São Paulo, quarta, 22 de julho de 1998

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Ronaldinho pode dar a volta por cima

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

A Jovem Pan fez uma pesquisa com seus ouvintes para saber se a turma ainda considera Ronaldinho o melhor jogador do mundo. Deu 80% não, apesar de nosso menino-artilheiro ter sido eleito o centroavante da Copa pela imprensa especializada de todo o mundo.
Claro que Ronaldinho não foi, na Copa, aquele implacável goleador que foi na Holanda, na Espanha e tem sido na Itália. Mas, se não houvesse em torno dele tamanha expectativa -o que era natural-, sua participação na competição vista sob a lupa mais detalhista não foi tão ruim assim: fez quatro gols, deu duas assistências e, com exceção da final, atirou-se ao jogo com empenho e denodo, ainda que baleado nos joelhos, no tornozelo e na alma.
A propósito, lembrei-me da imagem que ficou do mestre Didi, logo depois da Copa de 54: covarde, cai-cai, como se estigmatizava o atleta que, por medo de enfrentar a realidade, vivia caindo em campo etc.
Pois Didi acabou sendo o grande maestro da sinfônica que nos trouxe o primeiro e o segundo caneco. E a imagem que ficou do Didi de 58 não foi a do craque refinado, lançando bolas envoltas em pura magia para Pelé, Garrincha ou Vavá, mas a do chefe negro, altivo, decidido, que foi colher a bola nas redes de Gilmar, após o primeiro gol da Suécia, colocou-a sob o braço e conduziu a tropa à reação irresistível.
E Gérson, em 66? Houve quem dissesse que havia engolido pasta de dente para causar o desarranjo intestinal que o aliviaria de entrar em campo no instante em que a vaca caminhava célere para o brejo.
Quatro anos depois, Gérson acabaria sendo aclamado como o grande condutor do Brasil na conquista do tri.
Se embarcarmos na máquina do tempo e emergirmos em 38, lá estará Leônidas da Silva, o Diamante Negro, o Homem-de-Borracha, artilheiro da Copa, sendo execrado em praça pública, ao som de Carinhoso. Simplesmente porque nossa maior estrela havia se arrebentado em duas ferozes batalhas, no prazo de 48 horas, contra a Tchecoslováquia (para o segundo jogo, o técnico Pimenta escalou o time reserva inteiro com apenas Leônidas dos titulares), e não pôde atuar contra a Itália.
Perdemos, e o povo saiu dizendo que Leônidas havia sido subornado pelo ouro de Mussollini. Leônidas voltou contra a Suécia, pelo terceiro lugar, fez gol e tal e cousa e lousa e maripousa, mas varou a década de 40 com o joelho estropiado, até se aposentar em 50.
Resumindo: Ronaldinho, se bem tratado de seus problemas físicos (os espirituais, ele que trate de resolver), tem tudo para dar a volta por cima, logo ali, na primeira esquina.

Mais estúpido do que quem escreveu aquelas besteiras na Internet, segundo as quais a seleção teria sido vendida aos franceses, é quem sequer leve tais cretinices em conta.
O caso do Peru, em 78, foi inteiramente diferente. A condição econômica daquele pessoal era outra, e o cambalacho foi logo detonado, ao fim do jogo, pela própria imprensa peruana, ainda no estádio. Na sequência, alguns jogadores confirmaram a mutreta, e muitos foram punidos pela Federação Peruana.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas-feiras


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