São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Uma chance


Criada para ser escola de jovens pilotos, GP2 começa a ganhar destaque em outra seara: recuperar veteranos


O MOLEQUE arrebenta nas categorias de base. Ganha tudo. É considerado novo fenômeno, estrela em potencial, salvador da pátria, o rosto da próxima geração. Circula confiante pelo paddock. Credenciais para vencer as catracas da F-1 não faltam. É citado por Briatore, Dennis, Todt, os tubarões.
Consegue, então, uma vaga na categoria dos seus sonhos. E numa equipe de renome, com histórico bacana e promessas de volta aos bons tempos de luta pelo título mundial. Não dá certo. O motor só fuma, o engenheiro é barbeiro no acerto, os pneus não conversam com o carro, a suspensão desenhada pelo projetista-revelação revela-se, isto sim, uma porcaria. O moleque também não arrebenta como antes. O ambiente é mais hostil, o carro é diferente de tudo o que já guiou, o companheiro é uma víbora, as pistas são desconhecidas.
Então o novo fenômeno, a estrela em potencial, o salvador da pátria, o rosto da próxima geração, perde o emprego. Afinal, não mostrou ser o que parecia. E a fila corre rápido. O ano seguinte é melancólico. Sem rumo, busca uma vaga de piloto de testes, tenta descolar espaço numa prova de endurance, cogita largar tudo, voltar para a casa. Credencial para o paddock da F-1, necas. Ecclestone, Briatore, Dennis, Todt já não telefonam. E não o atendem. Salvas raríssimas exceções com toques de resgate do inferno, é o fim. Ou era.
Nesta semana, enquanto a F-1 de Hamilton, Kovalainen, Vettel e Piquet testa no Bahrein, a GP2 andou em Paul Ricard. A GP2 de Glock, Pizzonia, Pantano e Ammermüller. Os quatro últimos já estiveram na pele dos quatro primeiros. Já foram a bola da vez, mas, por alguns daqueles motivos, acabaram indo para a frigideira. Ganharam, no entanto, uma chance que as gerações anteriores não tiveram, de tentar recomeçar no quintal da categoria-mãe. A F-3000 sempre foi um lixo.
Sempre esteve defasada e, nos seus últimos anos, tornou-se feudo de meia dúzia de donos de equipes cujo único objetivo era fazer dinheiro. A GP2 não. Nasceu diferente, com propostas técnicas mais tentadoras. Em dois anos, emplacou seus campeões na F-1. E conseguiu esse efeito colateral: tornou-se alternativa hon-rosa para os antigos prodígios. Em 2004, Glock marcou ponto em sua estréia na F-1, pela Jordan.
Correu aquela prova, no Canadá, justamente no lugar de Pantano, endividado. Nos três últimos GPs de 2006, Ammermüller foi o piloto de testes da Red Bull. Aos trancos e barrancos, Pizzonia acumulou mais de uma temporada -20 GPs- com carros da Jaguar e da Willliams. Em 2007, defenderão respectivamente iSport, Campos, ART e FMSI. Lutarão pelo título. Mas, principalmente, pela chance de retornar à F-1. Seria bom para a GP2 que ao menos um deles conseguisse cumprir o caminho de volta. Mais que bom, até. Seria bonito.

JAZIDA
No primeiro dia de treinos em Paul Ricard, anteontem, Pantano foi o mais veloz, seguido por Glock e Pizzonia. Ontem, foi a vez de Lucas di Grassi liderar a folha de tempos. Na bicampeã ART, o brasileiro é fortíssimo candidato ao título.

NOVELINHA
Com pouco apelo ao público jovem-feminino, a Nascar lançará uma série de 16 livros de bolso, com histórias misturando velocidade, intriga e romance. Por essas e outras que a categoria sobra nos EUA, e os monopostos batem cabeça.

TIRO
Faltam apenas cinco dias para o fim da pré-temporada da F-1, mas ainda é difícil cravar um ou dois favoritos ao título. Mas já dá para arriscar as equipes favoritas a fiasco da temporada: Renault e Honda.

fseixas@folhasp.com.br


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