São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Boxeador repete o "sem namorar", agora por Pequim

Pedro Lima, ouro no Pan após dois meses de jejum sexual, promete abstinência de sete meses até Olimpíada chinesa

Jacigleide, namorada do atleta, diz que estratégia causou discussões, mas que nos festejos pós-medalha "um não desgrudou do outro"


EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo primeiro ouro do pugilismo nacional no Pan em 44 anos, foi preciso um jejum sexual de mais de dois meses. Por uma medalha em Pequim-08, que seria apenas a segunda do país, a promessa é de uma abstinência de até sete meses.
""A idéia é repetir o que deu certo para o Pan. Já comecei minha preparação [no fim de janeiro], e o correto é ficar "sem namorar" até os Jogos Olímpicos", diz o meio-médio Pedro Lima (até 69 quilos), 24, ao se referir à estratégia de ter ficado mais de dois meses ""sem namorar" antes de lutar no Rio.
""Acho que um mês [de jejum sexual] é o ideal", opina o técnico de Lima, Luis Carlos Dórea.
Ao ser alertado pela Folha de que faltam ainda seis meses para a Olimpíada e ser questionado como faria para suportar o jejum, Lima foi estóico. "O que eu faço é só me preocupar com o treino. Fico normal", afirmou o pugilista, lacônico. Logo depois de soltar uma risadinha, disparou: ""Se você quer coisas boas, tem que se sacrificar".
Pior para a namorada de Lima, Jacigleide dos Santos Souza, 25, que, sem ter a necessidade de subir ao ringue, precisa sofrer com os efeitos do jejum.
"É ruim, mas fazer o quê?", questiona a jovem. "Tenho consciência de que é o trabalho dele. Ele é obrigado a isso, mas que é ruim, é", admite ela.
O casal está junto há sete anos, e Jacigleide conta que a estratégia de abstinência de Lima já causou problemas.
"A gente brigou muito por conta disso antes do Pan, mas, após ele ser campeão no Rio, entendi a importância. Na comemoração, a gente não desgrudou um do outro", afirmou Jacigleide, informando que eles pretendem se casar após a Olimpíada de Pequim.
No boxe, existe o credo de que a abstinência sexual tem efeito positivo direto sobre a performance dos lutadores.
Mais do que defensor, Muhammad Ali foi um adepto da prática da abstinência antes de suas lutas. Em dada oportunidade, o ex-campeão mundial dos pesados diz ter ficado sem sexo durante cerca de um ano. Sacrifício em prol do sucesso na carreira nos ringues.
Ali chegou a invocar Adolf Hitler para defender que sexo e combate não combinam. Em sua autobiografia ""The Greatest, My Own Story" (""O Maior de Todos, A Minha História"), ele argumenta que ""Hitler, por exemplo, nunca experimentou uma vida amorosa exemplar".
Outro famoso seguidor dessa prática era o folclórico peso-pesado Adilson ""Maguila" Rodrigues, que mal acabava seus combates, ganhando ou perdendo, já ia ""fazer saliência".
Antes do ""calvário" de Lima, o país fora ouro no boxe no Pan pela última vez em São Paulo-63, com Rosemiro dos Santos, Elcio Neves e Luis Cesar.
No Pan, a primeira atitude de Lima após derrotar o americano Demetrius Andrade, por um ponto de diferença, nos dez segundos finais da luta, foi desabafar sobre o sacrifício a que se submetera. ""Fiquei mais de dois meses sem namorar, mas graças a Deus ganhei essa medalha", comemorou, exultante.
A abstinência do pugilista, porém, pode ser um pouco menor, já que ele ainda busca uma vaga em Pequim -terá mais duas chances, em março e abril.


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