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RODRIGO BUENO
Foi ele que começou
É questionável pôr quase no mesmo nível quem deu uma cabeçada e quem xingou
a mãe do rival no campo
QUANTAS vezes já li e ouvi que
o futebol é coisa lúdica, brincadeira de criança, lazer acima de tudo. Esse olhar meio romântico e infantil do esporte, porém, é
cada vez mais utopia. Nem as seguidas campanhas de fair play pelo
mundo têm eliminado ou reduzido
as sacanagens e o "vale tudo para
vencer". A Copa que acabamos de
ver e a Libertadores que estamos
vendo são ótimos exemplos disso.
Assistimos, talvez, ao Mundial
mais tosco da história, com explosão
de cartões amarelos e vermelhos,
gols em segundo plano, marcadores
se destacando como nunca e a consagração de Materazzis e Scolaris. E
o abismo que separava os bons meninos dos garotos levados, se não
existe mais, agora é algo pequeno.
O lance mais polêmico da Copa teve seu desfecho só nas últimas horas, quando a Fifa decidiu "multar" e
"punir" tanto o "mocinho" Zidane
quanto o "vilão" Materazzi. A mamãe da "família do futebol" protegeu no caso, sim, seu filho favorito. É
tão inovador quanto questionável
colocar quase no mesmo nível quem
deu uma cabeçada e quem xingou a
mãe do rival no campo. Buscando
coerência, os técnicos que são flagrados por microfones ou por leituras labiais falando palavrões deveriam ser multados. Clubes cujos torcedores ofendam a mãe dos árbitros
teriam que receber multa. O mesmo
castigo valeria para os juízes que atacam verbalmente atletas e para os
dirigentes que fazem provocações.
Futebol sem xingamento é um sonho impossível. Até quem só jogou
uma "pelada" entre amigos sabe disso. Se Materazzi tivesse dito algo racista, deveria ser duramente castigado. Mas não foi o caso. Zidane, com
seu passado recheado de "ataques",
está suspenso por três jogos, mas se
aposentou. Fará três dias de serviço
comunitário, algo que já realiza há
bom tempo. O craque francês ainda
manteve sua Bola de Ouro, prêmio
que não deveria nem ter ganho.
A Fifa tentou ser mais justa na
eleição dos melhores da Copa, deixando jornalistas votarem até a
meia-noite. Assim, as eleições equivocadas de Ronaldo (98) e Kahn
(2002) não se repetiriam. Mas poucos votaram após a final, que acabou
pouco antes da meia-noite na Alemanha devido à prorrogação e aos
pênaltis. Zidane venceu quase como
Ronaldo e Kahn, com votos dados
antes do jogo (esperei o término da
final para escolher entre Buffon,
Cannavaro, Vieira e Zidane, mas não
tive tempo de deixar o voto na urna).
O mundo hoje reverencia Luiz Felipe Scolari e, especialmente no Brasil, onde todos conhecem até que
ponto pode chegar Felipão na busca
por um triunfo (jogar bola dentro do
campo para atrapalhar o rival ultrapassa qualquer limite), ele posa como o treinador ideal, o que vence a
qualquer custo, no grito. Até porque
a Holanda do refinado Van Basten
apelou tanto quanto Portugal na batalha das oitavas em que fair play virou piada. Aliás, sabia que o Brasil
ganhou o Troféu Fair Play da Copa?
FOI ELE QUE ME BATEU
O River Plate deveria pegar belo
"gancho" de disputas internacionais. Além do "comportamento" da
"torcida", que se acostumou a bater
nos policiais de outros países, envolveu-se em escândalo de compra
de juiz na semifinal da Libertadores-05. Pela selvageria contra o Libertad, levou da Conmebol só uma
multa de US$ 30 mil. Vai "com tudo" agora na Copa Sul-Americana.
FOI ELE QUE SE ADIANTOU
Rogério encarna tanto o espírito
da Libertadores que se adiantou escandalosamente em pênalti contra
o Estudiantes. Disse que o goleiro
rival fez o mesmo. Certo, mas o Estudiantes, mais sujo time da história do torneio, saiu do Morumbi
(caótico antes, durante e após o jogo) falando até que o São Paulo não
teve fair play ao pressionar bola devolvida após a queda de argentino.
rbueno@folhasp.com.br
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