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Tábua de salvaçãoEnfrentando crises na economia e no sumô, Japão encara Copa do Mundo como uma esperança de alegria
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A NARITA
A seleção de futebol é, hoje, mais do que um objeto de
veneração da torcida japonesa. É uma tábua de salvação.
É sua fé em dias melhores.
Na 11ª parada da série "Um
Mundo Que Torce", a Folha
escreve de Narita. Mais especificamente, diante do portão 28-A do terminal 1.
Saindo da Nova Zelândia e
rumo ao México, no que será
o 16º voo, pela 11ª companhia
aérea, em 11 dias, a reportagem passou três horas num
dos aeroportos mais movimentados do planeta, nos arredores de Tóquio.
Correria necessária para
que a programação dos próximos dias se encaixasse.
Mas suficiente.
Porque Narita também respira a Copa. TVs mostram o
tempo todo lances de partidas do Mundial. Nas lojinhas, camisetas da seleção
japonesa são vendidas por
3900 yenes (R$ 74). Bandanas custam 350 yenes (R$ 7).
E são sucessos de vendas.
"Em geral, a população
daqui e a imprensa respeitam muito a seleção. Já os
consideram heróis só por estarem participando da Copa", explica Mitsuo Kawasaki, 40, brasileiro que mora há
13 anos no Japão. "Aqui, apesar de uma grande expectativa, não existe aquela cobrança de ter que vencer sempre."
A imprensa japonesa reflete essa filosofia. Mesmo após
a derrota para a Holanda, no
sábado, por 1 a 0, o time foi
poupado de críticas.
"Nada está perdido", escreveu em sua primeira página o "El Golazo", especializado em futebol. "Audiência de
55% no jogo contra a Holanda", estampou o "Mainichi",
sobre a transmissão da TV. O
site "Ichigoe" destacou que
"Empate com Dinamarca garante vaga na fase final" e fez
as contas: a possibilidade de
passagem para as oitavas de
final é, afirma, de 59,56%.
Classificação que, se vier,
será histórica. A única vez em
que o Japão avançou da primeira fase foi em 2002, no
Mundial que recebeu com a
Coreia do Sul. Fora de casa,
seria inédito. Uma façanha.
Uma notícia boa, enfim,
num país que anda de baixo
astral. No começo do mês,
sem apoio popular, o primeiro-ministro Yukio Hatoyama
renunciou. A população vive
a iminência de um novo aumento de impostos. E a recuperação da crise econômica
global se arrasta no Japão.
Nem o esporte escapou: 65
lutadores e treinadores de
sumô, modalidade financiada pelo Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia, foram flagrados num esquema de
apostas ilegais e estão sendo
investigados. Um importante
torneio nacional, marcado
para Nagoya, no mês que
vem, deve ser cancelado.
Restou a esperança na seleção na Copa do Mundo.
Sentimento que invadiu
até o território sagrado do esporte mais popular do país, o
beisebol: na noite de sábado,
25 mil pessoas assistiram ao
jogo contra a Holanda no
Tokyo Dome, estádio do
Giants. Outros 19 mil torcedores foram ao National Stadium, também na capital.
O jogo contra a Dinamarca
será às 3h30 de sexta, dia de
trabalho numa cidade que
trabalha muito. Os estádios,
porém, devem novamente ficar lotados. Serão japoneses
que não estarão lá apenas
torcendo por sua seleção. Estarão torcendo por seu país.
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