São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

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Investigado, Palmeiras admite falta de controle

Clube diz desconhecer a situação de todas as suas prestadoras de serviços

Cartola não sabe paradeiro de dono de firma suspeita pelo Ministério Público de emitir, em 2006, nota fria para atuar fora de sua área


EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Após um dia de silêncio, o Palmeiras falou ontem sobre contrato com a Valtec Wicom, de 2006, investigado pelo Ministério Público paulista, como revelou a Folha anteontem.
Disse não ter encontrado o dono da empresa para ajudar o clube a esclarecer o caso. E nem ter como saber da vida de suas prestadoras de serviços.
A Promotoria também não encontrou sinal do proprietário da firma, Roberto Carlos D'Almeida, o que reforçou a suspeita de emissão de nota fria em nome do clube.
Outros fatos geraram suspeitas. Pelo contrato, a empresa deveria prestar serviços de consultoria de seguros. Mas, pelo cadastro nacional de pessoa jurídica, a atividade dela é "comércio varejista especializado em equipamentos de telefonia e comunicação". E o endereço da empresa não bate.
"Se a firma não pode prestar consultoria de seguros, o problema é dela. Não temos como saber a situação de cada empresa que presta serviços para o Palmeiras", disse Antônio Carlos Corcione, assessor especial da presidência do clube.
"Um empresário de jogador está acionando o Palmeiras. Aí fui atrás da empresa dele e descobri que é de material de construção. Agora estou usando isso a nosso favor, mas a obrigação de saber essas coisas não é nossa", completou.
Escalado pela diretoria para falar sobre o assunto, ele afirmou ter obtido informações com José Cyrillo Júnior, diretor administrativo e que assinou o contrato como representante do Palmeiras, à época como vice-presidente.
"Pedi para o Cyrillo localizar o dono da empresa, e ele me disse que não conseguiu. Mas claro que essa pessoa existe, foi vista pelo Cyrillo várias vezes no clube", declarou Corcione.
Pela versão dele, D'Almeida "ajudava informalmente a resolver problemas com seguros feitos pelo clube para os jogadores". Até que a diretoria resolveu formalizar a relação e assinou o contrato.
"Não sei exatamente o que é uma consultoria de seguros, só sei que esse serviço existe. Hoje, ele é feito pela empresa de um conselheiro, de graça".
Segundo Corcione, só é possível afirmar que o Palmeiras fez um pagamento para a Valtec, em fevereiro de 2007, no valor de R$ 77.486,75.
Só que o contrato previa o pagamento de R$ 326 mil, em quatro vezes. A última parcela deveria ser quitada em dezembro de 2006. "O pagamento pode ter atrasado, isso justificaria a empresa ter recebido em 2007, após o final do contrato."
Mesmo com o pagamento feito cerca de dois meses após o término do compromisso, Corcione afirmou que a Valtec não fez o seu trabalho até o fim.
"Um conselheiro disse que o clube estava perdendo dinheiro, que sua empresa poderia fazer o mesmo trabalho de graça. Então, pelo que me falaram, pararam o acordo no meio."
A diretoria não planeja fazer uma investigação sobre o caso. "O clube tem órgãos fiscalizadores [independentes] que podem fazer isso, se acharem necessário. Se o Ministério Público concluir que o Palmeiras foi lesado, alguém tem de ser responsabilizado", disse Corcione.
A Promotoria investiga ainda suposta emissão de notas frias de 2001 a 2004, quando o presidente do Palmeiras era Mustafá Contursi -Affonso della Monica assumiu em 2006.
A apuração foi desencadeada após um ex-funcionário do departamento de vôlei afirmar existir esquema de notas frias, envolvimento de 16 dirigentes e compra de dólares e árbitros.
Os dois casos são investigados pelos mesmos promotores, que não descartam a possibilidade de o clube estar sendo lesado por um esquema de notas frias de 2001 até hoje.


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