São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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FUTEBOL

Bye Bye, Brasil

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Luis Fabiano e Vagner Love, os dois melhores centroavantes em atividade no país, afivelam as malas e embarcam para outros gramados. O atacante do São Paulo vai para a Espanha, enquanto Love prepara-se para atuar no futebol russo. Enquanto isso, Alex, outra das poucas estrelas que atuavam por aqui, aparece nos jornais vestindo o uniforme de seu novo time. Turco.
A debandada continua. Vai arrastando desde craques formados e jogadores promissores a outros, menos cotados, que saem do país a valores reduzidos e vão sabe-se lá para onde.
Boa parte da crônica esportiva e de profissionais ligados ao futebol assiste a esse processo com um conformismo irritante. O discurso padrão, que serve basicamente para encobrir as causas mais profundas da crise dos clubes, é culpar a Lei Pelé pelo fim do passe e constatar que a Europa é mais rica, o que tornaria a fuga de jogadores algo inexorável.
Por esse raciocínio, a grande ambição do futebol brasileiro seria andar para trás, restaurando a ignominiosa lei do passe de modo que os clubes -e seus dirigentes, obviamente- pudessem se aproveitar melhor do inevitável comércio de jogadores para os centros mais ricos.
Ora, o que o futebol brasileiro precisa é repensar-se de maneira profunda e encontrar um modelo de geração de receitas que não se concentre unicamente na transferência de jogadores. É preciso trabalhar para tornar o futebol do país uma atividade sustentável dentro de padrões condizentes com o potencial que ele tem. É fato que o pólo europeu sempre atrairá grandes estrelas, mas o que temos visto é muito mais do que isso: um êxodo amplo e incontrolável de jogadores de todos os tipos -e cada vez mais jovens- para os mais diversos países, muitos deles, em situação econômica semelhante ou mesmo inferior à do Brasil, como as citadas Rússia e Turquia.
Parece claro que se deve evoluir para a separação entre as estruturas clubísticas e o futebol. Os clubes, tal como se estruturam, tiveram um papel fundamental ao longo da história, mas acontece que o futebol, queiramos ou não, tornou-se uma poderosa atividade econômica ligada à indústria do entretenimento, que exige gestão própria, profissional e transparente. A atual estrutura clubística não é compatível com a nova realidade do futebol. Transformou-se numa amarra, quando o que se precisa é de uma plataforma de lançamento.
A indispensável reformulação da relação clube-futebol, deve ser acompanhada de uma reestruturação das entidades esportivas (é preciso limitar a renovação de mandatos de dirigentes, por exemplo) e de novos avanços na organização do calendário (como a redução a 18 dos participantes do Brasileiro).
Esses temas estão novamente em pauta com os debates sobre o Estatuto do Esporte. Seria triste se mais uma vez fosse desperdiçada a chance de avançar na direção de uma organização mais ambiciosa e limpa de nosso futebol.

Preju no Flamengo
Um pequeno exemplo dos erros de gestão de nosso futebol: o mega-endividado Flamengo (que poderia ser uma máquina de ganhar dinheiro) desembolsa pagamentos regulares para 11 ex-treinadores e, durante 12 anos, continuará saldando uma dívida com Romário.

A grande chance
Caiu do céu para o Flamengo essa final da Copa do Brasil. É a chance de o clube dar uma aliviada na situação. Só falta agora avisar ao brioso Santo André -que, pelo que mostrou até aqui, vai ser dureza.

Eurobola
Quem estava achando ruim já pode achar bom. Tivemos jogos muito bons no fim de semana da Eurocopa, com direito a belos gols e muita emoção.

E-mail mag@folhasp.com.br


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