São Paulo, quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Luxemburgo mata sede de poder no primeiro dia

Na volta ao Santos, técnico ostenta autonomia que não tinha no Real Madrid e fala em dispensar ídolos

Caetano Barreira/Reuters
Vanderlei Luxemburgo, durante sua apresentação no Santos


RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

MARIANA CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Minutos depois de dar sua primeira entrevista coletiva como novo técnico do Santos, Vanderlei Luxemburgo entrou com Marcelo Teixeira no gabinete do centro de treinamento que carrega a placa "sala da presidência". Foi a deixa para um conselheiro afirmar: "Eles acabaram de entrar na sala do Luxemburgo".
A brincadeira reflete o poder que o ex-técnico do Real Madrid espera ostentar no retorno ao time paulista. E ele já chegou matando a saudade de reinar, o que reclama não ter feito na Espanha.
Numa mostra do que está por vir, falou em dispensar até ídolos do clube e disse que já participa das negociações com reforços.
Para dar um exemplo de sua força, deixou Marcelo Teixeira, que estava presente, numa saia justa ao praticamente confirmar a chegada de Fábio Costa, goleiro que tem compromisso com o Corinthians até o próximo dia 31.
"Indiquei o Fábio Costa. Já telefonei para ele, vai ser mesmo o nosso goleiro", afirmou o técnico.
Teixeira, que alegou estar afônico para não dar entrevista, não confirma a chegada dele.
Costa não é o único jogador com quem Luxemburgo conversou. A diretoria também aposta nele para convencer o meia Ricardinho a renovar seu contrato.
"Essa é a diferença entre o Brasil e a Europa no futebol. Clube europeu não dá chance ao técnico de ter uma participação ativa", disse.
No Real, Luxemburgo tinha o seu trabalho vigiado pelo italiano Arrigo Sacchi, diretor de futebol. Em outra demonstração de força no Santos, o treinador falou em cortes. "Nossa função é montar a equipe, dispensar jogadores. Às vezes, dói muito tirar um atleta que tem história no clube, mas o clube é uma empresa", afirmou sem citar nomes.
A declaração parece ser um recado a Giovanni, ídolo do Santos nos anos 90 e que, em 2005, retornou à Vila Belmiro.
A diretoria santista ratifica o poder que Luxemburgo diz ter. "Vamos nos sentar com ele, ver o projeto dele e tentar contratar alguns jogadores que estão nesse projeto", afirmou Norberto Moreira da Silva, vice-presidente do Santos.
Luxemburgo diz que não se sente mais tão seduzido pela Europa e pela seleção brasileira. Por isso, planeja cumprir os seus dois anos de contrato com a equipe.
Afirmou que seu compromisso não prevê liberação sem multa caso ele seja chamado para voltar a dirigir o time nacional.
"Em relação à Europa, hoje, depois de ter ido lá pela primeira vez, não deixaria de disputar uma Libertadores, como poderia ter feito neste ano com o Santos, para treinar um time europeu", disse.
Ao ser questionado se retornou ao Brasil para realizar o sonho de voltar a treinar o Santos, Luxemburgo disse que "não tem nada a ver". "Voltei porque os caras me mandaram embora."
Ele não disfarçou seu descontentamento com o time espanhol, o qual decidiu acionar na Justiça para ser indenizado pela rescisão contratual. "Eles me mandaram embora porque não conheciam o técnico que contrataram. Tenho certeza de que superaria as dificuldades enfrentadas."
Após passar quase um ano se enrolando ao tentar falar espanhol e sendo criticado por isso, Luxemburgo se atrapalhou novamente com um idioma estrangeiro ontem, desta vez o inglês.
"Tenho certeza de que ganharia um título, a Liga [da Espanha], a Copa do Rei ou a "champinhões'", disse, escorregando ao se referir à Champions League, a Copa dos Campeões da Europa.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.