|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Entediado, Thorpe pára aos 24
Nadador que arrematou cinco ouros olímpicos e virou referência anuncia fim por falta de inspiração
Atleta segue caminho de outros astros que brilharam na juventude e deixaram piscina antes dos 25 para cuidar da vida pessoal
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ian Thorpe fez questão de
guardar o exato momento do
fim. Seu relógio marcava
14h53min na tarde do último
domingo, 19 de novembro.
Na casa onde vive, o atleta
olímpico mais premiado da
Austrália, um dos nadadores
mais laureados da história, decidiu que não disputaria mais
competições oficiais. Não sentia dores no corpo, não estava
doente nem fora de forma. Só
que, aos 24 anos, não encontrava mais motivação para perpetuar sua trajetória nas piscinas.
Ontem, em Sydney, ele convocou a imprensa para colocar
fim a meses de especulação sobre seu futuro. "Não tenho
mais o objetivo de quebrar recordes mundiais. Sei fazer isso,
mas não estou mais inspirado."
Sem disputar um torneio
desde a Olimpíada de Atenas,
em 2004, Thorpe conta que
passou a fazer um balanço de
sua vida nos últimos anos. Levou em conta os resultados que
o transformaram em lenda
-22 recordes mundiais e cinco
ouros em duas edições dos Jogos- e também a vida pessoal.
"Percebi que não tinha feito
muitas coisas que gostaria. Então é hora de deixar a natação
de lado. Pode não ser o melhor
momento para parar, mas é o
meu momento", sentencia.
Suas palavras viraram imediatamente motivo de celeuma.
Como um homem de 24 anos,
que ganha US$ 5 milhões por
ano e está em plena forma, pode dizer adeus ao esporte?
Técnicos e jornalistas chegaram a tachá-lo de "louco" e
"preguiçoso" quando ouviram
sua proposta de se dedicar a
uma carreira de ator ou de médico no futuro. O depoimento
mais contundente, porém, veio
de quem viveu tal situação.
Sua compatriota e também
nadadora Shane Gould sabe o
que Thorpe passou na tarde de
domingo. Aos 15 anos, ela ganhou três ouros na Olimpíada
de Munique-1972. Aos 16, cansada de tudo, abandonou as piscinas e passou a morar isolada
no litoral da Austrália. "É o inferno decidir parar, mas necessário. Às vezes, prosseguir no
esporte significa ignorar várias
coisas boas que a vida oferece."
Outros campeões das piscinas seguiram a mesma vereda,
como Mark Spitz, dono de sete
ouros nos mesmos Jogos de
Munique. Ele parou aos 22.
"Colocar um ponto final cedo
pode significar maturidade, e
não o contrário. O Thorpe, por
exemplo, já alcançou tudo o
que sonhava e ainda tem tempo
para aproveitar a juventude,
curtir as festas, criar uma vida
afetiva, coisas que deixou de lado enquanto treinava", explica
Márcia Pilla do Valle, especialista em psicologia esportiva.
Desde 1998, quando se tornou o mais jovem campeão
mundial da história da natação
-tinha 15 anos-, Ian James
Thorpe é apontado como fenômeno. Sua técnica refinada no
nado crawl e o fôlego que exibia
em provas de meio-fundo (em
especial nos 200 m e nos 400 m
livre) viraram referência.
O curioso é que Thorpe afirma não ter tido tempo de curtir
as façanhas. Por isso, escolheu
como primeira ação ao decidir
se aposentar uma revisão de
seus feitos por um viés diferente. O resultado o agradou.
"Competindo, eu não tinha
tempo de pensar no que eu conquistava na água. Agora, eu tenho. E estou mais orgulhoso do
que nunca do que alcancei."
Texto Anterior: Tostão: Onda da mediocridade Próximo Texto: Tênis: Federer fecha ano com vitória sobre Nadal Índice
|