São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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Tábua de salvação

Enfrentando crises na economia e no sumô, Japão encara Copa do Mundo como uma esperança de alegria

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A NARITA

A seleção de futebol é, hoje, mais do que um objeto de veneração da torcida japonesa. É uma tábua de salvação. É sua fé em dias melhores.
Na 11ª parada da série "Um Mundo Que Torce", a Folha escreve de Narita. Mais especificamente, diante do portão 28-A do terminal 1.
Saindo da Nova Zelândia e rumo ao México, no que será o 16º voo, pela 11ª companhia aérea, em 11 dias, a reportagem passou três horas num dos aeroportos mais movimentados do planeta, nos arredores de Tóquio.
Correria necessária para que a programação dos próximos dias se encaixasse.
Mas suficiente.
Porque Narita também respira a Copa. TVs mostram o tempo todo lances de partidas do Mundial. Nas lojinhas, camisetas da seleção japonesa são vendidas por 3900 yenes (R$ 74). Bandanas custam 350 yenes (R$ 7). E são sucessos de vendas.
"Em geral, a população daqui e a imprensa respeitam muito a seleção. Já os consideram heróis só por estarem participando da Copa", explica Mitsuo Kawasaki, 40, brasileiro que mora há 13 anos no Japão. "Aqui, apesar de uma grande expectativa, não existe aquela cobrança de ter que vencer sempre."
A imprensa japonesa reflete essa filosofia. Mesmo após a derrota para a Holanda, no sábado, por 1 a 0, o time foi poupado de críticas.
"Nada está perdido", escreveu em sua primeira página o "El Golazo", especializado em futebol. "Audiência de 55% no jogo contra a Holanda", estampou o "Mainichi", sobre a transmissão da TV. O site "Ichigoe" destacou que "Empate com Dinamarca garante vaga na fase final" e fez as contas: a possibilidade de passagem para as oitavas de final é, afirma, de 59,56%.
Classificação que, se vier, será histórica. A única vez em que o Japão avançou da primeira fase foi em 2002, no Mundial que recebeu com a Coreia do Sul. Fora de casa, seria inédito. Uma façanha.
Uma notícia boa, enfim, num país que anda de baixo astral. No começo do mês, sem apoio popular, o primeiro-ministro Yukio Hatoyama renunciou. A população vive a iminência de um novo aumento de impostos. E a recuperação da crise econômica global se arrasta no Japão.
Nem o esporte escapou: 65 lutadores e treinadores de sumô, modalidade financiada pelo Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia, foram flagrados num esquema de apostas ilegais e estão sendo investigados. Um importante torneio nacional, marcado para Nagoya, no mês que vem, deve ser cancelado.
Restou a esperança na seleção na Copa do Mundo.
Sentimento que invadiu até o território sagrado do esporte mais popular do país, o beisebol: na noite de sábado, 25 mil pessoas assistiram ao jogo contra a Holanda no Tokyo Dome, estádio do Giants. Outros 19 mil torcedores foram ao National Stadium, também na capital.
O jogo contra a Dinamarca será às 3h30 de sexta, dia de trabalho numa cidade que trabalha muito. Os estádios, porém, devem novamente ficar lotados. Serão japoneses que não estarão lá apenas torcendo por sua seleção. Estarão torcendo por seu país.


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