São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Tarde demais

Só agora, após sete etapas, a Ferrari começa a perceber que executou mal a transição para a vida pós-Schumacher

A TÉ MÔNACO, tudo ia bem, obrigado. A Ferrari somava três vitórias em quatro corridas, e Massa despontava como candidato natural da escuderia na perseguição ao título. Era terceiro no Mundial, mas a apenas um ponto do vice-líder, Alonso, e a três de Hamilton, ainda um bibelô, uma curiosidade, a nova atração do velho circo bizarro.
Mas veio Mônaco. Dobradinha da McLaren. Veio Montréal. Vitória do inglês, convertido naquele domingo em gente grande, em piloto sério, em concorrente à taça. E veio Indianápolis. Dobradinha da McLaren. Hoje, passadas 7 das 17 etapas do Mundial, 41% do caminho, tudo vai mal, muito mal. Massa continua sendo o ferrarista mais bem colocado, mas sua distância para o líder, a sensação Hamilton, saltou para 19 pontos. Para o vice-líder, é de nove.
Raikkonen? Esquece, é carta fora do baralho, está a 26 pontos da liderança e não esboça sinais de reação. No ano passado, depois de Indianápolis, Schumacher tinha a mesma desvantagem em relação ao líder, Alonso, 19 pontos. E foi buscar. Levou a disputa até Interlagos. Havia um agravante: o GP dos EUA era o 10º de 18. Mas havia um atenuante, um gigantesco atenuante. Ei, estamos falando de Schumacher aqui.
Schumacher que, não por coincidência, foi ressuscitado como piloto nos últimos dias. Segundo a revista alemã "Auto Bild Motorsport", Raikkonen será chutado do time no fim do ano, abrindo caminho para o heptacampeão, tal qual dom Sebastião, solenemente ressurgir e devolver a equipe aos tempos de glória. É cascata, sou capaz de apostar -a mesma publicação, em agosto do ano passado, bancou a permanência do alemão na Ferrari em 2007, tendo o finlandês como companheiro.
Se escrevi que não é coincidência, é porque só a existência do zunzunzum ajuda a elucidar o cenário. Esse tipo de história, verdadeira ou não, normalmente surge de dentro da equipe. E essa, especificamente, indica que a Ferrari já experimenta um clima de nostalgia, já olha com saudades para seu passado recente.
Massa e Raikkonen não são Schumacher. E, se meses atrás havia dúvidas sobre a capacidade dos dois em desenvolver carros, elas começam a ser dirimidas. Ser rápido e agressivo num carro bom é uma coisa. Transformar um carro ruim num carro bom exige outras competências. Esse olhar para o passado também alcança Brawn. O inglês foi substituído por dois italianos, Baldisserri e Domenicali, cujas explicações num comunicado distribuído pelo time na segunda-feira deixam claro o quanto estão perdidos -falaram de pneus, de aerodinâmica e não foram além de pedir esperança à torcida.
A Ferrari ensaiou, pesou, pensou, avaliou, mas a verdade é que executou muito mal a transição para sua vida pós-Schumacher. E, talvez, só tenha começado a perceber isso agora, após ver a rival vencer três em seqüência e disparar no campeonato. Agora. Tarde demais.

fseixas@folhasp.com.br


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