São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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JUCA KFOURI

@ Juca Kouri

Pela refundação do Corinthians


Inútil esperar que se chegue ao fundo do poço. Mesmo porque o poço corintiano parece mesmo não ter fundo
SE ATÉ no PT, que é jovem, há quem fale em refundar o partido, por que não no Corinthians, a menos de quatro anos de virar centenário?
Afinal, a desgraça de ambos tem a mesma origem, o dinheiro sujo e não sabido.
Quem sabe se não seria a solução, ao retirar pelo menos o futebol, que é o que interessa, das mãos que o usurpam há tanto tempo?
E, para tal, não é preciso esperar que o time caia para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Há quem veja na hipótese da queda a saída, um pouco na base do quanto pior melhor, o que, cá entre nós, nunca resolveu nada.
Basta verificar o que houve com outros grandes que caíram.
Palmeiras e Fluminense, por exemplo, estão aí, à beira de nova catástrofe, embora Grêmio, principalmente, e Botafogo pareçam ter aprendido algo de útil com a experiência traumática.
Mas que ninguém se iluda com a solidariedade da torcida quando a queda vem, como acontece, agora, com a do Galo.
O respaldo não se mantém quando a volta é obtida, salvo, outra vez, o caso do Grêmio, que mais parece exceção do que regra.
O inegável é que o Corinthians precisa reatar as ligações com a sua gente mais desinteressada -e apaixonada pelo clube. Aquela que não quer nada do time do Parque São Jorge, a não ser a alegria de um futebol jogado com fervor e magia.
Coisa que a parceria com a MSI enterrou na perda total de vínculos, a ponto de um dos cartolas que a apoiaram, e que hoje se apresenta como integrante da "oposição", ter dito que corintiano andava de Mercedes-Benz, e os colorados, de ônibus, numa total inversão dos papéis que, historicamente, caracterizaram a massa alvinegra.
Nada mais impróprio ao Corinthians do que ser identificado com um playboy, com mafiosos, com cartolas senis ou emergentes, que rigorosamente nada têm a ver com a generosa idéia de que todo time tem uma torcida, menos o Corinthians, que é uma torcida que tem um time -cunhada pelo saudoso jornalista José Roberto de Aquino.
O Corinthians não tem nada a ver, também, com aproveitadores de ocasião, que a cada desemprego se aboletam nos corredores do Parque São Jorge, uns atrás de quaisquer migalhas, outros, megalomaníacos, em busca da construção do estádio, fonte de comissões inesgotáveis e suspeitas.
Quem cometeu o crime de apoiar a parceria não pode ficar impune nem se escudar em argumentos oportunistas do tipo que era um mal necessário.
Já bastam os mercadores de notícias que a defenderam por agitar o futebol, canastrões folclóricos e sensacionalistas que se divertem até com funerais.
O Corinthians é a segunda paixão mais popular do Brasil, a primeira numa só região, por acaso a mais rica do país, e precisa mesmo ser refundado em nome de suas melhores e maiores tradições.
Uma torcida que jejuou por 22 anos e só fez crescer; uma torcida que transformou a via Dutra em avenida Corinthians 30 anos atrás para dividir o Maracanã com a do adversário; uma torcida, enfim, que tem um time não pode ver anestesiada a destruição pura e simples, com direito ao vexame dos interrogatórios policiais, dos seus sonhos mais bonitos.
Urge refundar o Corinthians.
Como?
A coluna adoraria saber.
Mas acredita na capacidade criadora da torcida e em que dentro dela possa estar a resposta.
Porque há tantos malfeitores dispostos a afundar o Corinthians que não é possível que não haja gente de bem para refundá-lo.

blogdojuca@uol.com.br


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