São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Quando 5 é 10


Um bom par de volantes é o ponto exato onde termina o ataque da equipe adversária e começa o do próprio time

COMO HOJE em dia nossos dez são nota cinco, os cincos valem o dobro.
Creio que nem os mais saudosistas e puristas discordam: ter bons volantes é fundamental. O nome já diz tudo. Eles é que dirigem o time.
Um bom volante é como aquela última engrenagem do relógio que o faz funcionar, é como a peça do quebra-cabeça que esclarece o desenho, é como aquela carta encaixada que transforma duas trincas bobas numa canastra real.
Por que o São Paulo se recuperou e está na vice-liderança do Brasileiro? Por vários motivos, mas principalmente porque Hernanes e Richarlyson voltaram a jogar bem.
Aliás, o clube do Morumbi sempre se apoiou em bons volantes, e o torcedor são-paulino ainda se lembra com suspiros de Mineiro e Josué.
Um bom par de volantes é o ponto onde termina o ataque adversário e começa o do próprio time. Um lançamento perfeito ou um passe inteligente dado por eles é uma conquista de muitos metros na batalha campal que é um jogo de futebol. E, às vezes, eles ainda avançam e marcam seus gols. Quereis exemplos? Dou-vos vários e recentes: Neste sábado, o Inter (sem o volante Magrão) perdeu para o Vitória.
Quem abriu o placar? O volante Uelliton. No domingo, o flamenguista Willians deixou de chutar os adversários e chutou a bola, fazendo um golaço. E Léo Gago, do Avaí, marcou um gol daqueles que dá vontade de emoldurar e botar na parede.
Um time sem bons volantes é como um corpo sem cabeça, como um cavalo de olhos vendados. Antigamente eles faziam faltas, hoje fazem falta. Quem não tem bons volantes sabe o que é ver sua defesa desprotegida, e a saída para o ataque, lenta e sem imaginação. Não é à toa que palmeirenses já acendem velas para que Pierre volte, e corintianos choraram ao se despedir de Cristian.
Atualmente eles organizam o time. Maldonado mudou a cara do Flamengo. Emerson, se recuperar a forma, pode levar o Santos a ser um time eficiente. E Ricardinho, que é um meia com ares de volante, pode ser o homem que falta para o Galo.
Certa vez entrevistei o craque Zizinho em sua casa, em Niterói. Apaixonado por futebol, sua mesa estava cheia de papéis com desenhos dos mais variados esquemas táticos. E lembro que ele me disse com certa indignação: "Não entendo como colocam grossos para jogar de volante. O volante tem que ser o craque do time. É lá que começa tudo".
Há pouco tempo, os cincos eram apenas carregadores de piano. Desafortunados por natureza, tinham por missão quebrar os rivais mais talentosos. Mas isso mudou. O volante agora não pode mais ser um jogador nota cinco. Ele tem que saber passar, chutar, lançar e, até, pensar.
Talvez, no futuro, tenhamos quatro volantes no meio. Ou melhor, quatro "armantes", mistura de armadores com volantes. Já temos alguns bons jogadores assim no exterior, como Pirlo e Xavi. E também há bons produtos nacionais, como Elano, Hernanes, Júlio Baptista e Ramires, herdeiros da linhagem à qual pertencem Cerezo e Carpegiani.
Falando em passado, quando eu era criança sempre me botavam para jogar de volante, pois eu corria muito e jogava pouco. Hoje, nem para isso eu serviria.

torero@uol.com.br


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