São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para petista, presidente da CBF simboliza modelo superado; para tucano, dirigente tem méritos

Teixeira divide Lula e Serra

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

De nada adiantou Ricardo Teixeira declarar voto em Luiz Inácio Lula da Silva ainda no primeiro turno das eleições presidenciais.
O presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que repetirá o voto no petista no segundo turno e já avisou que não votaria jamais em José Serra, 60, foi "bombardeado" por Lula em entrevista à Folha. Mais: sua gestão à frente da entidade deve ser um dos alvos de um eventual governo do PT.
O tucano, pelo contrário, poupou Teixeira de críticas e louvou seu trabalho com o futebol, elogiando-o, em especial, pelas conquistas internacionais da seleção.
Para Lula, "Ricardo Teixeira simboliza um tipo de gestor do esporte que está superado". "É o tradicional cartola. O fato de terem ocorrido conquistas no período em que presidiu a CBF, como as Copas de 1994 e 2002 e o Pré-Olímpico, não é suficiente para fazer um balanço positivo. Até porque essas conquistas foram dos atletas, dentro de campo."
E o petista vai ainda mais longe. "Há uma grave crise ética no futebol. As CPIs apontaram uma série de problemas na CBF. Espero que sejam tomadas as providências de acordo com a lei."
Na opinião de Serra, apesar das críticas que recebeu de Teixeira, para quem o tucano representa um governo que "usou o futebol como cortina de fumaça para esconder a própria incompetência [por incentivar as CPIs que investigaram o esporte]", o presidente da CBF tem as suas qualidades.
"Mostrou que tem competência para delegar poderes, no âmbito estritamente esportivo, aos seus auxiliares diretos", disse o candidato do PSDB à Folha. ""As conquistas do tetracampeonato, em 94, e do pentacampeonato, neste ano, atestam sua habilidade."

Medida provisória
Quanto à sua atuação como gestor da entidade máxima do futebol brasileiro, alvo de uma série de acusações das CPIs, entre as quais apropriação indébita, evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, disse que deixa ao exame do Ministério Público e do Poder Judiciário.
Para Serra, "o futebol brasileiro tem grandes virtudes, excelentes jogadores e milhões de torcedores". Mas "também tem graves problemas". "Os clubes sofrem com a baixa capacidade gerencial de seus dirigentes e enfrentam dívidas fiscais e trabalhistas."
Como solução, diz que "é urgente adequar o esporte aos novos tempos, fazê-lo funcionar como as grandes empresas, de maneira transparente, pela publicação de balanços, e submetendo-se à fiscalização dos órgãos reguladores e da sociedade".
Elogiou ainda a chamada "MP da Moralização", editada em junho por FHC, mas que o próprio governo já admite que não deve ir à votação neste ano.
Pela medida provisória, os clubes de futebol e as entidades desportivas profissionais de todas as modalidades são obrigados a se transformar em empresas e os dirigentes são responsabilizados pelos atos de improbidade administrativa que venham a cometer.
Para Serra, ela teria de ser aprovada -e logo. ""Os países desenvolvidos já adotam diplomas semelhantes, destacando-se a legislação esportiva da Espanha, seguramente uma das melhores do mundo, que introduziu a figura das sociedades anônimas desportivas para poder sanear o ambiente esportivo do país."
Já Lula, quando o assunto é a obrigatoriedade de os clubes brasileiros transformarem seus departamentos de futebol em empresas, é mais brando.
O petista acha que poderia, em tese, ser algo benéfico aos clubes, mas entende "que deveria [a transformação em empresa] ser induzida por meio de incentivos". "No fim das contas, os clubes iriam aderir voluntariamente. Isso evitaria batalhas judiciais."

Dívidas dos clubes
Serra e Lula divergem ainda quanto a um possível financiamento do governo ou uma espécie de anistia fiscal para os clubes saldarem pelo menos parte de suas dívidas antes de entrarem na "fase do futebol-empresa".
O candidato do governo não poupa elogios ao trabalho de José Luiz Portella, secretário-executivo do Ministério do Esporte e Turismo, que coordenou um grupo multidisciplinar de trabalho para apresentar propostas que promovessem mudanças no futebol.
"O objetivo é implantar um plano de resgate e de investimento para clubes e federações e também de estrutura física, enfocando a modernização de arenas, estádios e centros de treinamento."
Segundo o tucano, "quer-se, com isso, resolver os problemas imediatos -fiscais, trabalhistas e de formatação societária [dos clubes]- e readequar os estádios."
Lula, por sua vez, não abre mão. Acha que, se os clubes estão com problemas financeiros e estádios caindo aos pedaços, não se trata de um problema do Estado.
"Se algum clube está atolado em dívidas trabalhistas é porque houve uma má gestão. A preocupação deveria ser com o trabalhador que não recebeu. Nem todo mundo é o Ronaldo ou o Romário. As pessoas se enganam ao achar que a classe dos jogadores de futebol é privilegiada. A maioria ganha um salário mínimo."
E continua: "Se as dívidas são em virtude de contratos milionários com os jogadores de elite, o clube falhou no planejamento. Deveria ter previsto seus gastos de acordo com a arrecadação de bilheteria, patrocínio e televisão. O ônus da má gestão não pode recair sobre o trabalhador".


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Presidenciáveis frequentam estádios
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.