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America's Cup encara "tapetão de 120 anos"
Imbróglio opõe milionários e envolve
taça da regata mais tradicional da Terra
Caso, que será julgado em
Nova York, avalia se o atual
campeão, o Alinghi, burlou
normas do "Deed of Gift",
documento escrito em 1887
ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um documento que repousava há 120 anos num arquivo da
Suprema Corte do Estado de
Nova York estará a partir de
hoje no centro de uma discussão que envolve vaidade, bilhões e um troféu esportivo.
O tribunal terá de decidir se o
barco suíço Alinghi, atual bicampeão da America's Cup
(principal prova da vela), violou
os termos do "Deed of Gift"
-texto de duas páginas escrito
em 24 de outubro de 1887 e que
regulamenta a tradicional regata, realizada desde 1851.
Quem quer saber é o bilionário do software Larry Ellison,
63, que já torrou mais de US$
300 milhões em duas fracassadas campanhas da equipe norte-americana Oracle para conquistar a cobiçada taça.
Inconformado com as regras
estipuladas pelos suíços para a
edição 2009 do evento, o 33º da
história, Ellison bateu o pé e recusou todas as tentativas de
conciliação amigável. O caso
parou em Nova York porque foi
ali que George Lee Schuyler
-autor do "Deed of Gift"- depositou o documento.
A substituição do mar pelo
tapetão agitou o glamouroso
mundo da competição oceânica mais importante do mundo.
E colocou em evidência outro
contumaz colecionador de dinheiro: Ernesto Bertarelli, 42,
herdeiro de um império da biotecnologia. É Bertarelli o magnata que banca o Alinghi.
Mas não é só Ellison que
questiona a bula apresentada
pelo Alinghi para a defesa do título -conquistado em julho
deste ano na cidade espanhola
de Valencia. Outros cinco adversários protestaram por ocasião da divulgação das regras, e
o bicampeão foi forçado a fazer
um "recall" do regulamento.
A reunião, no mês passado,
não contou com nenhum representante do Oracle. Ao final,
o Alinghi divulgava um comunicado afirmando que "todas as
demandas" das embarcações
rivais haviam sido contempladas. O Oracle considerou a reforma "cosmética" e deu o sinal
verde para o processo judicial.
O direito de ditar as regras
em diversos aspectos da America's Cup é prerrogativa do campeão, segundo o próprio "Deed
of Gift". O dono da taça escolhe
local, época, dimensão dos barcos, ordem de desafiantes,
composição da corte de apelações. Um festival de vantagens.
A questão é se o Alinghi, embevecido pelo poder, não avançou o sinal, burlando normas
que Schuyler escreveu três
anos antes de morrer.
A escolha do desafiante oficial (todos os outros competidores, na verdade, desafiam o
desafiante, numa eliminatória)
é, na visão dos advogados de
Ellison, a principal irregularidade cometida pelo Alinghi.
O "Deed of Gift" diz explicitamente que os barcos que desafiam o campeão têm de ser de
iates clubes que promovem regatas anualmente. Não é o caso
do Desafio Español, equipe
criada em Valencia para acompanhar a marina construída
por 2 bilhões em recursos
públicos. A cidade estima retorno três vezes maior nos próximos oito anos.
Há também questionamentos técnicos. A revista eletrônica "Sail World" teve acesso à ficha de inscrição dos espanhóis
na sexta-feira e revelou discrepâncias em vários parâmetros
da embarcação registrada.
Ellison e Bertarelli têm dinheiro de sobra para gastar
com advogados. A liturgia jurídica agora deve obrigar os organizadores a suspender a edição
2009. A AC Management, responsável pelo evento, já fala até
em 2011 como data mais provável para o novo encontro entre
os bilionários da vela. Desta
vez, nos mares.
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