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FÁBIO SEIXAS
Tarde demais
Só agora, após sete etapas,
a Ferrari começa a perceber que executou mal a transição para a vida pós-Schumacher
A
TÉ MÔNACO, tudo ia bem, obrigado. A Ferrari somava três
vitórias em quatro corridas, e
Massa despontava como candidato
natural da escuderia na perseguição
ao título. Era terceiro no Mundial,
mas a apenas um ponto do vice-líder, Alonso, e a três de Hamilton,
ainda um bibelô, uma curiosidade, a
nova atração do velho circo bizarro.
Mas veio Mônaco. Dobradinha da
McLaren. Veio Montréal. Vitória do
inglês, convertido naquele domingo
em gente grande, em piloto sério,
em concorrente à taça. E veio Indianápolis. Dobradinha da McLaren.
Hoje, passadas 7 das 17 etapas do
Mundial, 41% do caminho, tudo vai
mal, muito mal. Massa continua
sendo o ferrarista mais bem colocado, mas sua distância para o líder, a
sensação Hamilton, saltou para 19
pontos. Para o vice-líder, é de nove.
Raikkonen? Esquece, é carta fora do
baralho, está a 26 pontos da liderança e não esboça sinais de reação.
No ano passado, depois de Indianápolis, Schumacher tinha a mesma
desvantagem em relação ao líder,
Alonso, 19 pontos. E foi buscar. Levou a disputa até Interlagos. Havia
um agravante: o GP dos EUA era o
10º de 18. Mas havia um atenuante,
um gigantesco atenuante. Ei, estamos falando de Schumacher aqui.
Schumacher que, não por coincidência, foi ressuscitado como piloto
nos últimos dias. Segundo a revista
alemã "Auto Bild Motorsport",
Raikkonen será chutado do time no
fim do ano, abrindo caminho para o
heptacampeão, tal qual dom Sebastião, solenemente ressurgir e devolver a equipe aos tempos de glória.
É cascata, sou capaz de apostar -a
mesma publicação, em agosto do
ano passado, bancou a permanência
do alemão na Ferrari em 2007, tendo o finlandês como companheiro.
Se escrevi que não é coincidência,
é porque só a existência do zunzunzum ajuda a elucidar o cenário. Esse
tipo de história, verdadeira ou não,
normalmente surge de dentro da
equipe. E essa, especificamente, indica que a Ferrari já experimenta
um clima de nostalgia, já olha com
saudades para seu passado recente.
Massa e Raikkonen não são Schumacher. E, se meses atrás havia dúvidas sobre a capacidade dos dois em
desenvolver carros, elas começam a
ser dirimidas. Ser rápido e agressivo
num carro bom é uma coisa. Transformar um carro ruim num carro
bom exige outras competências.
Esse olhar para o passado também
alcança Brawn. O inglês foi substituído por dois italianos, Baldisserri e
Domenicali, cujas explicações num
comunicado distribuído pelo time
na segunda-feira deixam claro o
quanto estão perdidos -falaram de
pneus, de aerodinâmica e não foram
além de pedir esperança à torcida.
A Ferrari ensaiou, pesou, pensou,
avaliou, mas a verdade é que executou muito mal a transição para sua
vida pós-Schumacher. E, talvez, só
tenha começado a perceber isso agora, após ver a rival vencer três em seqüência e disparar no campeonato.
Agora. Tarde demais.
fseixas@folhasp.com.br
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