São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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Análise

A paixão pelo futebol é igual, mas a torcida...

HAKUI KAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Samba e futebol. O brasileiro é famoso por gostar de festivais e grandes eventos. O povo japonês, porém, não fica atrás. Em todos os cantos do Japão existem festivais para cada estação do ano. O japonês começou a se interessar por futebol entre os anos 70 e 80, quando eu acompanhava o esporte, o mundo do futebol japonês estava na "Idade das Trevas". A Liga Nacional (JFL) era pouco popular, e no Estádio Nacional (55 mil pessoas) não juntava mais de mil. Só os fãs mais jovens tinham situação confortável. Como não havia muitos guardas nos estádios, era possível, após o jogo, saltar para dentro do campo e pegar o autógrafo de ídolos. Naquela época -até na Olimpíada-, o Japão não tinha participação (a última vez que havia participado foi no México-68), sendo que a Copa não era algo para se fazer parte, e sim algo para se ver. Mas a reforma trouxe mudanças. Em 93, surge a J-League (a Liga Japonesa de Futebol). Foi uma febre, com estádios cheios e a aparição de atletas profissionais. Em 94, não jogamos a Copa, mas logo o Japão foi escolhido sede do evento, somando três participações. Com as idas às Copas, isso virou rotina. Festivais e futebol. Apesar de Brasil e Japão terem isso em comum, há diferenças marcantes, como o anseio, a pretensão em relação à seleção. Os 170 milhões de brasileiros dizem-se técnicos de sua seleção. No Japão, há fenômeno semelhante. Isso nasce nos jovens e entre os "salarymen" na faixa dos 40, 50 anos. Mas o japonês tem um papel "assistencialista". Já é de longa data que se diz que o time é fraco. Não só porque o Japão tem pouca chance nos torneios. A atitude do torcedor é problema. Os atletas do Brasil são observados. Se falham, críticas recaem sobre eles, e a torcida se afasta. Logo, se o time não joga a Copa de corpo e alma, cairá no esquecimento. É lamentável, mas a J-League não tem um clima tão rigoroso à sua volta, e o torcedor não faz como o brasileiro. Ouvimos: "Podemos vencer a Austrália e a Croácia!". Antes da Copa, alguém de uma certa associação japonesa de futebol disse: "Os australianos têm 60%, os croatas 70%, e os brasileiros 90% de chances de serem vitoriosos nas partidas. É um grupo cruel. O Japão pode amargar três derrotas. Mas houve quem falasse que a vitória era certa. Ora, a primeira participação em Copas do Japão foi em 98, e já se ouve que o Japão será campeão...". Brasil sempre foi solidário com o Japão. Nos anos 70, surgiu Nelson Yoshimura. Depois, Mutou Kijima e Kazuyoshi Miura foram se aperfeiçoar no Brasil. A J League nasce, e os brasileiros são fundamentais. Isso explica o fato de chamar para técnico da seleção Zico, que não tinha experiência como tal. Historicamente, esta é a melhor seleção japonesa de todas. Mas, após a derrota pela Austrália, tudo ficou confuso. Contra o Brasil, o Japão contenta-se em empatar. Infelizmente é nessa pequena expectativa que seus torcedores se encontram.


HAKUI KAN é japonês e jornalista free-lancer
Tradução de ÉRICO MOLERO


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