SÉRGIO RANGEL
da Sucursal do Rio

A Confederação Brasileira de Futebol está convidando cerca de 60 pessoas para assistir de graça à Copa do Mundo na França. O custo da operação deverá ficar, na estimativa mais conservadora feita pela Folha, em cerca de R$ 260 mil, relativo a despesas com passagens aéreas, estadias em hotéis, levando-se em consideração os preços básicos desses itens.
Os convidados da CBF -que não admite publicamente a existência da lista e se recusa a revelar os nomes que a compõem- terão direito a passagens aéreas, estadia em hotéis parisienses com meia pensão (café da manhã e uma refeição), ingressos para os jogos do Brasil e acesso aos treinos.
Entre eles estão os presidentes das 27 federações de futebol do país e os dos principais clubes brasileiros, que têm direito a voto na eleição da presidência da CBF.
O titular da entidade, Ricardo Teixeira, foi escolhido por unanimidade de votos na última eleição.
Teixeira está no terceiro mandato, e as próximas eleições estão marcadas para daqui a dois anos.
Os convites estão sendo feitos pelo secretário-geral da CBF, Marco Antônio Teixeira, tio do presidente. Os convidados poderão levar acompanhantes na viagem.
Nenhum deles tem função executiva na delegação oficial.
Funcionários do alto escalão da CBF, os presidentes e auditores dos dois tribunais da entidade -Tribunal Especial e Superior Tribunal de Justiça Desportiva- também foram convidados.
O desembargador da 6ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Luiz Zveiter, disse ontem que foi convidado e aceitou.
"Não há problema nenhum em aceitar o convite. Trabalho no tribunal, um órgão independente da CBF, sem receber salários, porque gosto de futebol e não vejo nada de mais", disse Zveiter, que deverá embarcar para a França antes da estréia do Brasil no torneio.
O ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Antonio Carlos Amorim disse que recebeu o convite da CBF, mas não aceitará "para não abandonar a campanha a deputado federal pelo PFL. Apenas por isso não vou ver o Brasil ser penta na França".
Amorim afirmou que recebeu muitas críticas por ter aceitado o convite da CBF e viajado para a Copa de 94. "Os dirigentes da CBF jamais tiveram a audácia de fazer qualquer solicitação ao Tribunal, no período em que fui presidente", afirmou Amorim, que deixou o cargo há um ano.
O advogado Luiz Cláudio Bezerra de Menezes, presidente do TE (Tribunal Especial da CBF), disse que assistiu às últimas duas Copas com todas as despesas custeadas pela entidade. "Se receber o convite, aceitarei."
Alguns dos dirigentes de clubes e federações que estão sendo convidados pela CBF são deputados federais e participaram do grupo coordenado por Eurico Miranda (PPB-RJ) contra a aprovação da Lei Pelé no Congresso.
A lista ainda não está fechada. Mais pessoas vinculadas ao futebol poderão receber convites.
Os custos devem ser cobertos pelas verbas dos contratos publicitários firmados pela CBF. Além disso, caso o time chegue à final, a CBF receberá R$ 6,2 milhões.
Em 94, a CBF já havia pago a viagem e a estadia de pelo menos 60 pessoas que foram assistir os jogos da Copa dos EUA. Na ocasião, Ricardo Teixeira disse que "os interesses da CBF" determinavam a escolha da lista. Procurado para comentar o caso, Teixeira repetiu frase que tem dito nos últimos meses: "Não falo com a Folha".



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