|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para petista, presidente da CBF simboliza modelo superado; para tucano, dirigente tem méritos
Teixeira divide Lula e Serra
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
De nada adiantou Ricardo Teixeira declarar voto em Luiz Inácio
Lula da Silva ainda no primeiro
turno das eleições presidenciais.
O presidente da Confederação
Brasileira de Futebol, que repetirá
o voto no petista no segundo turno e já avisou que não votaria jamais em José Serra, 60, foi "bombardeado" por Lula em entrevista
à Folha. Mais: sua gestão à frente
da entidade deve ser um dos alvos
de um eventual governo do PT.
O tucano, pelo contrário, poupou Teixeira de críticas e louvou
seu trabalho com o futebol, elogiando-o, em especial, pelas conquistas internacionais da seleção.
Para Lula, "Ricardo Teixeira
simboliza um tipo de gestor do esporte que está superado". "É o
tradicional cartola. O fato de terem ocorrido conquistas no período em que presidiu a CBF, como as Copas de 1994 e 2002 e o
Pré-Olímpico, não é suficiente para fazer um balanço positivo. Até
porque essas conquistas foram
dos atletas, dentro de campo."
E o petista vai ainda mais longe.
"Há uma grave crise ética no futebol. As CPIs apontaram uma série
de problemas na CBF. Espero que
sejam tomadas as providências de
acordo com a lei."
Na opinião de Serra, apesar das
críticas que recebeu de Teixeira,
para quem o tucano representa
um governo que "usou o futebol
como cortina de fumaça para esconder a própria incompetência
[por incentivar as CPIs que investigaram o esporte]", o presidente
da CBF tem as suas qualidades.
"Mostrou que tem competência
para delegar poderes, no âmbito
estritamente esportivo, aos seus
auxiliares diretos", disse o candidato do PSDB à Folha. ""As conquistas do tetracampeonato, em
94, e do pentacampeonato, neste
ano, atestam sua habilidade."
Medida provisória
Quanto à sua atuação como gestor da entidade máxima do futebol brasileiro, alvo de uma série
de acusações das CPIs, entre as
quais apropriação indébita, evasão de divisas, sonegação fiscal e
lavagem de dinheiro, disse que
deixa ao exame do Ministério Público e do Poder Judiciário.
Para Serra, "o futebol brasileiro
tem grandes virtudes, excelentes
jogadores e milhões de torcedores". Mas "também tem graves
problemas". "Os clubes sofrem
com a baixa capacidade gerencial
de seus dirigentes e enfrentam dívidas fiscais e trabalhistas."
Como solução, diz que "é urgente adequar o esporte aos novos tempos, fazê-lo funcionar como as grandes empresas, de maneira transparente, pela publicação de balanços, e submetendo-se
à fiscalização dos órgãos reguladores e da sociedade".
Elogiou ainda a chamada "MP
da Moralização", editada em junho por FHC, mas que o próprio
governo já admite que não deve ir
à votação neste ano.
Pela medida provisória, os clubes de futebol e as entidades desportivas profissionais de todas as
modalidades são obrigados a se
transformar em empresas e os dirigentes são responsabilizados
pelos atos de improbidade administrativa que venham a cometer.
Para Serra, ela teria de ser aprovada -e logo. ""Os países desenvolvidos já adotam diplomas semelhantes, destacando-se a legislação esportiva da Espanha, seguramente uma das melhores do
mundo, que introduziu a figura
das sociedades anônimas desportivas para poder sanear o ambiente esportivo do país."
Já Lula, quando o assunto é a
obrigatoriedade de os clubes brasileiros transformarem seus departamentos de futebol em empresas, é mais brando.
O petista acha que poderia, em
tese, ser algo benéfico aos clubes,
mas entende "que deveria [a
transformação em empresa] ser
induzida por meio de incentivos".
"No fim das contas, os clubes
iriam aderir voluntariamente. Isso evitaria batalhas judiciais."
Dívidas dos clubes
Serra e Lula divergem ainda
quanto a um possível financiamento do governo ou uma espécie de anistia fiscal para os clubes
saldarem pelo menos parte de
suas dívidas antes de entrarem na
"fase do futebol-empresa".
O candidato do governo não
poupa elogios ao trabalho de José
Luiz Portella, secretário-executivo do Ministério do Esporte e Turismo, que coordenou um grupo
multidisciplinar de trabalho para
apresentar propostas que promovessem mudanças no futebol.
"O objetivo é implantar um plano de resgate e de investimento
para clubes e federações e também de estrutura física, enfocando a modernização de arenas, estádios e centros de treinamento."
Segundo o tucano, "quer-se,
com isso, resolver os problemas
imediatos -fiscais, trabalhistas e
de formatação societária [dos clubes]- e readequar os estádios."
Lula, por sua vez, não abre mão.
Acha que, se os clubes estão com
problemas financeiros e estádios
caindo aos pedaços, não se trata
de um problema do Estado.
"Se algum clube está atolado
em dívidas trabalhistas é porque
houve uma má gestão. A preocupação deveria ser com o trabalhador que não recebeu. Nem todo
mundo é o Ronaldo ou o Romário. As pessoas se enganam ao
achar que a classe dos jogadores
de futebol é privilegiada. A maioria ganha um salário mínimo."
E continua: "Se as dívidas são
em virtude de contratos milionários com os jogadores de elite, o
clube falhou no planejamento.
Deveria ter previsto seus gastos
de acordo com a arrecadação de
bilheteria, patrocínio e televisão.
O ônus da má gestão não pode recair sobre o trabalhador".
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Presidenciáveis frequentam estádios Índice
|