São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

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juizão

"Zidane disse que eu estava correto"

Em entrevista, Horacio Elizondo conta detalhes da final da Copa e fala sobre a carreira de árbitro, que acaba de deixar a carreira de árbitro, que acaba de deixar

Argentino afirma que teria dado vermelho a Materazzi se tivesse ouvido ofensa e que gostou mais de apitar o jogo de abertura do Mundial

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

O ex-árbitro Horacio Elizondo, 43, foi o grande homenageado anteontem no sorteio da Conmebol para a Libertadores-07. Depois da polêmica final da Copa do Mundo entre Itália e França, o argentino encerrou a carreira em jogo crucial do Apertura de seu país, Boca Juniors x Lanús. À Folha, ele falou com detalhes do lance que marcou o futebol neste ano.

 

FOLHA - No evento da Fifa com os árbitros antes da Copa, o sr. mal era procurado para falar. Agora, virou estrela. Mudou muita coisa?
HORACIO ELIZONDO
- O que mudou foi a estética, a arquitetura, porque, na essência, eu sou o mesmo. Não mudei.

FOLHA - Mas os outros mudaram em relação ao sr.?
ELIZONDO
- Tenho recebido várias homenagens e só tenho que agradecer. Recebi, por exemplo, um livro autografado e com dedicatória de Eduardo Galeano, escritor [uruguaio] que tanto admiro. Isso foi um orgulho, assim como essa bela homenagem da Confederação Sul-Americana.

FOLHA - Vê sua elogiada atuação na final da Copa do Mundo como fundamental para isso?
ELIZONDO
- A boa atuação na final da Copa não foi só minha, foi de toda uma equipe. Foi trabalho em conjunto. Eu assinalei pênalti para a França, mas quem determinou que a bola havia entrado no pênalti de Zidane foi o assistente. Quem apontou a expulsão de Zidane foi o quarto árbitro.

FOLHA - O sr. falou com Zidane depois do jogo em algum momento?
ELIZONDO
- Não. Sei que a Fifa quer reunir os envolvidos no caso e aproximar todos, mas ainda não aconteceu.

FOLHA - O que Zidane falou quando o sr. lhe mostrou o cartão vermelho na decisão?
ELIZONDO
- Ele disse que eu estava correto, que ele merecia ser expulso, mas que Materazzi o havia ofendido e merecia punição da minha parte. Perguntei o que Materazzi havia dito a ele. Porém Zidane virou as costas e foi embora.

FOLHA - Se o sr. tivesse ouvido uma provocação de Materazzi a Zidane, o teria expulsado? Não é algo que ocorre com freqüência, por exemplo, nas partidas realizadas na América do Sul?
ELIZONDO
- Se eu estivesse perto dele e ouvisse uma agressão verbal, expulsaria sim. Mas até hoje não se sabe ao certo o que ele falou, se foi uma provocação à mãe ou à irmã de Zidane, se foi outra coisa. Acontece, sim, esse tipo de coisa em jogos, e eu lhe digo que expulso por agressão verbal se a percebo.

FOLHA - O sr. ficou surpreso com a atitude de Zidane naquele momento?
ELIZONDO
- Totalmente. Mas acho que todos estão sujeitos a ter um deslize, um descontrole, como ele teve. Acontece até com os melhores, até com ele. Não é só ser inteligente. É preciso ter inteligência emocional.

FOLHA - O que acha da iniciativa de torcedores franceses de irem à Justiça para tentar invalidar a final da Copa e repeti-la porque a expulsão de Zidane teria sido decretada com base em imagem de vídeo?
ELIZONDO
- Isso não existe. Mas, se precisar ir a um tribunal depor para falar do caso, irei sem problemas. Sou a favor do vídeo só para definir casos como o da bola que quica perto da linha do gol. Poderia ser feita uma consulta rápida, e a essência do jogo não seria perdida.

FOLHA - A final da Copa foi o melhor jogo de sua carreira?
ELIZONDO
- Gostei mais do jogo de abertura da Copa [Alemanha x Costa Rica]. Mas fiz vários jogos bons, um Uruguai 3 x 3 Colômbia, pela minha atuação e pelo jogo, um Nacional 3 x 3 Santos pelo partidaço que foi, um Espanha x Áustria pelas eliminatórias européias, a final entre Internacional e São Paulo na Taça Libertadores.

FOLHA - O que mais lhe deu prazer na carreira de árbitro e o que mais lhe causou desgosto?
ELIZONDO
- O que mais gostei foi de ter me preparado bem. O que menos gostei foi da organização de uma forma geral, problemas de todo tipo, mesmo em torneios grandes, como Libertadores, Copa América. Muita coisa pode ser melhorada.

FOLHA - Como foi aquele momento da despedida na Bombonera? Não deu vontade, depois, de apitar o jogo extra do Apertura entre Boca Juniors e Estudiantes?
ELIZONDO
- Não deu. Tinha decidido já que o jogo entre Boca Juniors e Lanús seria meu último. Eu me preparei para aquilo. Procurei não pensar muito antes do jogo, pois só com ele acabado que a minha carreira se encerraria. Foi algo especial.

FOLHA - Qual é o segredo para apitar bem atualmente?
ELIZONDO
- Há basicamente três itens que você precisa cumprir para fazer uma boa arbitragem. Primeiro, é a condução do jogo, fazer os jogadores lhe respeitarem. Depois, é a parte física, na qual você precisa estar bem. Depois, em uns 300 lances, há uns três ou cinco que você precisa acertar 100%. Na Copa do Mundo da Alemanha, nos cinco jogos em que trabalhei, a minha equipe conseguiu atingir isso.


O jornalista RODRIGO BUENO viajou a convite da Toyota

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