São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2011

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ENTREVISTA NEYMAR

Quem dá a palavra final sempre sou eu, tenho que ser feliz

ASTRO SANTISTA, QUE HOJE DISPUTA O TÍTULO DA LIBERTADORES, DIZ QUE SÓ DEIXA O CLUBE POR ALGO QUE LHE DÊ FELICIDADE MAIOR QUE A ATUAL

Ricardo Nogueira/Folhapress
Neymar, durante a entrevista concedida à Folha no CT Rei Pelé

ENVIADO ESPECIAL A SANTOS

Neymar, 19, parou e pensou sempre antes de responder às perguntas que a Folha lhe fez, anteontem, após o penúltimo treino do Santos antes da decisão desta noite ante o Peñarol pelo título da Libertadores da América.
Estratégia que foi ensinada ao jogador para evitar declarações polêmicas que pudessem criar conflito e desvalorizar o atleta que detém hoje o maior potencial de venda do futebol brasileiro.
É assim desde que o Chelsea, no ano passado, propôs acordo milionário ao jovem, então com 18 anos, e foi rejeitado graças ao poder de convencimento do Santos.
Foi prometida a Neymar participação em contratos publicitários que colocariam seu salário no patamar do oferecido pelos ingleses, além de uma série de investimentos que iam de cursos de idiomas a treinamentos que ensinariam ao atacante como lidar com a imprensa.
Trabalho intensificado pouco depois, após a discussão pública com seu então treinador, Dorival Jr. É dentro de campo, porém, que Neymar tem dado motivos para o número cada vez maior de especulações que o colocam, em breve, nos maiores clubes da Europa.
Todas elas rechaçadas pelo jogador, "contente em poder jogar ao lado da família". Agora, os rumores vêm de Madri. O Real estaria disposto a bancar a multa de 45 milhões (R$ 102 milhões) que prende Neymar ao Santos.
À Folha o garoto garantiu não pensar no futuro, mas espera que, lá na frente, possa olhar para trás e se orgulhar da carreira que construiu. (LEONARDO LOURENÇO)

 

Folha - Você entra em campo como a estrela do time, numa final de Libertadores. Como é, aos 19 anos, liderar o grupo em uma competição tão importante como essa?
Neymar -
Com a mesma tranquilidade que eu venho tendo em todas as partidas. Sempre digo que é só mais um jogo, apesar de ser uma final de Libertadores. É uma competição muito importante para mim, para o Santos, para todos os joga- dores. Vai ser muito bom, muito legal. Espero sair com a conquista.

E a responsabilidade de ir ao gramado com todos esperando que você faça algo diferente? É complicado?
Não, não é não. É tranquilo. Vou jogar o futebol que eu venho jogando e vou mostrar isso na quarta [hoje].

De que forma a chegada de Muricy Ramalho ajudou você e o Santos nesta disputa da Libertadores?
Ele trouxe o espírito vitorioso, que passou para o grupo, que assimilou isso aos poucos. Chegou um momento em que, se continuar assim, a gente não perde para ninguém. O espírito que o Muricy tem, de vencer, de querer ganhar, é muito grande. Nosso time tem esse espírito. [Hoje] vamos entrar com toda a vontade, para vencer e conquistar mais este título.

Você estreou como profissional em 2009, venceu dois Paulistas, uma Copa do Brasil, é titular da seleção e maior esperança para o Mundial-2014. Dá para se acostumar com a rapidez com que as coisas têm acontecido?
Sou um cara que, querendo ou não, as coisas acontecem muito cedo pra mim. Estou muito feliz pelos campeonatos, pelos jogos, pela carreira que eu tenho construído. Espero cada vez mais continuar conquistando essas coisas, mesmo novo.

Descobrir que será pai mudou algo em você?
Faz pouco tempo [que eu soube], mas até agora não mudou muito. Continuo o mesmo Neymar. Muda só a responsabilidade.

Como você encara hoje a briga com o Dorival Jr., no ano passado? Realmente serviu para seu amadurecimento?
Aquele episódio me ajudou muito. Foi muito triste, mas um dos que mais me ajudaram, não profissionalmente, mas pessoalmente. Aquilo me ajudou com a minha família, a mudar no meu ambiente de trabalho.

Qual sua expectativa para a Copa América?
Encaro com tranquilidade. O que eu faço no Santos, quero fazer na seleção, ajudar meu país. Espero ser campeão no meu primeiro torneio com a seleção brasileira.

Faz pouco menos de um ano que você disse não para uma proposta do Chelsea. Olhando para trás, como foi?
Foi um momento muito difícil, de decidir e recusar uma proposta do Chelsea, que era milionária. Eu fiz, com certeza, a escolha certa de ter ficado. Até hoje não me arrependo nem um pouco. E a final da Libertadores é um fato que me faz ter mais certeza. Eu buscava desde pequeno disputar a Libertadores pelo Santos, conquistar títulos no clube e, se Deus quiser, vamos vencer mais um.

Seu nome é envolvido em especulações semanalmente. Você pensa onde vai estar daqui a um, dois ou cinco anos?
Não penso assim, eu estipulo minhas metas por campeonato. Em cada trabalho dou meu máximo, a cada campeonato também. Tento construir uma boa carreira para daqui a cinco anos eu falar: "Pô, consegui tudo o que queria, conquistei o que quis". Eu só penso no agora.

Com tantos boatos, existe algo que pode fazer você deixar o Santos hoje?
Ninguém sabe o dia de amanhã. Estou feliz no Santos, estou feliz no Brasil, jogando ao lado da minha família. Para me tirar daqui agora, só me fazendo mais feliz do que estou hoje.

A Olimpíada, em 2012, ou a Copa de 2014 pode pesar na sua decisão de deixar ou não o Santos se surgir algo?
Acho que não, vai ser a mesma coisa. Tenho contrato com o Santos, pretendo cumpri-lo. Quero ficar, mas não vai ser um campeonato que vai me fazer sair ou ficar.

Você é cercado de assessores, que palpitam em tudo na sua carreira. Tem o Wagner [Ribeiro], que é seu empresário, seu pai, que você tem como principal conselheiro, o Duda [Eduardo Musa], que representa o Santos, o Ronaldo, que agora cuida da sua imagem. Tanta gente em cima de você o deixa confortável?
Isso me ajuda muito, tenho um monte de pessoas para resolver tudo para eu poder focar só no futebol. Isso me ajuda bastante.

Mas qual é o peso da sua palavra nas decisões tomadas sobre a sua carreira?
Todo. Quem dá a palavra final sou eu, que sou o jogador, que tenho que estar feliz no ambiente de trabalho. Meu pai faz tudo, negocia, conversa, mas quem dá a palavra final sempre sou eu.


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