São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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TOSTÃO

Eternas dúvidas


A permanência de Neymar será ótima para o futebol nacional. E para o jogador? Parece que sim


Neymar continua no Santos. Poderemos admirar e acompanhar mais de perto seu enorme talento. Será ótimo para o Santos, para o torcedor, para a imprensa e para o futebol brasileiro.
É preciso discutir, do ponto de vista técnico, se será bom para o jogador. Parece que sim. Mas não há certeza disso.
Escrevi na coluna anterior que a experiência de um jogador não serve para outro e que costumamos ter dúvidas, profissionais e pessoais, quando tomamos certas decisões. Só os medíocres não têm dúvidas.
Há inúmeros motivos para Neymar não sair agora do Santos, como os de que ele só tem 18 anos, de que precisa evoluir na parte técnica, tática, física e emocional e de que poderá não se adaptar e ser reserva do Chelsea.
Dizer que Neymar precisa ir para a Inglaterra para melhorar na parte tática é um conceito ultrapassado. Os técnicos brasileiros estão no mesmo nível dos da Europa. Tudo isso é racional, previsível, mas não seria surpresa se ocorresse de outro jeito. Ter 18 ou 20 anos faz pouca diferença. Neymar poderia evoluir profissionalmente na Europa mais que aqui, gostar da Inglaterra, aprender rapidamente a língua e conhecer penteados mais exóticos.
Poderia brilhar e ser logo uma estrela mundial, como Kaká foi no Milan. Neymar jogaria em um dos três melhores times do mundo.
Hoje, o futebol brasileiro é muito mais faltoso, físico e violento que o da Europa. Os gramados são também muito piores.
Neymar, antes de ser destaque da seleção em vários jogos importantes, já é uma celebridade. Só falta aparecer na revista "Caras" com outra celebridade. Ele já é antes de ser. É a espetacularização do fato, característica da sociedade atual.
O ser humano está sempre atrás de certezas, de explicações definitivas e do milagre, que deem sentido à vida. Pessoas, travestidas de sábias, explicam tudo, desde as coisas óbvias e banais até as eternas dúvidas existenciais. Alguns falam, e a maioria repete.
Quem pensa diferente é, no mínimo, visto com estranheza, ainda mais se não fizer parte da mesma patota. No futebol, é a mesma coisa.
Contardo Calligaris escreveu nesta Folha na última quinta-feira: "Quando a mídia é de massa, não há mais diferença entre manipuladores e manipulados, pois os próprios manipuladores, expostos à mídia, são manipulados por suas produções. Ou seja, progressivamente, todo o mundo pensa as mesmas trivialidades".


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