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FUTEBOL
A saudade dos Estaduais
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
O recomeço da temporada
desencadeou uma surpreendente onda de nostalgia. Companheiros da melhor qualidade tecem loas aos Estaduais, esquecidos de que a torcida já os abandonou faz tempo pelo país afora.
Sim, todos nós, quarentões, cinqüentões e sessentões, muito devemos aos Estaduais e muitos de
nós nos recusamos a aceitar que o
tempo não pára e que o que era
doce acabou-se.
Certamente o Campeonato
Paulista deste ano colaborou e
muito para tantos suspiros saudosos. Afinal, técnicos estelares,
mais de uma dezena de novos
contratados, os títulos recentes de
São Paulo e Corinthians, tudo isso fez com que, apesar da fórmula
ridícula que mais parece talhada
para desmoralizar a essência dos
pontos corridos, se atribuísse ao
Estadual um charme já extinto.
Fosse um Rio-São Paulo em seu
lugar e a expectativa seria a mesma, com a vantagem de que, com
apenas os oito grandes do eixo, seria possível disputá-lo em pontos
corridos e dois turnos, como é de
lei, em apenas 14 datas -não
com as demasiadas 19.
E as rivalidades que interessam
estariam mantidas, não só as estaduais. Porque tanto faz como
tanto fez aos corintianos ganharem ou perderem do Noroeste (e
passo ao largo da infâmia que foi
o jogo disputado sob o sol escaldante das 14h30, 15h30 pelo horário de verão, verdadeiro desserviço da TV, que deveria ser a principal interessada em preservá-lo,
ao espetáculo do futebol). Assim
como nada representa para o torcedor flamenguista vencer ou ser
derrotado pelo Madureira. Diferentemente, é claro, do que ocorre
quando Flamengo e Corinthians
se enfrentam.
Rememorar a importância que
os Estaduais já tiveram é bonito,
revela sensibilidade e, sobretudo,
uma inconsciente vontade de voltar à infância, mais ou menos o
mesmo sentimento despertado
pelo tocante documentário sobre
o poeta Vinicius de Moraes, retrato de um país que não existe mais.
Fato é que os novos torcedores a
cada ano mostram com mais nitidez que não estão nem aí para os
Estaduais, do mesmo modo que
rirão de nós, mais antigos, se dissermos a eles que avião bom era o
Electra, que fazia a ponte aérea
Rio-São Paulo em 50 minutos e
nunca caiu em quase três décadas
de bons serviços.
Sim, os modernos jatos de hoje
em dia fazem o mesmo percurso
em 35 minutos, embora um até já
tenha caído.
Inegável que os Estaduais foram responsáveis por momentos
inesquecíveis -e que nunca mais
serão repetidos. A conquista corintiana de 1977, por exemplo, depois de 22 anos de jejum.
Pois imagine que o Santos chegue ao ano que vem na mesma situação (por coincidência, 1954
havia sido o ano do último título
do Corinthians, do mesmo modo
que 1984 foi o ano do último título
santista). Por mais feliz que venha a ficar o torcedor santista em
2007, nem de longe a festa será a
mesma, também porque, diferentemente do rival que não ganhara nada no período, o Santos foi
bicampeão brasileiro.
Visão parcial
E, mesmo que os Estaduais do
Rio e de São Paulo fossem mesmo um sucesso de público, é
bom lembrar que os outros Estados brasileiros sofrem uma
barbaridade com seus campeonatos, fartamente responsáveis,
também, pelas crises de um
Grêmio, Atlético-MG, Bahia,
Vitória, Sport, Náutico etc.
Tanto que a fórmula encontrada na disputa de competições
regionais foi ceifada pela CBF e
pela Globo Esporte, a ponto de
a Justiça estar dando ganho de
causa aos que se sentiram prejudicados.
Redução
Como cerveja não pode e só o
guaraná não compensa, a AmBev negocia para reduzir seu
contrato com a CBF. A Nestlé
foi procurada para substituí-la,
mas recusou.
@ - blogdojuca@uol.com.br
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