São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

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FUTEBOL

A saudade dos Estaduais

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

O recomeço da temporada desencadeou uma surpreendente onda de nostalgia. Companheiros da melhor qualidade tecem loas aos Estaduais, esquecidos de que a torcida já os abandonou faz tempo pelo país afora.
Sim, todos nós, quarentões, cinqüentões e sessentões, muito devemos aos Estaduais e muitos de nós nos recusamos a aceitar que o tempo não pára e que o que era doce acabou-se.
Certamente o Campeonato Paulista deste ano colaborou e muito para tantos suspiros saudosos. Afinal, técnicos estelares, mais de uma dezena de novos contratados, os títulos recentes de São Paulo e Corinthians, tudo isso fez com que, apesar da fórmula ridícula que mais parece talhada para desmoralizar a essência dos pontos corridos, se atribuísse ao Estadual um charme já extinto.
Fosse um Rio-São Paulo em seu lugar e a expectativa seria a mesma, com a vantagem de que, com apenas os oito grandes do eixo, seria possível disputá-lo em pontos corridos e dois turnos, como é de lei, em apenas 14 datas -não com as demasiadas 19.
E as rivalidades que interessam estariam mantidas, não só as estaduais. Porque tanto faz como tanto fez aos corintianos ganharem ou perderem do Noroeste (e passo ao largo da infâmia que foi o jogo disputado sob o sol escaldante das 14h30, 15h30 pelo horário de verão, verdadeiro desserviço da TV, que deveria ser a principal interessada em preservá-lo, ao espetáculo do futebol). Assim como nada representa para o torcedor flamenguista vencer ou ser derrotado pelo Madureira. Diferentemente, é claro, do que ocorre quando Flamengo e Corinthians se enfrentam.
Rememorar a importância que os Estaduais já tiveram é bonito, revela sensibilidade e, sobretudo, uma inconsciente vontade de voltar à infância, mais ou menos o mesmo sentimento despertado pelo tocante documentário sobre o poeta Vinicius de Moraes, retrato de um país que não existe mais.
Fato é que os novos torcedores a cada ano mostram com mais nitidez que não estão nem aí para os Estaduais, do mesmo modo que rirão de nós, mais antigos, se dissermos a eles que avião bom era o Electra, que fazia a ponte aérea Rio-São Paulo em 50 minutos e nunca caiu em quase três décadas de bons serviços.
Sim, os modernos jatos de hoje em dia fazem o mesmo percurso em 35 minutos, embora um até já tenha caído.
Inegável que os Estaduais foram responsáveis por momentos inesquecíveis -e que nunca mais serão repetidos. A conquista corintiana de 1977, por exemplo, depois de 22 anos de jejum.
Pois imagine que o Santos chegue ao ano que vem na mesma situação (por coincidência, 1954 havia sido o ano do último título do Corinthians, do mesmo modo que 1984 foi o ano do último título santista). Por mais feliz que venha a ficar o torcedor santista em 2007, nem de longe a festa será a mesma, também porque, diferentemente do rival que não ganhara nada no período, o Santos foi bicampeão brasileiro.

Visão parcial
E, mesmo que os Estaduais do Rio e de São Paulo fossem mesmo um sucesso de público, é bom lembrar que os outros Estados brasileiros sofrem uma barbaridade com seus campeonatos, fartamente responsáveis, também, pelas crises de um Grêmio, Atlético-MG, Bahia, Vitória, Sport, Náutico etc. Tanto que a fórmula encontrada na disputa de competições regionais foi ceifada pela CBF e pela Globo Esporte, a ponto de a Justiça estar dando ganho de causa aos que se sentiram prejudicados.

Redução
Como cerveja não pode e só o guaraná não compensa, a AmBev negocia para reduzir seu contrato com a CBF. A Nestlé foi procurada para substituí-la, mas recusou.


@ - blogdojuca@uol.com.br


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