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Ronaldinho pode dar a volta por cima
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
A Jovem Pan fez uma pesquisa com seus ouvintes para saber se a turma ainda considera
Ronaldinho o melhor jogador
do mundo. Deu 80% não, apesar de nosso menino-artilheiro
ter sido eleito o centroavante
da Copa pela imprensa especializada de todo o mundo.
Claro que Ronaldinho não
foi, na Copa, aquele implacável goleador que foi na Holanda, na Espanha e tem sido na
Itália. Mas, se não houvesse
em torno dele tamanha expectativa -o que era natural-,
sua participação na competição vista sob a lupa mais detalhista não foi tão ruim assim:
fez quatro gols, deu duas assistências e, com exceção da final, atirou-se ao jogo com empenho e denodo, ainda que baleado nos joelhos, no tornozelo
e na alma.
A propósito, lembrei-me da
imagem que ficou do mestre
Didi, logo depois da Copa de
54: covarde, cai-cai, como se
estigmatizava o atleta que, por
medo de enfrentar a realidade,
vivia caindo em campo etc.
Pois Didi acabou sendo o
grande maestro da sinfônica
que nos trouxe o primeiro e o
segundo caneco. E a imagem
que ficou do Didi de 58 não foi
a do craque refinado, lançando bolas envoltas em pura magia para Pelé, Garrincha ou
Vavá, mas a do chefe negro, altivo, decidido, que foi colher a
bola nas redes de Gilmar, após
o primeiro gol da Suécia, colocou-a sob o braço e conduziu a
tropa à reação irresistível.
E Gérson, em 66? Houve
quem dissesse que havia engolido pasta de dente para causar o desarranjo intestinal que
o aliviaria de entrar em campo
no instante em que a vaca caminhava célere para o brejo.
Quatro anos depois, Gérson
acabaria sendo aclamado como o grande condutor do Brasil na conquista do tri.
Se embarcarmos na máquina do tempo e emergirmos em
38, lá estará Leônidas da Silva,
o Diamante Negro, o Homem-de-Borracha, artilheiro
da Copa, sendo execrado em
praça pública, ao som de Carinhoso. Simplesmente porque
nossa maior estrela havia se
arrebentado em duas ferozes
batalhas, no prazo de 48 horas,
contra a Tchecoslováquia (para o segundo jogo, o técnico Pimenta escalou o time reserva
inteiro com apenas Leônidas
dos titulares), e não pôde
atuar contra a Itália.
Perdemos, e o povo saiu dizendo que Leônidas havia sido
subornado pelo ouro de Mussollini. Leônidas voltou contra
a Suécia, pelo terceiro lugar,
fez gol e tal e cousa e lousa e
maripousa, mas varou a década de 40 com o joelho estropiado, até se aposentar em 50.
Resumindo: Ronaldinho, se
bem tratado de seus problemas
físicos (os espirituais, ele que
trate de resolver), tem tudo para dar a volta por cima, logo
ali, na primeira esquina.
Mais estúpido do que quem
escreveu aquelas besteiras na
Internet, segundo as quais a
seleção teria sido vendida aos
franceses, é quem sequer leve
tais cretinices em conta.
O caso do Peru, em 78, foi inteiramente diferente. A condição econômica daquele pessoal era outra, e o cambalacho
foi logo detonado, ao fim do
jogo, pela própria imprensa
peruana, ainda no estádio. Na
sequência, alguns jogadores
confirmaram a mutreta, e
muitos foram punidos pela Federação Peruana.
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas-feiras
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