durante todo o período da disputa. "Fizemos isso em 2002. Parece bobagem, mas ajuda a evitar desgastes. Durante um Mundial, os jogadores precisam se sentir bem para jogar bem."
Pensamentos como esse não são seguidos exclusivamente pela comissão técnica do Brasil. Scolari não abandonou Regina após conquistar o penta e também utiliza seus serviços na seleção portuguesa -a psicóloga traçou perfil dos atletas antes da Eurocopa-2004 e agora prepara um vídeo para auxiliar o grupo na Alemanha.
"O Parreira conversou com o Felipão no ano passado antes de me contratar. Também creio não haver problemas em trabalhar para os dois. São seleções distintas, com jogadores de perfis totalmente diferentes."
Ela sabe que suas informações poderiam ser um ótimo diferencial num eventual embate entre os dois times. Afirma, todavia, que os dados são confidenciais e nunca iria repassá-los a técnicos rivais.
Mas para quem vai torcer caso ocorra um Brasil x Portugal? A psicóloga tergiversa: "Vou torcer apenas para que façam um lindo jogo de futebol."


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