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Análise
A paixão pelo futebol é igual, mas a torcida...
HAKUI KAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Samba e futebol. O brasileiro é famoso por gostar de
festivais e grandes eventos. O
povo japonês, porém, não fica atrás. Em todos os cantos
do Japão existem festivais
para cada estação do ano.
O japonês começou a se interessar por futebol entre os
anos 70 e 80, quando eu
acompanhava o esporte, o
mundo do futebol japonês
estava na "Idade das Trevas".
A Liga Nacional (JFL) era
pouco popular, e no Estádio
Nacional (55 mil pessoas)
não juntava mais de mil.
Só os fãs mais jovens tinham situação confortável.
Como não havia muitos
guardas nos estádios, era
possível, após o jogo, saltar
para dentro do campo e pegar o autógrafo de ídolos. Naquela época -até na Olimpíada-, o Japão não tinha
participação (a última vez
que havia participado foi no
México-68), sendo que a Copa não era algo para se fazer
parte, e sim algo para se ver.
Mas a reforma trouxe mudanças. Em 93, surge a J-League (a Liga Japonesa de
Futebol). Foi uma febre, com
estádios cheios e a aparição
de atletas profissionais. Em
94, não jogamos a Copa, mas
logo o Japão foi escolhido sede do evento, somando três
participações. Com as idas às
Copas, isso virou rotina.
Festivais e futebol. Apesar
de Brasil e Japão terem isso
em comum, há diferenças
marcantes, como o anseio, a
pretensão em relação à seleção. Os 170 milhões de brasileiros dizem-se técnicos de
sua seleção. No Japão, há fenômeno semelhante. Isso
nasce nos jovens e entre os
"salarymen" na faixa dos 40,
50 anos. Mas o japonês tem
um papel "assistencialista".
Já é de longa data que se diz
que o time é fraco. Não só
porque o Japão tem pouca
chance nos torneios. A atitude do torcedor é problema.
Os atletas do Brasil são observados. Se falham, críticas
recaem sobre eles, e a torcida
se afasta. Logo, se o time não
joga a Copa de corpo e alma,
cairá no esquecimento.
É lamentável, mas a J-League não tem um clima tão rigoroso à sua volta, e o torcedor não faz como o brasileiro. Ouvimos: "Podemos vencer a Austrália e a Croácia!".
Antes da Copa, alguém de
uma certa associação japonesa de futebol disse: "Os
australianos têm 60%, os
croatas 70%, e os brasileiros
90% de chances de serem vitoriosos nas partidas. É um
grupo cruel. O Japão pode
amargar três derrotas. Mas
houve quem falasse que a vitória era certa. Ora, a primeira participação em Copas do
Japão foi em 98, e já se ouve
que o Japão será campeão...".
Brasil sempre foi solidário
com o Japão. Nos anos 70,
surgiu Nelson Yoshimura.
Depois, Mutou Kijima e Kazuyoshi Miura foram se
aperfeiçoar no Brasil. A J
League nasce, e os brasileiros
são fundamentais. Isso explica o fato de chamar para técnico da seleção Zico, que não
tinha experiência como tal.
Historicamente, esta é a
melhor seleção japonesa de
todas. Mas, após a derrota
pela Austrália, tudo ficou
confuso. Contra o Brasil, o
Japão contenta-se em empatar. Infelizmente é nessa pequena expectativa que seus
torcedores se encontram.
HAKUI KAN é japonês e jornalista free-lancer
Tradução de ÉRICO MOLERO
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