São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

RITA SIZA

Não basta conversa


Para salvar a própria face, o presidente da Fifa precisa agir. Não dentro de dois anos, mas já

Por estes DIAS em Zurique, havia muito mais para decidir do que a distribuição dos jogos do Mundial de 2014 pelas várias cidades brasileiras. Além do calendário e da organização e de outras tantas minudências, o que estava realmente em jogo na reunião da Fifa era o próprio legado de Sepp Blatter enquanto líder do organismo que gere o futebol mundial. Algo que tem alguma coisa a ver com a Copa brasileira, mas não só -afecta o funcionamento de todo o sistema.
De forma veemente e decisiva, o presidente da Fifa precisava de tomar medidas para evitar que, inevitavelmente, falar em futebol seja equivalente a falar de corrupção, assim como, nos últimos tempos, passou a ser obrigatório falar em greves e negociações de jogadores ao discutir as ligas americanas de basquete ou beisebol ou "doping" se converteu em sinónimo de ciclismo e atletismo.
Blatter sabe que tem de agir porque, se não, ficará na história como o homem que nada fez para resolver a maior crise (de credibilidade e reputação) da história da Fifa. Até agora, o administrador suíço bem tem pregado, numa empolgada retórica de tolerância zero, em defesa da reforma e da transparência contra os privilégios e o obscurantismo vigentes no Comité Executivo.
Mas, na expressão anglo-saxónica, não basta "conversar a conversa": a acção é sempre mais explícita.
Basta pensar na sua reacção perante a sucessão de escândalos do último ano. Em investigações da imprensa ou das autoridades, vários membros do Comité Executivo da Fifa viram-se envolvidos em casos de pagamentos ilícitos, irregularidades, suborno, corrupção (entre eles, o brasileiro Ricardo Teixeira, presidente do Comité Organizador da Copa de 2014, ou o opositor da Blatter nas eleições da Fifa, Mohamed bin Hammam). Dois foram suspensos, dois preferiram demitir-se e cinco foram banidos, mas aos outros nada aconteceu.
Não estou optimista que Blatter consiga limpar a mancha da corrupção da Fifa. As suas declarações, nos primeiros dias de reunião em Zurique, foram titubeantes. As medidas que anunciou ontem, apesar de no bom sentido, pareceram-me insuficientes. A criação de "task forces" e de comités de boa governação seria uma boa ideia, se o presidente da Fifa não tivesse atirado para as calendas a implementação das reformas necessárias.
O problema de Blatter é que, para salvar a face, não lhe resta outra alternativa: ele tem de afastar todos os corruptos, tem de diluir as responsabilidades da comissão executiva e alargar a votação dos organizadores das Copas aos 208 membros do Congresso. Não dentro de dois anos, mas já.



Texto Anterior: São Paulo: Lucas descarta prioridade para Sul-Americana e prevê melhora
Próximo Texto: Thiago se consagra em noite de 2 ouros
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.